O 1º Encontro de Mulheres do Tuerê, realizado no dia 22 de janeiro, reuniu 30 produtoras de cacau do assentamento paraense, beneficiárias do projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia. O evento teve a finalidade de entender a participação das mulheres na cadeia, bem como suas demandas, desejos e desafios enfrentados por elas. Na oportunidade, puderam compartilhar as experiências que vivem no cotidiano do Tuerê. Todas as informações ajudarão na definição de ações que contribuirão para a melhoria da participação e da autonomia – especialmente financeira – das mulheres no território.
Francisca Alves Viana, a Dona Francisca, uma das produtoras assentadas que participaram do encontro, acredita que esse tipo de atividade é importante para que mulheres tenham abertura para o diálogo na comunidade. “A gente cresce mais, tem mais espaço para ouvir. É muito importante, a gente fica mais próximo”, disse. As atividades foram coordenadas por consultoras na área de gênero e pela Coordenadora de Projetos nas cadeias do cacau e da pecuária da Solidaridad Brasil, Mariana Pereira.
“Trata-se de um encontro inovador. Foi a primeira vez que a gente conseguiu reunir exclusivamente as mulheres do Tuerê para conversar sobre elas, sobre as atividades que são desenvolvidas nos lotes familiares e sobre ações que podem ajudar a melhorar a vida delas. Foi um momento importante para elas se reunirem e se reconhecerem”, explica Joyce Brandão, Gerente de Programas de Cacau, Pecuária e Soja da Solidaridad Brasil.
INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA
O desejo da independência financeira foi apontado pelas próprias mulheres como caminho para garantir sua autonomia. Umas das ações recomendadas pelo relatório sobre o encontro é a criação de oportunidades para que as mulheres sejam melhor inseridas na gestão das propriedades e da produção de cacau.
Para Joyce, a independência financeira faz parte do processo de empoderamento das mulheres. “Identificamos que as mulheres já exercem algumas atividades nos lotes das famílias. Nosso papel é ajudá-las a se inserirem de forma mais ativa e empoderá-las nesse processo”, completou. A iniciativa faz parte de uma série de ações com a temática de gênero que serão desenvolvidas no âmbito do projeto.
Por meio do projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia, promovido pela Solidaridad Brasil desde 2015 no assentamento rural Tuerê, em Novo Repartimento, no Pará, 200 pequenos produtores recebem assistência técnica para a recuperação de áreas de pastagens degradadas. Além disso, técnicos promovem a capacitação para práticas agropecuárias de baixo carbono. A iniciativa tem apoio financeiro da Good Energies Foundation e da Agência Norueguesa de Cooperação Internacional (Norad).
De acordo com o Censo Agro de 2017, quase 1 milhão de mulheres trabalham como produtoras rurais no Brasil. Ao analisar pela primeira vez o compartilhamento na direção das propriedades, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que, dos mais de 1 milhão de estabelecimentos compartilhados por casais, a maioria – cerca de 800 mil – é gerida por mulheres e homens.
A Solidaridad vê a igualdade de gênero como chave para o desenvolvimento sustentável. Por isso, o tema foi incluído como uma das quatro áreas de inovação da organização, ao lado de investimento de impacto, soluções digitais e inovação climática. A organização acredita que a construção de cadeias de produção ambientalmente sustentáveis, economicamente rentáveis e socialmente inclusivas deve ter uma abordagem baseada na inclusão de gênero.