Diretor Regional
Em 2023, terceiro ano de trabalho do nosso plano quinquenal 2021-2025 na região latino-americana, consolidamos o modelo de agricultura climaticamente inteligente em sete países (Brasil, Colômbia, Honduras, Nicarágua, México, Peru e Paraguai) e sete cadeias produtivas (café, cacau, óleo de palma, soja, pecuária e erva-mate/chá), seja ampliando soluções comprovadas ou promovendo novos testes.
O relatório de 2023 reflete a diversidade de nossas iniciativas: a assinatura do acordo setorial de produção de banana neutra em carbono no Peru, a medição do potencial da erva-mate de baixo carbono no Brasil, melhorias no uso de resíduos pós-colheita do café que reduzem as emissões e gera fertilizantes naturais no México e no Peru e o progresso na conexão dos produtores de café e cacau na Nicarágua, na Colômbia e no Peru com os mercados de créditos de carbono são algumas de nossas ações em prol de uma agricultura mais próspera e com menos emissões.
Nossas atividades foram desenvolvidas em 12 países, com uma despesa anual de 17,7 milhões de euros em 2023 (31% superior em comparação com 2022). Conseguimos uma saudável diversificação das fontes de recursos provenientes de empresas, governos, iniciativas multilaterais e organizações sem fins lucrativos. Estamos muito gratos a todas as entidades que apoiam financeiramente os nossos escritórios na região. Já garantimos um aumento de pelo menos 24% nos aportes em 2024.
Nossas equipes contribuíram para a formação de 40.742 produtores e registraram melhorias nas práticas produtivas de 13.020 produtores, bem como 780.567 hectares manejados sob critérios de sustentabilidade. Isso é possível, entre outros motivos, pelo trabalho dedicado à melhoria da prestação de serviços aos produtores, especialmente a assistência técnica e o crédito: 27.427 produtores relataram melhorias no acesso a estes serviços.
No final de 2022, iniciamos o processo de integração dos escritórios regionais da América Central e do Sul num único escritório regional para a América Latina. Em 2023, enfrentamos esse desafio com mudanças na estrutura organizacional que nos permitem crescer e melhorar a eficiência das nossas operações.
Convidamos você a ler sobre o nosso trabalho em 2023. Estamos sempre abertos a fornecer mais informações e trabalhar com todos os interessados em encontrar soluções sustentáveis de longo prazo em benefício de produtores e trabalhadores. Que 2024 seja um ano melhor.
Restauração produtiva na Mata Atlântica
No ano passado, como parte da nossa estratégia para o desenvolvimento de uma agricultura climaticamente inteligente, destacamos o trabalho de restauração produtiva na Amazônia brasileira, realizado a partir de Sistemas Agroflorestais (SAFs) com cacau. Neste ano, queremos mostrar como essa abordagem também pode ser adaptada para a Mata Atlântica, que está entre os grandes ecossistemas da América do Sul, onde milhares de famílias agricultoras vivem e trabalham. Atualmente o bioma está bastante fragmentado e, no Brasil, apenas 10% da sua área original permanece em pé. É por essa razão que o cultivo de erva-mate, uma espécie nativa, em SAFs com outras espécies representa uma oportunidade, não somente para melhorar a produção e a resiliência das lavouras, mas também de restaurar e reconectar essa floresta tão biodiversa.
Em 2023, nosso programa de erva-mate fez grandes avanços no Norte do Rio Grande do Sul, estado que está no centro das atenções nos últimos meses devido às enchentes que deixaram mortos, centenas de feridos e muitas perdas. Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Florestas, empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, utilizamos a calculadora desenvolvida em 2022 para avaliar o balanço de carbono em sistemas agroflorestais e a pleno sol, bem como a sua viabilidade financeira. Desse modo, produtores e produtoras podem tomar decisões baseadas em informações e promover sistemas de produção mais sustentáveis e rentáveis.
Esse conhecimento foi colocado em prática por meio do projeto “Territórios da Mata”, iniciado em 2022 com o apoio de Cargill, que restaurou 190 novos hectares de Mata Atlântica.
