Notícia

Produtores de cacau reduzem desmatamento e aumentam renda na Amazônia

Durante o Festival Internacional do Chocolate e do Cacau, em São Paulo, a Solidaridad apresentou seu modelo de ATER em projeto de agricultura de baixo carbono no Pará, que alia o cacau com a pecuária

Paulo Lima enfatizou a importância do modelo de ATER para a continuação do projeto a longo prazo

A Solidaridad esteve presente na primeira edição do Festival Internacional do Chocolate e do Cacau em São Paulo – a Chocolat São Paulo 2019 –, entre os dias 12 e 14 de abril. A convite do Governo do Pará, a Organização participou de workshop para apresentar o modelo de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) desenvolvido por meio do projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia.

O projeto promove a agricultura familiar de baixo carbono em Novo Repartimento (PA), na região da rodovia Transamazônica. Ele é desenvolvido a partir da capacitação de 150 produtores do Tuerê – considerado o maior assentamento do mundo com 300 mil hectares e 3,1 mil famílias – em boas práticas agropecuárias e recuperação produtiva de áreas de pastagens degradas com sistemas agroflorestais, que tem o cacau como cultura principal para a geração de renda.

Representante da Solidaridad no evento, o Coordenador de Projetos Agropecuários, Paulo Lima, explicou que a estratégia era criar um modelo de ATER que se sustentasse com o tempo. Portanto, foram considerados quatro pilares: o contato constante entre técnicos e produtores, com visitas individuais; treinamentos coletivos e trocas de experiências; a utilização de unidades demonstrativas para testes práticos e o uso de ferramentas digitais, como o Extension Solution, desenvolvido pela Organização.

Lima comentou que o trabalho de engajamento com os atores envolvidos já está em fase de consolidação. “Nos últimos dois anos, já estamos passando o bastão para extensionistas e produtores. No final do período, a ideia é que a Solidaridad se retire de cena para que o trabalho caminhe sozinho”, contou.

Além da gestão agrícola, a iniciativa ainda promove a capacitação em gestão financeira; apoio na comercialização, criando oportunidades de negócios, e governança ambiental, promovendo a articulação com atores públicos e privados, especialmente para a redução de desmatamento e regularização ambiental.

Paulo Lima ainda destacou a importância do projeto na redução da emissão de Gases de Efeito-Estufa (GEE). Segundo ele, antes do início do projeto, uma unidade média do assentamento, de 60 hectares – com 54% da área para pastagens, 20% para o cultivo de cacau e 26% de floresta nativa – apresentava a emissão de 0,04 toneladas de carbono por hectare/ano.

Mediante a aplicação de novas práticas de manejo do cacau e da pecuária, aliada à preservação da mata nativa, a mesma propriedade pode passar a estocar 2,27 toneladas de carbono por hectare/ano. “O cenário é cada vez melhor, pois o cacau é uma espécie propícia para o sequestro do CO2. Portanto, queremos em breve deixar de emitir para garantirmos espaços de armazenamento”, disse Lima.

Pedro Santos (à direita) apresentou o chocolate do Tuerê ao diretor da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Guilherme Galvão

Negócios e geração de renda

Sobre as novas oportunidades de negócios que a iniciativa gera, o representante da Solidaridad mencionou a produção de chocolates finos bean-to-bar, feita partir de um processo cuidadoso de secagem e fermentação e seleção rigorosa das amêndoas. O chocolate produzido, com notas de frutas amazônicas frescas, usa as castanhas do sítio Três Irmãos e agregou valor à produção da família de José Silva Rosa. A qualidade da amêndoa produzida na propriedade levou o produtor a representar o Pará no Festival de Chocolate de Paris no final de 2018.

Durante o festival, considerado o maior evento sobre a cadeia produtiva da commodity do Brasil, o chocolate foi apresentado no estande do Governo do Pará pelo técnico da Solidaridad, Pedro Santos, e é comercializado pela Casa Lasevicius, parceira do projeto.

Dados preliminares do projeto mostram um aumento de 31% na renda de produtores que diversificaram a pecuária com a produção de cacau em sistemas agroflorestais, na comparação com aqueles que trabalhavam exclusivamente com pecuária. Além disso, apontou um aumento de 260% na renda em relação aos produtores de cacau na forma convencional. Os resultados positivos levaram a Solidaridad a criar uma estratégia que deverá envolver novos produtores na iniciativa.

Assista ao vídeo do projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia: