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Evento marca o primeiro ano do Amazônia Connect com 700 pecuaristas envolvidos

Consórcio de organizações do qual participa a Fundação Solidaridad promoveu evento no Pará para discutir os caminhos rumo a uma pecuária sustentável
Com a presença de autoridades, produtores rurais, especialistas, extensionistas e representantes das organizações parceiras, o evento reuniu quase 80 pessoas. Foto: Fundação Solidaridad/Renata Ferraz

Com convidados nacionais e internacionais, o evento Amazônia Connect – Rumo à produção agropecuária de baixo carbono e conservação da biodiversidade no bioma amazônico teve lugar em novembro último em Novo Repartimento (PA), município onde a Fundação Solidaridad atua há mais de uma década na promoção de uma agricultura de baixo carbono para as cadeias de cacau e pecuária. Durante a atividade, foram apresentados os resultados do primeiro ano do programa homônimo, desenvolvido com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Entre as conquistas da iniciativa, destaca-se o trabalho com 700 famílias de pecuária de pequena escala nos municípios de Novo Repartimento, Anapu e Pacajá, na Transamazônica paraense, e mais de 23 mil hectares manejados sob boas práticas agrícolas.

O evento contou com a presença de autoridades locais, produtores e produtoras rurais, especialistas, técnicos extensionistas e representantes das organizações que compõem o programa: Solidaridad, USAID, Earth Innovation Institute, National Wildlife Federation e Universidade de Wisconsin-Madison. Palestras, painéis temáticos, depoimentos de pecuaristas e um breve histórico sobre a região de Novo Repartimento e a ocupação do assentamento rural Tuerê fizeram parte da programação. Com cerca de 80 convidados, o evento proporcionou a troca de experiências e o debate sobre as lições aprendidas do primeiro ano do Amazônia Connect. O Gerente do Programa Amazônia da Fundação Solidaridad, Paulo Lima, deu as boas-vindas aos presentes e reforçou a importância do projeto para conjugar a produção de gado com a manutenção da floresta amazônica. 

Quando alimentamos mais a nossa coragem do que os nossos medos, derrubamos os muros e passamos a construir pontes. Este projeto, que se propõe fomentar a pecuária de baixo carbono, é uma grande ponte que conecta essa atividade e famílias produtoras com o futuro. E o futuro que a humanidade clama é um futuro em que possamos aliar produção de alimentos com sustentabilidade e eficiência climática”, disse.

Boas práticas e conservação

Como convidada especial, a Oficial de Meio Ambiente e Recursos Naturais da USAID, Bella Genta, ressaltou o compromisso firmado entre as organizações do consórcio para a conservação do bioma amazônico no Brasil, Colômbia e Peru. 

Rica em biodiversidade, a Amazônia também abriga produtoras e produtores rurais que desempenham um papel fundamental na produção de commodities agrícolas essenciais, como carne bovina, óleo de palma e café, importantes para o mundo inteiro. Se quisermos manter a produção, apoiar os meios de subsistência locais e conservar seu patrimônio natural , é imperativo endereçar os desafios enfrentados pelos produtores e promover práticas sustentáveis. O Amazônia Connect está empenhado em conseguir isso, promovendo técnicas que melhorem a produtividade, reduzam as emissões de gases de efeito estufa e melhorem a conservação da biodiversidade”, afirmou.

 

Bella Genta fez o discurso de abertura do evento e reforçou a importância da parceria entre as organizações do consórcio. Foto: Fundação Solidaridad/Renata Ferraz

Na sessão “Diálogos sobre o Amazônia Connect”, houve a participação da Gerente de Meio Ambiente e Qualidade da Fundação Solidaridad, Mariana Pereira, da Diretora Regional do Earth Innovation Institute, Monica de Los Ríos, do Especialista em Agronegócio e Pecuária da National Wildlife Federation, Rodrigo Dias Lopes, e da Cientista da Universidade de Wisconsin-Madison, Lisa Rausch. Para além do compromisso das organizações com as metas do Amazônia Connect, foi discutida a escalada da crise climática e o esgotamento dos recursos naturais, destacando a responsabilidade da agropecuária no manejo correto das pastagens, em consonância com a preservação da biodiversidade das florestas. Segundo Monica, “os atores que atuam na Amazônia estão enxergando que são necessários investimentos para incentivar os produtores a reduzir suas emissões e recursos produtivos”.

Durante sua fala, Mariana Pereira enfatizou a estratégia de atuação da Solidaridad junto às famílias produtoras. “Novo Repartimento é hoje o segundo maior rebanho do estado do Pará e o quarto maior rebanho do Brasil. É um município que tem como principal atividade econômica a pecuária. A nossa estratégia para alcançar uma pecuária de baixo carbono é trabalhar com um programa de assistência técnica forte e contínuo. O nosso modelo de ATER hoje é baseado em quatro pilares: treinamentos coletivos, assistência técnica individualizada, unidades demonstrativas para disseminar boas práticas e uso de ferramentas digitais”, destacou.

