Um extrato da presença e do papel das mulheres na cadeia produtiva da soja e do babaçu no estado do Maranhão. Este é o tema abordado pela Fundação Solidaridad em dois de seus mais recentes estudos, Mulheres na cadeia do babaçu em duas comunidades do Maranhão e Mulheres na cadeia da soja na microrregião de Balsa (MA). Com dados coletados por meio de entrevistas semiestruturadas em grupos focais, as publicações demonstram os avanços e as dificuldades que impactam o protagonismo feminino em ambos os contextos e traz possíveis soluções em prol de um cenário mais equitativo. Os estudos foram desenvolvidos com o apoio da GIZ (Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável).
Na cadeia do babaçu foram entrevistadas duas comunidades: o grupo Delícias do Babassu, da região de Pedrinhas, e a Associação das Mulheres Quebradeiras de Coco dos Projetos de Assentamento de Chapadinha, da região de Canto Ferreira. O potencial dessas mulheres se encontra no coletivo, seja na perpetuação da cultura quilombola por meio do Tambor de Crioula – dança típica do Maranhão de origem africana que foi declarada patrimônio cultural do Brasil – ou por sua organização via associações, onde as quebradeiras exercem papeis de liderança e gestão, possibilitando melhoria de vida: em conjunto, elas puderam agregar valor à sua produção e acessar espaços para reivindicar políticas públicas que possam garantir seus direitos. Entretanto, a diminuição do acesso aos babaçuais por conta da expansão agropecuária, a falta de infraestrutura básica e o acúmulo de funções entre o trabalho e as tarefas domésticas ainda são desafios enfrentados diariamente.
Cinco municípios da microrregião de Balsas – Alto Parnaíba, Balsas, Feira Nova do Maranhão, Riachão e Tasso Fragoso – foram contemplados no estudo direcionado à sojicultura. Realizada em 17 fazendas, a análise da participação feminina foi segmentada em três partes: antes da propriedade, na propriedade e depois da propriedade. A presença de mulheres ainda é muito pequena, especialmente “da porteira para dentro”, âmbito no qual suas funções são majoritariamente domésticas ou administrativas. Apenas uma produtora é proprietária de sua fazenda e, apesar de apresentar algum crescimento, a adesão a cursos agrícolas ainda é predominantemente masculina.
Tem um potencial do trabalho feminino que não está sendo aproveitado na cadeia da soja, seja das mulheres que são produtoras ou das que trabalham em outros elos. Já na cadeia do babaçu a realidade é diferente, pois conta com tomadoras de decisão, protagonistas, mesmo sem terem o mesmo acesso a recursos. Os estudos evidenciaram a oportunidade de aproveitar melhor a atuação de mulheres na sojicultura e o impacto positivo do ingresso das quebradeiras em novos mercados”, comenta Paula Freitas, Gerente de Cadeias Produtivas e Estratégias da Fundação Solidaridad.
Ambas as publicações foram lançadas em um webinar, realizado na semana em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres Rurais. Além de apresentar os principais resultados, o evento contou com a participação de Antônia Vieira, do Grupo Delícias do Babassu, e de Claudia Sulzbach, sojicultora e proprietária da Fazenda Laruna, que compartilharam suas vivências em um bate-papo aberto a perguntas do público.
Com transmissão ao vivo, o webinar de lançamento dos estudos deu espaço para que produtoras rurais falassem sobre os seus desafios cotidianos.
Apesar de o babaçu e a soja apresentarem realidades distintas quanto à atuação de mulheres em suas cadeias produtivas, há melhorias que podem ser aplicadas igualmente em ambas. O acesso à educação, a ocupação de cargos de liderança, a formação de grupos de apoio e o reconhecimento de preconceitos acompanhado de mudanças de atitude propiciam um ambiente mais equitativo, com oportunidades para todas e todos.
PROGRAMA SOJA
Executado pela Fundação Solidaridad há dez anos, o Programa Soja busca promover uma produção mais sustentável e de baixo carbono. Suas ações incluem a intensificação do uso de áreas de pastagens degradadas, a disseminação de práticas regenerativas, a medição de estimativas do balanço de carbono, a promoção da expansão responsável, o estímulo ao acesso a linhas de crédito rural sustentáveis e o fomento a sistemas integrados e à equidade de gênero.