Solidaridad Brasil promove há cinco anos iniciativa no Pará que contempla práticas de baixo carbono e inclusão socioeconômica de pequenos produtores e produtoras rurais
Nos últimos cinco anos, a Solidaridad Brasil tem feito diferença na vida de produtoras e produtores rurais e contribuído para a redução do desmatamento no bioma amazônico. Desde 2015, no âmbito da iniciativa Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia, desenvolve uma agropecuária de baixo carbono no Tuerê, município de Novo Repartimento, no Pará. Ali, num dos maiores assentamentos rurais da América Latina, promove-se também a inclusão socioeconômica de 225 famílias de pequenos produtores e produtoras de cacau e de pecuária de cria, que incrementam produtividade e renda.
Em 2019, a estratégia Conexão Brasil-China-EUA: mobilizando mercado e investidores e alavancando a produção de baixo carbono ampliou a maturidade do modelo de assistência técnica desenvolvido e aumentou a diversificação dos sistemas produtivos a partir da adoção de Sistemas Agroflorestais (SAFs), o qual trouxe aumento de práticas sustentáveis nas propriedades, rumo ao alcance do desmatamento zero na agricultura familiar. Além disso, são metas da iniciativa fomentar o uso eficiente do solo, com recuperação de pastagens degradadas nas propriedades rurais.
A escolha do SAF, tendo o cacau — espécie nativa do bioma — como carro-chefe, deve-se à combinação entre recomposição florestal e geração de renda. Esta união garante a sustentabilidade do processo e promove a inclusão da agricultura familiar na cadeia produtiva e na regularização ambiental. A estratégia ainda permite a inserção de grupos mais vulneráveis, como mulheres e jovens, e a sucessão no campo.
O modelo de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) proposto pela Solidaridad atua em quatro pilares: visitas técnicas individuais, criação de unidades demonstrativas, realização de treinamentos coletivos e uso de ferramentas digitais para auxiliar o trabalho dos extensionistas. Até 2021, a iniciativa visa aumentar a produtividade do rebanho de 4 para 15 arrobas por hectare/ano, incrementar a taxa de lotação na área de pastagem — passando de 0,71 para 5 unidades de animal por hectare nas áreas intensificadas — e reduzir emissões de dióxido de carbono na atmosfera de 4,8 para 2,7 toneladas por hectare/ano.
Os resultados de 2019 foram expressivos: mais de 5 mil hectares sob práticas de produção melhoradas, 17% de incremento na renda dos produtores — sendo 26% de aumento no valor pago por bezerro e 8% na venda do cacau. Os números demonstram como um ciclo de aprendizagem e suporte à agropecuária familiar podem contribuir para aumentar a produtividade e renda das famílias, reduzir os índices de desmatamento da vegetação nativa e mitigar as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE), aliando a melhoria da produção com a conservação da floresta.
TERRITÓRIO FORTALECIDO
No âmbito do programa de cacau, a Solidaridad Brasil acredita no papel crucial que as associações e cooperativas desempenham para produtores e produtoras e trabalha para fortalecer a organização coletiva no território. Para isso, conta com a parceria local da Cooperativa de Reflorestamento e Bioenergia da Amazônia (Coopercau), com sede em Novo Repartimento. Para a longevidade da ATER e dos resultados atingidos, a iniciativa irá incubar a Coopercau, para que se aproprie do modelo de ATER desenvolvido pela Solidaridad e se adapte a um novo modelo de negócios.
E o uso de adubos para melhorar a fertilidade do solo e a nutrição das lavouras têm trazido bons resultados para produtores e produtoras de cacau do Tuerê. Em 2018, um acordo estabelecido entre a Solidaridad Brasil, Coopercau e representantes da indústria do cacau viabilizou os primeiros contratos de barter para produtores e produtoras familiares de Novo Repartimento. Por meio dessa modalidade de contratação — que consiste na troca de fertilizantes por amêndoas de cacau sem intermediação financeira —, esses produtores puderam iniciar o manejo da fertilidade dos solos em suas unidades produtivas, prática importante para a manutenção da produtividade das lavouras e que contribui para o balanço das emissões de GEE.