Essas áreas são manejadas por 58 produtores que contam com o compromisso de processadoras locais em adquirir erva-mate produzida em SAFs.
Por outro lado, por meio do projeto “Aliados pelo Campo”, em parceria com a Leão Alimentos e Bebidas e a Coca-Cola Brasil, prestamos assistência técnica e oferecemos treinamentos em boas práticas a pequenos produtores de erva-mate do Alto Uruguai. O projeto contribuiu com um aumento médio de 3,15 toneladas por hectare e um adicional de R$ 4,2 mil por hectare em seu primeiro ano.
O Amazônia Connect é uma iniciativa entre a USAID, a Solidaridad, o Earth Innovation Institute, a National Wildlife Federation e a Universidade de Wisconsin-Madison. Ao final do seu primeiro ano, 1.343 produtores tinham recebido assistência técnica (20% mulheres), alcançando 32.550 hectares sob práticas agrícolas de baixo carbono.
No Brasil, a Solidaridad trabalhou com mais de 700 pequenos e médios produtores de gado para promover o pastejo rotacionado numa área de quase 24 mil hectares no estado do Pará. Essa prática contribui para aumentar a produção numa área menor, evitando o desmatamento e reduzindo o impacto no solo.
No caso do Peru, três processadoras de óleo de palma firmaram acordos de cooperação com a equipe do Amazônia Connect. A partir desses acordos, 269 produtores de palma (32% mulheres) receberam treinamento em agricultura de baixo carbono e práticas sustentáveis, que foram aplicadas em 1.565 hectares.
No Brasil, o projeto RestaurAmazônia, em parceria com o Fundo JBS pela Amazônia e Elanco Foundation, se consolidou com uma equipe de 14 técnicos de campo que forneceu assistência técnica direta a 1.277 famílias sobre melhores práticas de cultivo de cacau e criação de gado, além das formações em grupo. Com essas ações, foram alcançados mais de 30 mil hectares. Além disso, quase 550 hectares foram convertidos em sistemas agroflorestais com cacau e 255 hectares convertidos em sistemas de pastejo rotacionado.
Assim como no Brasil, a principal prática que a Solidaridad promove na Argentina em relação à pecuária regenerativa é o pastejo rotacionado, que consiste em dividir a área de pastagem em piquetes e promover a rotação do rebanho. Dessa forma, o solo pode descansar, melhorando sua saúde e possibilitando a restauração da cobertura vegetal. Esse trabalho está enquadrado na Lei Florestal argentina, que determina a existência de zonas “amarelas”, onde não é permitido o corte de árvores, mas podem ser realizadas atividades produtivas que mantenham a floresta em pé, como a produção silvipastoril.
Após dois anos de trabalho com 219 famílias, apareceram os primeiros resultados da recuperação do solo erodido. Além disso, as atividades de bem-estar animal, a melhoria da gestão sanitária do rebanho, bem como o acesso à água e aos mercados formais possibilitaram um aumento de 30% a 50% na taxa de natalidade de bezerros e de 200% na renda de produtores e produtoras.
Certificação RSPO dos primeiros grupos de pequenas e pequenos produtores independentes de palma
Em 2023, representando um avanço significativo em direção à sustentabilidade e ao comércio responsável, foram certificados os primeiros grupos de pequenas e pequenos produtores sob o padrão da Mesa Redonda de Óleo de Palma Sustentável (RSPO) na Colômbia. Essa certificação garante que o processo produtivo atenda aos mais altos requisitos de sustentabilidade exigidos internacionalmente, resultando em maior renda e menor impacto ambiental. Isso é um marco importante, pois são as grandes empresas de extração que geralmente dominam esses processos, devido aos custos e à complexidade.
O grupo “Entrepalmeros”, composto por 41 pequenos produtores de palma de San Martín, César, foi o primeiro grupo a ser certificado após mais de 3 anos de trabalho, alcançando 897 hectares de área certificada e um volume de mais de 15 mil toneladas de cachos de frutas frescas (FFB).
Além disso, no âmbito do Programa Palma Sustentável – uma iniciativa da Alicorp, Solidaridad e Nes Naturaleza – no Peru, o grupo APROMAN tornou-se a primeira organização de pequenas e pequenos produtores em Ucayali e a segunda do país a participar como membro da RSPO. O APROMAN é também um dos quatro vencedores na América Latina que receberão o fundo de US$ 90 mil da RSPO para avançar na implementação e certificação RSPO para pequenos produtores independentes.
Além disso, a Academia de Formadores de Pequenos Produtores da RSPO, após a realização de dois pilotos na Ásia, lançou seu curso “Master Trainer” no México, no qual 25 profissionais da América Latina foram credenciados como formadores para apoiar produtores independentes. Na Academia, Jorge Solano, gerente de programas no México, e Maria Goretti Esquivel, gerente do programa de palma na Colômbia, em parceria com José Alfredo Torres da ICADE, participaram como realizadores e implementadores do curso.
A Academia de Carbono é uma plataforma educacional lançada em 2023 para treinar produtores, técnicos e organizações da Colômbia, Peru e Nicarágua na implantação de SAFs que promovam a captura de CO2. Em 2023, foram treinados 293 técnicos de campo que poderão apoiar 6,5 mil produtores na obtenção de acesso a pagamentos por serviços ambientais em 2024. Além disso, a plataforma inclui outras práticas de agricultura climaticamente inteligente para que os produtores possam enfrentar os efeitos negativos das mudanças climáticas e melhorar a rentabilidade de suas colheitas.
Em 2023, após três anos de execução, foi concluída a primeira etapa da colaboração com a Cargill na Bolívia. Nessa fase, 200 produtores foram apoiados para a adoção de práticas sustentáveis sobre uma área de 21.220 hectares de plantação de soja. Somaram-se a eles mais 600 que receberam treinamento em grupo. No Paraguai, trabalhamos com 445 produtores e colaboradores de fazendas e cooperativas para alcançar quase 7 mil hectares sob manejo sustentável.
Além disso, a Solidaridad e a Cargill lançaram uma aliança global com foco em três temas principais: fortalecer os meios de subsistência dos produtores e produtoras, aumentar a adoção de práticas agrícolas climaticamente inteligentes e melhorar a conservação e o uso responsável do solo. A aliança na América Latina continua o trabalho com soja na Argentina, Bolívia e Paraguai e com óleo de palma na Colômbia.
No México, por meio da parceria com a Barry Callebaut e a Bayer, trabalhamos com 1.188 produtores das usinas de açúcar Pánuco e El Mante. Foram implantadas 100 unidades demonstrativas que integraram a sequência completa de operações da cadeia de cana-de-açúcar. Como resultado, houve um aumento de 19,7 toneladas de cana-de-açúcar por hectare.
No caso do Brasil, o projeto Elos Raízen, em parceria com a Raízen e o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), chegou ao seu décimo ano consecutivo e se tornou a parceria mais longa e sólida entre a Solidaridad e uma empresa privada. Em 2023, o programa trabalhou com 1.738 produtores, abrangendo 441 mil hectares de cana-de-açúcar, 35 usinas e 25 técnicos de campo.
Em 2023, a Unidade de Soluções Digitais da Solidaridad começou a testar abordagens para a adoção de boas práticas, fornecendo incentivos tangíveis de curto prazo com o uso de ferramentas digitais.
Em consórcio com a Aliança Internacional para a Biodiversidade e o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), no âmbito do Programa TRANSITIONS, foi desenvolvido o protótipo de uma nova ferramenta digital, denominada “Solis”. O aplicativo Solis fornece ao produtor um plano de ação elaborado em conjunto com a equipe de extensão rural e incentiva os usuários a criar e publicar seus próprios vídeos sobre boas práticas, interagir e cooperar com outros usuários, on-line e presencialmente. Isso responde a um desafio identificado pelo grupo de produtores com os quais a ferramenta foi criada: a falta de conteúdo localmente relevante sobre boas práticas. O conteúdo publicado pelos produtores é verificado por um especialista em agroecologia que atua como agente de extensão no campo e que está intimamente familiarizado com a realidade local da comunidade agrícola.