Pecuaristas em foco

Os protagonistas do dia estiveram em destaque no painel “Benefícios e desafios da pecuária de baixo carbono na Amazônia”. Ao lado da Coordenadora de Desenvolvimento Sustentável Rural e Incentivos Financeiros da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do Pará, Diana Castro, do Diretor Global de Sustentabilidade da JBS, Jason Weller, da Especialista em Monitoramento de Projetos do Fundo JBS pela Amazônia, Thais Megid, e de Paulo Lima, o pecuarista da Fazenda Rio Madeira, Ananias Oliveira, compartilhou os benefícios do pastejo rotacionado, técnica de intensificação da pecuária. 

A gente criava gado numa pastagem grande – a mesma quantidade que poderia ser criada numa área pequena. A intenção anterior era desmatar mais para abrir pasto. Mas me motivou muito saber que era possível criar mais gado na área já aberta da minha propriedade”, comentou Ananias. 

Em sua fala, Paulo Lima destacou a importância dos investimentos na propriedade para a mudança das práticas produtivas. Foto: Fundação Solidaridad/Mariana Leite

Paulo Lima ressaltou algumas das dificuldades encontradas pelos produtores rurais. “Quando a gente pensa numa transição para a pecuária de baixo carbono, o acesso a crédito é fundamental. Quando o produtor se propõe a adotar boas práticas e implementar o conhecimento técnico, ele precisa de investimento para reformar a pastagem, melhoramento genético, entre outros”, disse. Diana Castro chamou a atenção para outro ponto importante: a necessidade do envolvimento do poder público no incentivo às mudanças de práticas agropecuárias. “O Pará hoje é o estado que mais emite gases de efeito estufa no Brasil. As causas dessas emissões estão ligadas à mudança de uso da terra e à agropecuária”, reforçou.

Conversa com os produtores

Em um momento de maior descontração, tivemos o painel “Dedo de prosa”, em que o Supervisor Técnico da Fundação Solidaridad, Pedro Santos, recebeu a produtora da Fazenda Rancho da Pedra, Maria Gorete Rios, e o produtor da Fazenda Lírio dos Vales, Alaion Souza, para uma rodada de perguntas e respostas. Melhoramento genético do rebanho, tratamento do solo e pastejo rotacionado foram algumas das temáticas abordadas. 

Pedro Santos (à direita) ao lado dos produtores rurais Alaion Souza e Maria Gorete. Foto: Fundação Solidaridad/Renata Ferraz

“Numa área de produção extensiva, conseguimos criar no máximo sete cabeças. No rotacionado, na mesma área, posso ter 40. Isso nos dá um incentivo muito grande para continuar trabalhando dessa nova maneira. O pastejo rotacionado veio como uma luz para um problema que tínhamos”, observou Alaion, ao compartilhar sua boa experiência com a intensificação do gado.

Com a premissa de contextualizar a história da região onde o projeto ocorre, contamos com a palestra “A ocupação da região da Transamazônica paraense e a formação do município de Novo Repartimento”, ministrada pelo professor e pesquisador do Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), José Heder Benatti. Do movimento migratório no início dos anos 1990 à ocupação da terra no Norte do Brasil, surgiu um dos maiores assentamentos de pequenos agricultores da América Latina: o Tuerê. Com suas mais de 3 mil famílias assentadas, a área ocupada pelo assentamento viu a floresta desaparecer nas últimas décadas para dar espaço à pecuária extensiva. Nesse contexto, o Amazônia Connect incentiva práticas sustentáveis para a agropecuária no território.

Até quando eu vou poder produzir da forma como produzo? Eu tenho que mudar o meu comportamento. Se não mudar, tem um ‘sujeito’ que vai nos fazer mudar: a natureza. Ela elimina a gente e vai fazer sem a gente. As secas, as chuvas, os terremotos, os vulcões…tudo isso são reações dela”, salientou Benatti. 

A palestra do professor Benatti abordou a contextualização do território do assentamento Tuerê. Foto: Fundação Solidaridad/Renata Ferraz

Amazônia Connect

Com duração de cinco anos, o projeto Amazônia Connect é uma parceria entre a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Fundação Solidaridad, o Earth Innovation Institute (EII), a National Wildlife Federation (NWF) e a Universidade de Wisconsin-Madison. Juntamente com o Programa Ambiental Regional da Amazônia da USAID, produtores, empresas, governos locais e instituições financeiras, a iniciativa promove e dá escala à produção agropecuária de baixo carbono para melhorar a conservação da biodiversidade e a resiliência climática no Brasil, na Colômbia e no Peru. No Brasil, o foco é a pecuária sustentável nos estados do Pará – na região da Transamazônica – e Mato Grosso. 

Este artigo foi produzido graças à contribuição generosa do povo dos Estados Unidos da América por meio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O conteúdo deste artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete necessariamente as opiniões ou posicionamentos da USAID ou do governo dos EUA.

PARCEIROS:

Paulo Lima

Gerente do Programa Amazônia

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