A Solidaridad também iniciou um estudo para mensurar a viabilidade financeira da prática da adubação das lavouras mediante os contratos de barter. Para isso, dez parcelas experimentais foram instaladas em diferentes propriedades. Após o primeiro ano, os resultados demonstraram a viabilidade financeira, registrando um aumento de 45% na produtividade média e 65% no lucro médio das propriedades.
Em colaboração com a Coopercau para a safra 2019-2020, a Solidaridad Brasil conseguiu algo inédito na cadeia do cacau: uma operação de “barter sustentável”, com critérios de sustentabilidade definidos em contrato com uma empresa compradora de cacau. Uma das cláusulas estabelece o comprometimento de produtoras e produtores em não desmatar durante as atividades e que não tenha trabalho infantil e degradante na propriedade. O próximo passo é fazer com que a compra de cacau sem desmatamento se torne padrão nas negociações comerciais, agregando valor às amêndoas na Amazônia.
E o aprimoramento de práticas sustentáveis detém o desmatamento e promove a diminuição das emissões de GEE, contribuindo para o alcance das metas brasileiras para reduzir o aquecimento global. É o que aponta o estudo Os pequenos grandes: Desafios da pecuária de cria sustentável na Amazônia e o potencial dos Núcleos de Inovação e Aprendizagem (NIAs), realizado pela Solidaridad, Universidade de Wageningen e Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), em colaboração com pesquisadores da Embrapa. Lançada em 2019, a pesquisa demonstrou ainda como esse modelo de intervenção estruturado em cenários de baixo carbono, monitoradas pelo modelo de ATER, promove o acesso ao conhecimento e a busca por mercados mais justos.
MERCADO BEAN-TO-BAR
A iniciativa no Tuerê também apoia a produção de amêndoas especiais e o acesso ao comércio internacional de chocolates finos. O mercado premium bean-to-bar (da amêndoa à barra, na tradução livre) paga até quatro vezes mais pela amêndoa de cacau. Em 2019, dez produtores passaram a fornecer amêndoas para a Casa Lasevicius, fabricante de chocolate artesanal em São Paulo. Elas saíram das lavouras dos produtores Anivaldo, Chiquinho, Francisco, Jader, José Antônio, Narciso, Rosilene, Valdemiro, Zé Augusto e Zezinho. E o promissor Terruá Tuerê de cacau fino vem ganhando mercado nacional e internacional e se consolida como referência em qualidade e sabor. As barras produzidas foram premiadas em festivais internacionais e foi apresentado no Salão do Chocolate de Paris.
“Nosso programa de cacau tem como resultado um incremento de 56% na renda bruta média das 225 famílias beneficiárias. Com o auxílio da nossa equipe técnica, essas famílias têm hoje o objetivo de produzir mais e melhor nas áreas já consolidadas, diminuindo a pressão sobre a mata nativa”, afirma o Coordenador de Cacau e Pecuária da Solidaridad Brasil, Paulo Lima.
EQUIDADE DE GÊNERO
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), as mulheres rurais são responsáveis por 45% da produção de alimentos no Brasil. Ainda assim, somente 20% delas são proprietárias das terras onde trabalham. Ainda segundo o órgão, o empoderamento feminino pode representar um aumento de 30% na produção agrícola e garantir a segurança alimentar do planeta. Portanto, é preciso aprimorar seu acesso a recursos financeiros e a programas de proteção social para que mudanças aconteçam.
No início de 2020, foi organizado um encontro de produtoras de cacau no Tuerê como parte de uma iniciativa para promover o empoderamento e o aumento da renda das mulheres na região. Foram realizadas pesquisas com agricultoras, lideranças femininas das cooperativas e trabalhadoras da iniciativa privada, a fim de traçar o perfil da realidade e dos anseios das mulheres assentadas.
“O diagnóstico de gênero realizado no Tuerê teve o objetivo de entender o papel e a autonomia das mulheres no território. O resultado das análises nos mostrou uma condição de extrema vulnerabilidade em diversos aspectos. Nesse sentido, nosso trabalho será direcionado para criar redes de colaboração e ampliar a geração de renda delas”, conta a Coordenadora de Cacau e Pecuária da Solidaridad Brasil, Mariana Pereira.
