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Solidaridad se consolida na produção sustentável de erva-mate no Sul do Brasil

Por meio de estudos e assistência técnica realizados, famílias produtoras obtiveram maior rentabilidade em seus ervais a partir de práticas que contribuem para a agenda climática
Em média, cada hectare atendido pela Solidaridad passou a produzir 3,5 toneladas a mais de matéria-prima. Foto: Fundação Solidaridad

Com quatro anos de pesquisa, assistência técnica e extensão rural na região Sul do Brasil, a Fundação Solidaridad se consolida por sua atuação com produtoras e produtores de erva-mate e recebe o reconhecimento por atores importantes da cadeia. O trabalho realizado trouxe evidências de que práticas sustentáveis aumentam a produtividade dos ervais e são eficientes no sequestro de gases de efeito estufa (GEE), reforçando o potencial do cultivo para uma agricultura de baixo carbono.

Com sua chegada ao território pouco antes da pandemia de Covid-19, o Programa Erva-Mate da Solidaridad se viu distante das famílias agricultoras e impossibilitada de marcar sua presença rotineira nas propriedades. Entretanto, o que parecia ser um desafio tornou-se uma oportunidade: foram iniciadas pesquisas que possibilitaram o aprimoramento da assistência técnica e a aproximação de parceiros de grande importância na região.

É muito importante a atuação da Solidaridad na região de Machadinho. Ela tem um papel fundamental na implantação de ervais e sua melhoria, pesquisa, uso de tecnologia e motivação dos produtores em relação ao plantio. Com a presença dos técnicos, podemos desenvolver o setor, produzindo com mais qualidade e produtividade e aumentando a renda no bolso do produtor”, relata Selia Regina Felizari, presidente da Associação dos Produtores de Erva-mate (Apromate).

Um dos principais resultados do período de pesquisas foi a Carbon Matte, uma ferramenta em formato de planilha eletrônica para medir os estoques de carbono e as emissões GEE no cultivo de erva-mate, desenvolvida em parceria com a Embrapa Florestas. A calculadora foi apresentada em março, durante o 16º Fórum Florestal do Rio Grande do Sul, pelo nosso Coordenador de Projetos, Gabriel Dedini, que que fez parte de um painel ao lado do Diretor Técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS), Claudinei Baldissera, e o Coordenador do Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) do Rio Grande do Sul, Jackson Brilhante.

“A coleta de dados foi realizada no município de Cruz Machado, que compõe uma das principais regiões produtoras de erva-mate do Paraná. Ali começamos esse novo arranjo, entendendo que produção de baixo carbono é embasada num modelo regenerativo de produção, que possibilita o desenvolvimento de melhores práticas e incrementa a rentabilidade dentro do processo produtivo. Ou seja, trabalhar a agenda climática não é divergente de trabalhar o desenvolvimento socioeconômico das propriedades rurais”, afirmou Gabriel.

Claudinei Baldissera, Gabriel Dedini e Jackson Brilhante discutiram a relevância da erva-mate para a agenda climática durante painel no 16º Fórum Florestal do Rio Grande do Sul. Foto: Fundação Solidaridad

O Fórum foi parte da programação da Expodireto Cotrijal, uma das maiores feiras do agronegócio internacional, realizada no município de Não-Me-Toque (RS). Durante o evento, a equipe da Fundação Solidaridad esteve em contato com parceiros em potencial para identificar pontos de sinergia para a promoção da agricultura sustentável. A troca de ideias também envolveu aliados de longa data, como o engenheiro agrônomo da Emater-RS, Ilvandro Barreto, que acompanha a implementação do projeto desde o seu início. Segundo ele, a entrada da Fundação Solidaridad na produção gaúcha de erva-mate potencializou a cultura como uma espécie nativa da Mata Atlântica.

“Isso estruturou as propriedades rurais e possibilitou maior renda e ganho social para as famílias ervateiras, além de dar início a um processo de restauração do bioma e de áreas frágeis da fazenda. Também levou dinamismo aos associados da Apromate, aumentando a área a ser plantada, melhorando a capacidade produtiva dos viveiros e ampliando o sistema agroflorestal cambona 4, que vem sendo desenvolvido desde os anos 2000 e passou a ser adotado em mais áreas”, destacou.

Boas práticas produtivas contribuem para a agenda climática e aumentam o rendimento das famílias ervateiras. Foto: Fundação Solidaridad

Os resultados do trabalho realizado ao longo de quatro anos no Nordeste Gaúcho também são refletidos em números. Ao todo, são 150 famílias atendidas pelo programa erva-mate e quase 1 mil hectares de cultivo impactados – 230 deles implantados por meio do projeto, com o plantio de 300 mil mudas. Já no âmbito da produtividade, cada hectare trabalhado produziu, em média, 3,5 toneladas a mais de matéria-prima.

O programa também aplicou sua experiência na produção de conhecimento. Foram desenvolvidos: o caderno de campo, produzido para facilitar a gestão da propriedade das famílias ervateiras, e o estudo Estoque de carbono e viabilidade econômica de erva-mate sombreada e a pleno sol que comparou dois sistemas de produção em quatro propriedades rurais, trazendo importantes constatações relacionadas ao manejo adotado nesses sistemas e como contribuem para a redução da emissão de GEE, garantindo renda e sustentabilidade.

Os próximos passos já estão sendo desenvolvidos. Com o apoio da Emater-RS, foram implantadas seis Unidades de Referência Tecnológica (UTRs) na região de Machadinho e Alto Uruguai, para identificar – assim como foi feito no Paraná para o teste da Carbon Matte – os dados de emissão e sequestro de carbono da produção ervateira regional e suas especificidades. As informações serão captadas durante 18 meses e serão usadas para aprimorar a assistência técnica prestada pela Fundação Solidaridad e contribuir para a estruturação do Plano ABC do Rio Grande do Sul, colocando a erva-mate como protagonista na mitigação das mudanças climáticas.

Gabriel Dedini

Coordenador de Projetos

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