Na sequência, com o apoio do Fundo de Impacto Bonsucro, foi lançado o programa “Impulsa”. O programa é direcionado a produtores e produtoras de cana-de-açúcar do Brasil, Colômbia, Paraguai e Uruguai e conta com o apoio da Raízen, Koppert, Cenicaña e Alcoholes del Uruguay (ALUR). O projeto aproveita um aplicativo existente, o Farming Solution, que ajuda agricultores e agricultoras a autoavaliarem suas práticas, além de oferecer incentivos e recompensas.
Na Nicarágua, também foi testado um sistema de pontos de recompensa para aumentar a adoção de outro aplicativo móvel desenvolvido pela Solidaridad, o “Farm Diary”. A ferramenta permite que os produtores registrem suas atividades agrícolas e auxilia no monitoramento da adoção de boas práticas agrícolas e no cumprimento de requisitos de rastreabilidade.
Crédito mineiro empreendedor
O “Crédito Mineiro Empreendedor” é uma iniciativa pioneira que oferece financiamento à Pequena Mineração e Mineração Artesanal (MAPE), um setor tradicionalmente excluído da economia formal. Em 2023, a instituição financeira especializada em microfinanças, Los Andes, concedeu o primeiro empréstimo à Ever Quisocala, mineradora artesanal que fornece minério de ouro à Minera Orex, uma das principais mineradoras formais da região de Arequipa. Desde então, a iniciativa permitiu que 4 operações de MAPE obtivessem empréstimos num total de cerca de 100 mil soles peruanos (cerca de US$ 25 mil).
Essa iniciativa é um passo importante para a formalização da MAPE, pois facilita o acesso ao financiamento formal e abre novas oportunidades para o desenvolvimento do setor, especialmente em modelos de coexistência entre empresas mineiras formais e minas de MAPE. Em mais de dez anos, apenas 8% dos mineiros artesanais do Peru conseguiram se formalizar. Representantes da MAPE afirmam que as regulamentações atuais exigem requisitos semelhantes aos das grandes empresas de mineração, o que explica o atraso na formalização.
Em 2023, continuamos ampliando este programa que apoia o ingresso de produtores e produtoras ao mercado internacional de carbono voluntário por meio da plataforma ACORN. Os mercados voluntários de carbono são uma oportunidade para promover Sistemas Agroflorestais (SAFs) com café e cacau, cujo plantio de árvores melhora a resiliência de produtores e produtoras às mudanças climáticas.
Ao final de 2023, 32.627 pequenos produtores de café e de cacau na Colômbia, Honduras, Nicarágua e Peru estavam registrados na plataforma ACORN. Desses, 3.089 já receberam pagamento pela venda de carbono de suas lavouras.
Em alguns países, a participação das famílias na ACORN foi alcançada ensinando os jovens da comunidade a coletar dados, delimitar polígonos agrícolas e incorporar os produtores à plataforma, gerando novas competências e oportunidades.
Em muitos casos, identificar mecanismos para pagar os agricultores pela venda de créditos de carbono provou ser um desafio devido aos altos custos de transação e ao fato de que poucos produtores têm contas bancárias. Colômbia e Peru já conseguiram transpor esse obstáculo, enquanto na Nicarágua foi necessário mais tempo para remunerá-los e cumprir as leis fiscais. Isso levou à identificação de um novo parceiro que dará suporte para os pagamentos digitais e para formação em educação financeira a partir de 2024.
Na Colômbia, trabalhamos para melhorar o acesso de produtores e produtoras de óleo de palma aos financiamentos. Para isso, foi ministrada uma formação em educação financeira para mais de 1,1 mil produtores e produtoras, abordando temas básicos como o uso do dinheiro para alcançar os objetivos familiares e quais são os produtos financeiros existentes. Paralelamente, os produtores foram auxiliados na abertura de contas de poupança e aquisição de cartões de débito do Banco Agrário Rural, usando um sistema chamado “Cartão Palmeiro”. A Federação Nacional de Produtores de Palma (Fedepalma) promoveu o uso desses serviços entre seus afiliados.