A estratégia Conexão Brasil-China-EUA: mobilizando mercado e investidores e alavancando a produção de baixo carbono pretende, portanto, fortalecer o trabalho realizado no âmbito da iniciativa Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia. Busca oferecer assistência técnica nas propriedades agropecuárias com uma abordagem que considere a inclusão das mulheres; promover o engajamento de processadores de carne que atuam na região, aumentando a renda de produtoras e produtores do assentamento e promovendo negócios sustentáveis; buscar oportunidades de inserção de produtores de cacau no mercado de chocolates bean-to-bar e criar um grupo multistakeholder em Novo Repartimento, no intuito de incentivar práticas ambientais que estejam em consonância com o Código Florestal.
A estratégia é financiada pela Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad), por meio da Iniciativa Internacional Norueguesa de Clima e Florestas (NICFI).
For low-carbon, small-scale agricultural production with no deforestation in the Amazon
Solidaridad Brazil has been promoting an initiative in Pará that focuses on low-carbon practices and socioeconomic inclusion of small rural producers for five years
In the past five years, Solidaridad Brazil has made a difference in the lives of women and men rural producers and has contributed to reducing deforestation in the Amazon biome. Since 2015, the Inclusive and Sustainable Territories in the Amazon Project has been developing low-carbon agriculture in Tuerê, a town in Novo Repartimento, PA. There, in one of the largest rural settlements in Latin America, the socioeconomic inclusion of 225 families of small men and women cocoa producers and cattle ranchers is also being promoted, which increases productivity and income.
In 2019, the Brazil-China-USA Connection: mobilizing the market and investors and leveraging low-carbon production strategy matured the developed technical assistance model and made the productive systems more diverse by adopting agroforestry systems (AFSs), which increased sustainable practices on the properties, towards the achievement of zero deforestation in family farming. In addition, the initiative’s goals are to promote efficient land use by recovering degraded pastures on rural properties.
AFSs, chose cocoa – a native species of the biome – as their flagship because it both restores the forest and generates income. This union guarantees the sustainability of the process and promotes the inclusion of family farming in the production chain and environmental regularization. The strategy also allows more-vulnerable groups to be included, such as women and youth, and succession in the field.
The Technical Assistance and Rural Extension (ATER) model proposed by Solidaridad operates on four pillars: individual technical visits, creation of demonstrative units, collective training, and digital tools used to assist the labor of extensionists. By 2021, the initiative intends to increase the productivity of the herd from 60 to 225 kgs per hectare/year, the stocking rate in the pasture area from 0.71 to 5 units of animal per hectare in intensified areas, and to reduce carbon dioxide emissions in the atmosphere from 4.8 to 2.7 tons per hectare/year.
The 2019 results were expressive: more than 5,000 hectares under improved production practices, a 17% increase in producer income, a 26% increase in the amount paid per calf, and 8% in cocoa sales. The numbers show how a cycle of learning and support for family farming can contribute to increasing household productivity and income, reduce deforestation rates of native vegetation, and mitigate greenhouse gas emissions (GHGs), combining production improvement with forest conservation.
STRENGTHENED TERRITORY
Within the cocoa program, Solidaridad Brazil believes in the crucial role that associations and cooperatives play for producers and works to strengthen the collective organization in the territory. To this end, it has a local partnership with the Cooperativa de Reflorestamento e Bioenergia da Amazônia (Coopercau), headquartered in Novo Repartimento. For the longevity of ATER and the achieved results, the initiative will foster Coopercau to take ownership of the ATER model developed by Solidaridad and adapt to a new business model.
Using fertilizers to improve soil fertility and crop nutrition has brought good results for cocoa producers and in Tuerê. In 2018, an agreement established between Solidaridad Brazil, Coopercau, and representatives of the cocoa industry made the first barter agreement contracts feasible for women and men producers and family producers in Novo Repartimento. This type of contracting – which consists of exchanging fertilizers for cocoa beans without financial intermediation – made it possible for these producers to start managing soil fertility in their production units, an essential practice for maintaining crop productivity and contributing to the balance of GHG emissions.
