Amazônia, Brasil, Cacau, Notícia, Pecuária

Agricultura de baixo carbono com incremento da conservação e dos meios de subsistência: um ano de Amazônia Connect

No seu primeiro ano de implementação, o Amazônia Connect estabeleceu as bases para aumentar a produção de commodities com baixas emissões de carbono que promove a resiliência das comunidades locais. Nos próximos quatro anos, o programa aumentará de forma eficiente os esforços para conectar uma grande variedade de atores em três países da Bacia Amazônica.

Em uma estrada sinuosa nos arredores de Moyobamba, no Peru, a plantação de café de Diomedes Santos Huamán está situada numa encosta íngreme. Produtores e visitantes se reúnem enquanto Diomedes e um instrutor da Solidaridad preparam uma mistura para ser espalhada em todo o cafezal. A mistura de estrume fresco, folhas e microorganismos é um eficiente fertilizante natural que utiliza as águas residuais do processo de lavagem do café e custa muito menos do que os fertilizantes químicos.

Durante a visita, os participantes observaram diferentes abordagens para a compostagem e a cultura do café que podem ajudar os produtores a aprimorar sua produtividade e a diminuir a pressão sobre as florestas. Práticas como essas fazem parte das orientações para uma Agricultura de Baixo Carbono (ABC) que estão sendo executadas em toda a região amazônica como parte do Amazônia Connect, um programa de cinco anos para aumentar a produção de commodities com baixas emissões de carbono, para aprimorar a conservação da biodiversidade. A iniciativa trabalha nas cadeias produtivas de café, óleo de palma e pecuária no Brasil, na Colômbia e no Peru. 

O Amazônia Connect — uma parceria entre a USAID, a Solidaridad, o Earth Innovation Institute, a National Wildlife Federation e a Universidade de Wisconsin-Madison — concluiu recentemente seu primeiro ano de implementação. As equipes estabeleceram as linhas de base e aprofundaram relações com produtores, governos regionais e locais, parceiros do setor privado e outras partes interessadas. Os progressos mais importantes incluem:

  • 1.343 produtores receberam assistência técnica (20% mulheres);
  • Práticas agrícolas com baixa emissão de carbono implementadas em 32.550 hectares;
  • Melhoria dos instrumentos de monitoramento das florestas e da biodiversidade, cobrindo uma área de 8,2 milhões de hectares;
  • 5 empresas do setor privado empenhadas em aprimorar o monitoramento do desmatamento e dos riscos para a biodiversidade (2 no Brasil, 2 na Colômbia e 1 no Peru);
  • 12 agências governamentais e 1 órgão multilateral empenhados na aplicação de estratégias locais e regionais que apoiem meios de subsistência sustentáveis e o desenvolvimento rural com baixas emissões;
  • US$ 3,4 milhões de financiamento para a agricultura de baixo carbono e produção sem desmatamento mobilizados no Peru por meio de programas de investimento público;
  • Desenvolvimento de três relatórios com base em pesquisas sobre desmatamento, biodiversidade e cadeias de suprimento da pecuária.

Implementação de práticas de baixo carbono na cadeia produtiva da pecuária no Brasil

No Brasil, o Amazônia Connect trabalha com pequenos e médios criadores de gado para implementar práticas de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e produzir mais numa área menor e com menor impacto negativo no solo. No primeiro ano, trabalhamos com mais de 700 criadores de gado para implementar essas práticas, num total de quase 24 mil hectares. Além disso, o Amazônia Connect aprimorou e integrou um conjunto de dados adicionais a uma ferramenta de monitoramento e rastreabilidade da cadeia de fornecimento, bem como iniciou o apoio às empresas no cumprimento de acordos de desmatamento zero na aquisição de carne bovina. 

Os parceiros do Amazônia Connect também trabalharam com os governos regionais e locais em Mato Grosso e no Pará para desenvolver sua capacidade de entrar nos mercados de carbono e analisaram a possibilidade de desenvolver programas de incentivo para produtores que adotam práticas de ABC. A redução do desmatamento e a criação de cadeias produtivas sustentáveis necessitarão do apoio de instituições financeiras e grupos de investidores. O Amazônia Connect trabalhou para educar esses grupos sobre a importância de reduzir o desmatamento oriundo da criação de gado e investir no monitoramento das cadeias. 

