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Conheça o Integra Campo, projeto que apoia produtores de soja e pecuária no Tocantins

Realizada pela Fundação Solidaridad, a iniciativa promove a adesão de pequenos e médios agricultores ao uso de sistemas integrados com técnicas de baixo carbono
Ao permitir diversos cultivos numa mesma área, os sistemas integrados trazem maior rendimento produtivo e menores emissões de carbono. Foto: Fundação Solidaridad

Promover a adoção de sistemas integrados na produção de soja e pecuária no estado do Tocantins. Este é o objetivo do projeto Integra Campo, desenvolvido pela Fundação Solidaridad com o apoio do Soft Commodities Forum e da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Com duração prevista de três anos, seu público-alvo são pequenos e médios produtores e produtoras, distribuídos em quatro principais municípios: Santa Rosa do Tocantins, Monte do Carmo, Peixe e Porto Nacional.

O território tocantinense é uma forte fronteira agrícola. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas em 2022, o estado produziu mais de 10 milhões de cabeças de gado e 3 milhões de toneladas de soja. Apesar dos números expressivos, sua realidade ainda apresenta uma pecuária extensiva e uma produção de soja que se expande principalmente sobre novas áreas, não aproveitando o uso de áreas aptas de pastagens degradadas para conversão em áreas produtivas.  

A metodologia do projeto foi desenvolvida para promover os sistemas integrados, que consistem no uso de dois ou mais arranjos produtivos numa mesma área, principalmente lavoura e pecuária, que aumentam a diversificação e a produtividade na região sem a necessidade de avançar sobre a vegetação nativa. Seu foco está na recuperação de pastos degradados, que viabiliza um melhor uso do solo, seja para a produção de grãos ou para um pecuária intensiva, melhorando o ganho de peso dos animais e diminuindo as emissões de gases de efeito estufa (GEE). A Coordenadora de Projetos da Solidaridad, Natalie Ribeiro, comenta sobre seus benefícios:

Os sistemas integrados permitem que os produtores tenham cultivos variados em suas propriedades, como agricultura, pecuária e componentes florestais. Graças a essa diversificação, há a possibilidade de aumentar a renda. Essa forma de manejo também facilita o controle de pragas e doenças, além de melhorar a saúde do solo, aumentando sua matéria orgânica e a retenção de carbono. O componente florestal pode ajudar no conforto térmico do animal, que não gasta energia para equilibrar a temperatura corporal, e estimular o aumento do consumo de alimento. A produção se torna cíclica, onde um sistema complementa a efetividade do outro.”

Mesmo proporcionando uma maior eficiência, a adesão a sistemas integrados e a recuperação de pastagens degradadas demanda, inicialmente, investimentos na propriedade que nem sempre são acessíveis aos pequenos e médios produtores. Considerando esse fator, o Integra Campo inclui em seu escopo a orientação para agricultoras e agricultores sobre finanças verdes – linhas de crédito disponíveis para a implementação de práticas que tenham a sustentabilidade em sua essência.

A adesão a sistemas integrados pode otimizar a produção de soja e pecuária no Tocantins, aumentando a produtividade a partir de práticas sustentáveis. Foto: Fundação Solidaridad

Diagnóstico e articulação territorial

As ações do projeto tiveram início no último trimestre de 2023, por meio de um diagnóstico técnico e territorial: a equipe da Fundação Solidaridad foi a campo para conhecer de perto a realidade da região e avaliar os possíveis arranjos produtivos. Além do contato com os agricultores, a visita aos municípios também permitiu a aproximação de importantes atores para o entendimento do mercado local, como  a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senar Tocantins) e a Frísia Cooperativa Agroindustrial. Também já foram firmados acordos de cooperação técnica com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Tocantins (Ruraltins), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pesca e Aquicultura e a Conservação Internacional (CI).

Há muito interesse em receber iniciativas em prol do desenvolvimento da região, devido à necessidade do estado de se desenvolver, principalmente no âmbito da agropecuária sustentável. Nas conversas que tivemos, os parceiros em potencial estimaram a existência de dois a três milhões de áreas de pastagem com algum nível de degradação. Isso demonstra o potencial de melhoria, seja por meio do aprimoramento do solo destinado à pecuária ou para o plantio de soja, sem a necessidade de conversão de novas áreas do Cerrado”, conta o Coordenador de Projetos da Solidaridad, Leonardo Dutra.

Quatro URTs estão sendo implantadas para que produtores e técnicos possam conferir na prática o potencial produtivo dos sistemas integrados. Foto: Fundação Solidaridad

Serão trabalhados quatro tipos de arranjos produtivos: soja e pecuária, integração com componentes florestais, pecuária com grãos para o complemento da alimentação animal e recuperação de pastagens para agricultura com a intensificação da criação de gado. A funcionalidade de cada um desses arranjos poderá ser observada nas quatro Unidades de Referência Tecnológica (URTs) que foram implantadas no primeiro ano do projeto, sendo duas delas em propriedades rurais – Fazenda Invernadinha e Fazenda Elite -, uma na Feira Agrotecnológica do Tocantins (Agrotins) e outra na Feira Agrotecnológica da Região Sudeste do Tocantins (Agrosudeste). As URTs funcionam como “vitrines”, com bons exemplos a serem seguidos, além de possibilitarem a observação e a avaliação dos resultados de longo prazo.

Promover e ensinar boas práticas para produtores, produtoras, consultores, consultoras e estudantes é parte essencial do Integra Campo. Para isso, estão previstos ainda no primeiro ano seis dias de campo com visitas às URTs e treinamentos que abordarão temas como agricultura sustentável e de baixo carbono, manejo e condução de pastagens, assistência técnica com inclusão de gênero e linhas de crédito sustentável. Já no segundo e terceiro ano, os esforços serão canalizados para a adoção de sistemas integrados nas propriedades e a compilação dos resultados. 

Paula Freitas

Gerente de Cadeias Produtivas e Estratégias

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Paulo Lima

Gerente do Programa Amazônia

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