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Ocupando os espaços de uma ATER para a agricultura familiar

Fundação Solidaridad lança publicação que revela a ausência do Estado na assistência técnica a famílias produtoras e mostra os resultados de seu modelo de ATER no Pará

Durante a apresentação do estudo, Paulo Lima enfatizou a importância da ATER para a inclusão socioeconômica da agricultura familiar e sua conscientização ambiental. Foto: Fundação Solidaridad

“A desinformação é que empobrece mais os agricultores. Quando a gente tem informação, a gente passa a sonhar mais alto, ir além». A frase é do cacauicultor Clóvis Rios, de 37 anos, morador do município de Novo Repartimento (PA), que recebeu assistência técnica da Fundação Solidaridad e hoje cultiva um cacau de excelência custeando a contratação de um serviço de assistência técnica. Sua constatação resume bem o objetivo e a motivação do estudo O vazio da ATER: Caminhos para a inclusão socioeconômica e ambiental da agricultura familiar, lançado pela Solidaridad no dia 24 de setembro, na quinta edição do Fórum Anual do Cacau, durante o Chocolat Amazônia 2022 – VII Festival Internacional do Chocolate e Cacau, realizado entre os dias 22 e 25 de setembro, em Belém do Pará.

Diante de um auditório cheio, o Gerente de Cacau e Pecuária da Fundação Solidaridad, Paulo Lima, apresentou a publicação e destacou o impacto da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) na vida das famílias produtoras. Empoderadas, elas tomam decisões, incrementam produtividade e renda e passam a ter dignidade. E com dignidade, elas estão dispostas a reduzir o desmatamento e preservar a floresta», disse.

A pesquisa traz dados sobre o modelo de ATER implementado pela Solidaridad nos últimos anos na Transamazônica paraense e que tem gerado bons resultados em termos de geração de renda, valorização do trabalho e empoderamento de produtores e produtoras rurais. Além disso, chama a atenção para a ausência do Estado em prover serviços de ATER, especialmente para a agricultura familiar, e o lugar ocupado por organizações do terceiro setor.

O estudo sintetiza, de alguma forma, tudo que a gente acredita sobre o trabalho dos produtores familiares: que o empoderamento dessas famílias pelo viés do conhecimento gera a transformação que a gente quer, tanto de melhoria dos meios de vida deles, porque vão aplicar boas práticas dos sistemas produtivos, quanto na inserção deles na preservação ambiental”, observa o Gerente dos Programas de Cacau e Pecuária da Fundação Solidaridad, Paulo Lima.

O estudo traz dados históricos sobre as políticas públicas de ATER no Brasil e revela inconstância e pouca ênfase nas famílias produtoras. Foto: Fundação Solidaridad

Como fruto do trabalho desenvolvido nos últimos anos, a publicação dá ênfase ao serviço de ATER como estratégia para o desenvolvimento territorial inclusivo e sustentável no território e quais os serviços de ATER disponíveis atualmente. Com quase 50 páginas, o estudo apresenta um histórico sobre a ATER no Brasil e discute os desafios e as oportunidades na Amazônia e no Pará. Mostra ainda os impactos da ATER na renda das famílias produtoras que, a partir do conhecimento técnico fornecido pela Solidaridad, produzem de forma ambientalmente sustentável, incrementam a renda e passam a ter a possibilidade de pagar pelo serviço de ATER.

Segundo Paulo, a publicação também tem a proposta de romper com as barreiras do conhecimento acadêmico e ser acessível para outros públicos. «Você vê conteúdos assim em publicações científicas, programas de pós-graduação em ATER, mas estudos como este, com linguagem acessível, sendo compartilhado com produtores e agentes privados, não existem. Essa construção é única, e o inovador é isso. A gente está popularizando a discussão da ATER, trazendo-a para o chão, para a realidade dos produtores», explica.

PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

O estudo destaca a importância da ATER em sensibilizar os agricultores e as agricultoras para a preservação ambiental.

O desmatamento nas áreas de agricultura familiar pode ser guiado pela pobreza. O produtor já tem uma área aberta, mas ele não tem acesso ao conhecimento e a tecnologias para fazer com que essa área seja produtiva e gere renda. Ou seja, ele não está desmatando porque não gosta da mata, mas pela necessidade. Quando você traz informação sobre a melhora da produtividade nas áreas já consolidadas, o produtor começa a aumentar a produtividade e passa a olhar a mata como um ativo e não como algo que tem que ser derrubado», afirma ele.

Paulo Lima levou para o evento a filosofia de trabalho da Solidaridad em promover uma troca de saberes entre equipe técnica e produtores rurais durante o trabalho nas propriedades. Foto: Alberto Monteiro

Ao revisitar todo o percurso de trabalho que deu origem ao estudo, Lima lembra de como a Solidaridad chegou ao território e ganhando, pouco a pouco, a confiança das famílias produtoras do assentamento Tuerê, em Novo Repartimento (PA). Hoje, esse trabalho é uma referência e serve de modelo a ser aplicado em outras localidades. “Todo esse modelo apresentado no estudo veio após entendermos as necessidades, trazermos soluções, conseguirmos financiadores externos e fazermos isso acontecer junto com os produtores. Isso trouxe respeito e uma visão muito horizontal de parceria com eles. Hoje, a gente tem um nome na região. Os produtores que não estão no projeto nos procuram para entrar”, diz, com orgulho.

DIVISOR DE ÁGUAS

Para ele, o trabalho da Solidaridad foi um divisor de águas na vida de produtores e produtoras rurais.

Eu fico muito feliz quando essas pessoas chegam e falam: ‘a realidade era uma antes de chegarmos em Novo Repartimento e hoje é outra. Sem modéstia da nossa equipe, é verdade. A gente trouxe um outro panorama, principalmente no município. Criamos um ambiente favorável, levamos indústrias para conversar…hoje a gente tem produtor fazendo cacau fino, agricultores ganhando concursos, chocolateiros querendo experimentar o chocolate do Tuerê. Isso não existia e você passa a criar uma espiral positiva», revela.

Paulo Lima enfatiza a importância da parceria que existe entre os produtores e os técnicos da Solidaridad que prestam serviços de ATER e da troca de conhecimento que faz o trabalho avançar. “Quando a gente começa um engajamento com uma comunidade, a gente não promete nada, obviamente. Prometemos trabalho conjunto, assistência técnica, conhecimento. ‘Vamos juntos?’ Essa é a proposta. É uma troca de saberes entre a nossa equipe técnica e o produtor. É incrível, não precisa de muito”, diz.

“O ganho de conhecimento é viciante. Uma vez que o produtor começa a conhecer mais sobre o solo dele, sobre o cacau, a pecuária, as tecnologias que ele pode utilizar, ele se apropria e começa a procurar por conta própria, principalmente agora com a internet. Ele tem o técnico, mas ele tem também o YouTube, tem outras pessoas mostrando, então ele agrega mais conhecimento, além do que ele já tem por ser produtor, por ter um conhecimento empírico, de observação da natureza, que é fantástico», acrescenta.

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