Compreender as cadeias produtivas do café e de laticínios na Colômbia

Na Colômbia, a equipe realizou avaliações com produtores de leite e de café para compreender suas perspectivas e prioridades. Também trabalharam com a Nestlé para apoiar os produtores de leite em sua cadeia de fornecimento, à medida que implementavam práticas de ABC para obterem uma certificação em agricultura regenerativa, o que pode levar a rendimentos mais elevados. 

Assim como no Brasil, ferramentas de monitoramento e rastreabilidade são indispensáveis para a compreensão dos riscos socioambientais na cadeia da pecuária. Os parceiros do Amazônia Connect integraram um conjunto de dados que abrangem a biodiversidade, o desmatamento e a infraestrutura da cadeia de fornecimento a uma ferramenta de monitoramento e rastreabilidade de toda a cadeia. Várias empresas da região estão envolvidas com o programa para dar início ao uso da ferramenta.

Construção de setores de óleo de palma e café inclusivos no Peru

As cadeias produtivas de óleo de palma e de café são o foco do trabalho no Peru. No setor de óleo de palma, a equipe assinou acordos de cooperação com três fábricas e realizou treinamentos sobre a ABC e a produção sustentável de óleo de palma. Cerca de 270 produtores de palma foram treinados (32% mulheres) em ABC ao longo de um território de 1.565 hectares. O treinamento em assistência técnica inclusiva ajudou a preparar o time de campo para garantir que as lições fossem acessíveis a todos nas comunidades onde as equipes fossem trabalhar. No caso do óleo de palma, uma avaliação de gênero e inclusão social servirá de base para práticas futuras. Os técnicos também trabalharam para adaptar a ferramenta de monitoramento às necessidades específicas do setor de palma.

No café, a equipe estabeleceu as bases para expandir os pagamentos por serviços ecossistêmicos aos produtores em San Martín por meio da Plataforma ACORN. Essa iniciativa, que incentiva práticas de sistemas agroflorestais (SAFs) que sequestram carbono, começará a ser implementada no Peru este ano. O Amazônia Connect também trabalhou com os governos regionais de San Martín e Ucayali para mobilizar US$ 3,4 milhões destinados a expandir a ABC e a produção livre de desmatamento, por meio de programas de investimento público. O monitoramento nas fazendas será fundamental para esses esforços e uma metodologia de monitoramento para florestas primárias e secundárias em fazendas de café foi validada no Peru para apoiar as empresas que integram ferramentas em suas práticas (consulte o relatório em espanhol).

Focar na conexão em toda a Bacia Amazônica

O objetivo geral do Amazônia Connect é criar soluções escalonáveis que possam reduzir o desmatamento e a perda de habitat provocados por commodities, apoiar meios de subsistência resilientes e contribuir para os esforços globais em evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. Os parceiros trabalham com os setores público e privado para encontrar conexões que conduzam às mudanças sistêmicas em toda a região. 

O Amazônia Connect trabalha em quatro áreas temáticas, incluindo:

  • Promoção de práticas agrícolas de baixo carbono — a agricultura de baixo carbono reorienta os sistemas de produção para garantir a viabilidade e a conservação da propriedade. A adoção destas práticas é fundamental para reduzir a pressão sobre os ecossistemas sensíveis e as emissões de carbono.
  • Envolvimento com os atores do mercado — as auditorias (due diligence) e a legislação sobre o desmatamento estão fazendo com que o setor privado entenda melhor os riscos em suas cadeias de fornecimento. O Amazônia Connect envolve parceiros do setor privado na adoção de ferramentas de monitoramento para garantir o cumprimento dos acordos de desmatamento zero. 
  • Expansão do financiamento para a produção sustentável — a falta de acesso a financiamento costuma impedir a adoção de melhores práticas, o que pode resultar em mais invasões em áreas sensíveis. O financiamento de melhorias e os incentivos aos serviços ecossistêmicos podem aumentar a adoção de práticas com baixas emissões de carbono. 
  • Aplicação da pesquisa e do aprendizado — resumos sobre políticas públicas, documentos científicos e outros produtos aprimoram a compreensão sobre as cadeias. Informam também sobre a maneira como as abordagens regionais, a rastreabilidade e as práticas de baixo carbono podem apoiar a produção sem desmatamento e a conservação da biodiversidade. 

Este artigo foi produzido graças à contribuição generosa do povo dos Estados Unidos da América por meio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O conteúdo deste artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete necessariamente as opiniões ou posicionamentos da USAID ou do governo dos EUA.

PARCEIROS:

Rodrigo Castro

Diretor de País

email