No Brasil, também levamos serviços financeiros para produtores tradicionalmente excluídos. Para isso, foi elaborado um novo projeto de microcrédito para produtores de cacau e pecuaristas em colaboração com o Instituto Arapyaú, a Associação Comunitária Tabôa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O projeto, estruturado como um acordo de financiamento misto, identificou as primeiras famílias que contrairão os empréstimos e desenvolve projetos de financiamento com os produtores. O objetivo é beneficiar 100 famílias com acesso ao crédito, totalizando um investimento de R$ 3 milhões. De forma semelhante, foi lançado o projeto “Cerrado Vivo”, uma iniciativa para promover linhas de crédito sustentáveis voltadas para produtores de soja do Cerrado brasileiro, na região do Matopiba. Durante 2023, foi realizado um amplo levantamento das linhas de crédito disponíveis e seus critérios específicos.
“Emprende Pallaquera” é uma iniciativa que surgiu em 2023 com o apoio do projeto PlanetGOLD Peru do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Ministério do Meio Ambiente. O objetivo do projeto é melhorar a situação econômica das pallaqueras – mulheres dedicadas à seleção manual do ouro – por meio da criação de empreendimentos economicamente viáveis e sustentáveis. Em 2023, 80 pallaqueras receberam capacitações em educação financeira, acesso a serviços financeiros como contas de poupança e assessoria para a criação de modelos de negócios. Além disso, foi realizada a primeira competição de capital semente que premiou duas sócias com US$ 4 mil para começarem um negócio próprio.
No Peru e em Honduras, a Solidaridad se envolveu em dois projetos voltados para o empreendedorismo ligado à conservação. No Peru, foi lançado o “Projeto Manití”, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) por meio da Aliança Empresarial pela Amazônia e administrado pela Conservação Internacional. O projeto busca preservar os 15 mil hectares da floresta Manití, em Loreto, de propriedade do Grupo Palmas, identificando bionegócios rentáveis que gerem meios de subsistência dignos para as cinco comunidades que estão no entorno da floresta.
De forma semelhante, em Honduras, o projeto CONECTA + busca formar as comunidades locais em ecoturismo e comercialização de subprodutos do café e do cacau, entre outros, para preservar a biodiversidade do Parque Nacional Cerro Azul Meambar (PANACAM), do Parque Nacional Montaña de Celaque (PNMC) e do Parque Nacional Montecristo Trifinio. A iniciativa conta com o apoio da Secretaria de Recursos Naturais e Ambiente (MiAmbiente+), em conjunto com o PNUD e financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).
Na Guatemala, foi lançado o “Q’Uch”, um programa direcionado a pequenas e médias empresas (PMEs) com modelos de forte impacto social que contribuam para gerar impactos climáticos positivos nas regiões mais vulneráveis do país. Ao participar da convocatória, as PMEs podem ter acesso a um total de US$ 1 milhão por meio dos nossos parceiros (Oikocredit e Lendahand).
Seguimos avançando na inclusão de gênero em nível setorial
No âmbito do programa global “REFORCEMOS a sustentabilidade”, um marco significativo em 2023 foi a aprovação do primeiro plano de gênero para o setor da Mineração Artesanal e de Pequena Escala (MAPE) no Peru. No país andino, as mulheres representam 20% da força de trabalho estimada da MAPE. No entanto, até agora elas não foram levadas em consideração nos marcos regulatórios e nas políticas de promoção do setor. A Solidaridad facilitou o diálogo entre a Rede Nacional de Mulheres na MAPE, criada em 2022, e responsáveis pela tomada de decisões políticas do Ministério da Energia e Minas do Peru (MINEM) para analisar os principais desafios de gênero no setor e desenvolver colaborativamente um plano integral para enfrentá-los. Isso envolveu apoiar a Rede em seu esforço para sistematizar suas principais demandas e expectativas, promover reuniões de trabalho periódicas com o MINEM e monitorar a implementação de políticas com perspectiva de gênero.
N âmbito do mesmo programa, também foram conquistados vários progressos significativos na adoção de políticas de gênero no setor cafeeiro em Honduras. Em parceria com a AMUCAFE, uma rede de mulheres do café, lançamos um plano-piloto para a formalização de títulos de propriedade de 48 cefeicultoras. No país centro-americano, as mulheres do setor cafeeiro têm acesso limitado a títulos de propriedade devido a fatores sociais e culturais. Com títulos legais formais de suas terras, elas podem solicitar empréstimos bancários, comercializar seu café e ter o registro no Instituto Hondureño del Café (IHCAFE) – um requisito obrigatório para exportar e comercializar café em Honduras – e melhorar suas condições de vida.
O Parque Nacional Laguna del Tigre, na Guatemala, é a maior área úmida da Mesoamérica e está localizada na Reserva da Biosfera Maia. A área enfrenta muitas ameaças de incêndios florestais, ilegalidades na extração de madeira e na pecuária, tráfico de animais silvestres, entre outros problemas. O Projeto de Conservação da Biodiversidade no Sudeste do Parque Nacional Laguna del Tigre (PNLT), com duração de 25 anos, é resultado da parceria público-privada entre os atores executores: Wildlife Conservation Society (WCS), Conselho Nacional de Áreas Protegidas (CONAP) e principais empresas e membros da Mesa Redonda de Óleo de Palma Sustentável (RSPO): AgroAmerica, NaturAceites e Solidaridad. A iniciativa promove mecanismos de gestão e investimento com uma abordagem de manejo integrado das paisagens, alinhada com a estratégia nacional para a diversidade biológica.
Em 2023, foram conservados 4.369 hectares com patrulhas de controle e vigilância realizadas pelas comunidades e guardas florestais. Além disso, foi realizado monitoramento da biodiversidade das principais espécies. Do mesmo modo, foram conservados também 3.113 hectares no Refúgio de Vida Silvestre Xutilha, dos quais 1.150 hectares estão sob manejo florestal sustentável realizado pelas comunidades locais.
O Núcleo de Banana Orgânica é uma iniciativa que visa fortalecer a relação entre empresas e organizações do setor bananeiro na região de Piura, no Peru. Em 2023, 41 representantes de organizações públicas e privadas, a universidade local e a sociedade civil firmaram o acordo de carbono neutro na cadeia da banana orgânica e conservação das florestas e páramos da região de Piura. O acordo foi elaborado em conjunto com os produtores de banana da parte baixa e as comunidades rurais da parte alta da bacia do rio Chira-Piura, onde se origina a principal fonte de água de toda a região. Esse acordo permite que os produtores e produtoras avancem no acesso a um mercado de alto valor e neutro em emissões, ao mesmo tempo em que a região e as comunidades agrícolas são beneficiadas com a venda de créditos de carbono para sua sustentabilidade e a proteção das florestas e ecossistemas da parte alta da bacia hidrográfica.
Regulamento da União Europeia para produtos livres de desmatamento (EUDR)
A Solidaridad trabalhou ativamente com seus parceiros na região nos esforços para cumprir o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR). A regra visa garantir a importação de café, cacau, pecuária, madeira, palma e soja livres de desmatamento e produzidos conforme a legislação de seus países de origem.