Solidaridad also initiated a study to measure the financial viability of fertilizing crops through barter agreement contracts. Ten experimental plots were installed on different properties to do so. The results demonstrated the financial viability after the first year, recording an increase of 45% in the average productivity and 65% in the average profit of the properties.
In collaboration with Coopercau for the 2019-2020 harvest, Solidaridad Brazil achieved something unprecedented in the cocoa chain, a “sustainable bartering” operation, with sustainability criteria defined in a contract with a cocoa buyer. One of the clauses establishes the men and women producers’ commitment not to deforest during activities and that there is no child labor or degraded work on the property. The next step is to purchase cocoa grown without ties to deforestation, a standard in trade negotiations, adding value to cocoa beans in the Amazon.
The improvement of sustainable practices stops deforestation and promotes the reduction of GHG emissions, contributing to Brazil achieving its goals to reduce global warming. This is what Small scale, great opportunity: Towards sustainable young livestock farming in the Amazon and the potential of innovation and learning hubs study, carried out by Solidaridad, Wageningen University, and the Brazilian Roundtable on Sustainable Livestock (GTPS), in collaboration with researchers from The Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) points out. Launched in 2019, the study also showed how this intervention model structured in low carbon scenarios, monitored by the ATER model, promotes access to information and the search for fairer markets.
BEAN-TO-BAR MARKET
The Tuerê initiative also supports the production of special cocoa beans and access to international trade in fine chocolates. The premium bean-to-bar market pays up to four times more for cocoa beans. In 2019, ten producers started supplying cocoa beans to Casa Lasevicius, a maker of artisanal chocolate in São Paulo. They left behind the fields of producers Anivaldo, Chiquinho, Francisco, Jader, José Antônio, Narciso, Rosilene, Valdemiro, Zé Augusto, and Zezinho. And the promising Tuerê Terroir fine cocoa has been gaining ground in the national and international market. It is establishing itself as a reference in quality and flavor. The bars that were produced were awarded at international festivals and were featured on Salon du Chocolat of Paris.
“Our cocoa program resulted in a 56% increase in the average gross income of the 225 beneficiary families. With the help of our technical team, these families now have the objective to produce more and better in the areas already established, alleviating some of the pressure on native forest,” said Solidaridad Brazil’s Cocoa and Livestock Coordinator, Paulo Lima.
GENDER EQUALITY
According to the Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), rural women are responsible for 45% of Brazilian food production. Even so, only 20% of them own the land where they work. Also, according to the agency, women’s empowerment may represent a 30% increase in agricultural production and guarantee food security on the planet. Therefore, their access to financial resources and social protection programs need to improve for changes to happen.
At the beginning of 2020, a cocoa producers meeting was organized in Tuerê as part of an initiative to promote empowerment and increase women’s income throughout the region. Studies were conducted with female farmers, female leaders of cooperatives, and women working in the private sector to profile the reality and aspirations of the settled women.
“The gender diagnostic study carried out in Tuerê proposed to understand women’s role and autonomy in the territory. The results of the analyses showed us a condition of extreme vulnerability in several aspects. In this sense, we will work to create collaborative networks and to expand how much income they generate,” says the Cocoa and Livestock Coordinator at Solidaridad Brazil, Mariana Pereira.
The Brazil-China-USA Connection: mobilizing the market and investors and leveraging low-carbon production strategy, therefore, intends to reinforce the work carried out under the Amazon Inclusive and Sustainable Territories Program. It strives to offer technical assistance on agricultural properties with an approach that considers the inclusion of women; to promote the engagement of meat processors operating in the region, increasing the income of women producers and men producers in the settlement and promoting sustainable businesses; to seek opportunities for the insertion of cocoa producers in the bean-to-bar chocolate market, and to create a multi-stakeholder group in Novo Repartimento, to encourage environmental practices that follow the Forest Code.
The strategy is funded by the Norwegian Agency for Development Cooperation (Norad), through Norway’s International Climate and Forest Initiative (NICFI).