Em 2023, esses esforços se concentraram em compreender o impacto do regulamento nos setores do café e do cacau em vários países, com o objetivo de vincular os desafios identificados às iniciativas de trabalho existentes. Para isso, a Solidaridad encomendou os seguintes estudos:
- Em Honduras, foi realizada uma análise entre os produtores e produtoras de café de uma área-piloto, revelando que 17% da área analisada havia sofrido desmatamento;
- Na Nicarágua, Guatemala e México, a Solidaridad avaliou em que nível de cumprimento (baixo, médio ou alto) da EUDR estão os pequenos produtores de café desses países. Além disso, o estudo levantou que até 33% do volume desse segmento é exportado para a União Europeia. Também foram identificadas as intervenções prioritárias para a Solidaridad: sensibilização, desenvolvimento de capacidades, serviços de georreferenciamento e due diligence em nível local baseada no desmatamento e na degradação mensurada e observada;
- No Peru, foi realizado um estudo semelhante sobre café e cacau com o apoio da Aliança Empresarial para a Amazônia, da Tropical Forest Alliance (TFA) e do Earth Innovation Institute. O estudo desenvolveu o “Guia Técnico de Monitoramento do Desmatamento” para empresas e associações, cujo objetivo é fornecer ferramentas e metodologias práticas para monitorar a supressão de áreas de vegetação nativa.
Também demos continuidade à parceria com a Cooperativa Capucas y Molinos de Honduras para enviar quatro contêineres de café totalmente rastreável de 800 produtores ao mercado europeu por meio de dois compradores internacionais – Matthew Algie e Nespresso. Com o uso da tecnologia blockchain, por meio da ferramenta TRACE do nosso parceiro FairFood, a iniciativa incluiu dados dos produtores, códigos, um mapa da região, transações de compra e venda e qualidade do café. Depois dessa experiência exitosa, a cooperativa começou a rastrear todo o seu café, o que destaca o impacto positivo que a iniciativa teve na promoção da transparência em toda a cadeia produtiva.
Inovação
Práticas circulares
Essa abordagem de produção envolve a redução de dejetos e da poluição. No processo, são obtidos novos insumos, produtos finalizados ou materiais recicláveis, buscando a regeneração dos sistemas naturais (florestas e serviços ambientais associados), alcançando uma eficiência produtiva maior e gerando mais renda para as famílias envolvidas.
Em 2023, apoiamos cooperativas do México e do Peru a otimizar a gestão de diferentes tipos de resíduos provenientes da produção de café. As cooperativas adotaram serviços para limpar e reutilizar a polpa, assim como biofiltros que limpam as águas residuais do processamento (uma fonte importante de emissões de GEE). Como resultado, os produtores têm acesso a adubos e fertilizantes líquidos de origem orgânica de baixo custo, possibilitando que mantenham níveis altos de produtividade e melhorem a qualidade do solo.
No caso do Peru, essas práticas foram adotadas pela maioria dos facilitadores e difundidas para mais de 800 produtores e produtoras de café, que podem substituir em até 20% a compra de fertilizantes. No México, houve um aumento médio de 30% na renda de todos os produtores da cooperativa. Aproveitando o sucesso desse modelo, a Solidaridad planeja replicá-lo, colaborando com outras cooperativas da região e grandes compradores como a Nestlé, com a qual iniciamos um projeto para ampliar as práticas de agricultura regenerativa entre 1 mil produtores.
Também no Peru, no setor da banana, foram capacitados 1.691 produtores e produtoras na produção e uso de fermentos biológicos e 13 fábricas desse componente foram instaladas pelas equipes técnicas de 10 associações de produtores. Essas fábricas produzem e distribuem os fermentos de forma autônoma aos seus associados, fortalecendo os solos, melhorando a nutrição das plantas e controlando pragas, além de economizar na compra de fertilizantes.
Finanças
Em 2023, as entidades financeiras da América Central e da América do Sul se fundiram para formar uma só para a região da América Latina. A fusão ocasionou alterações na gestão orçamentária, no controle e nos processos financeiros internos.
Em 2023, recebemos 3 milhões de euros a mais em receitas do que tínhamos previsto. O orçamento de ambas as regiões subiu para 14,8 milhões de euros, e as receitas totais foram de 18 milhões de euros. Os principais doadores foram: Governo do Reino dos Países Baixos (2 milhões de euros), GIZ (1,6 milhões de euros), Dutch Postcode Lottery (1,2 milhões de euros), USAID (1,1 milhões de euros) e Fundo JBS pela Amazônia (1 milhão euros).