Cana-de-Açúcar, Notícia

Estudo destaca as experiências e lições aprendidas do programa Muda Cana

Fundação Solidaridad lança a publicação ‘Caminhos da Mudança’ e propõe uma reflexão sobre os desafios de se criar um modelo de assistência técnica integral a associações e produtores de cana-de-açúcar
Foco do Muda Cana, as associações são a porta de entrada para que os produtores possam receber assistência técnica e desenvolver práticas mais sustentáveis. Foto: Felipe Abreu/Fundação Solidaridad

O conhecimento e os dados gerados durante os primeiros seis anos do programa Muda Cana –  projeto iniciado em 2017 pela Fundação Solidaridad e a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), com apoio do Governo do Reino dos Países Baixos – foram documentados e estão disponíveis no estudo Caminhos da Mudança: Aprendizados do Programa Muda Cana para o fortalecimento do modelo de assistência técnica integral das associações de produtores de cana-de-açúcar. O nome da publicação diz muito sobre o seu conteúdo: ao trilhar a rota para promover uma assistência técnica (AT) mais efetiva, mudanças de percurso foram necessárias, especialmente para se adaptar ao nível de engajamento e profissionalização das associações.

Criado para dar suporte na adoção de boas práticas nas propriedades rurais, o programa começou com foco no uso de soluções digitais por parte de produtores e produtoras rurais. No entanto, identificou-se a necessidade de promover antes o fortalecimento das associações envolvidas. Nesse processo, a Gerente de Cadeias Produtivas e Estratégias, Paula Freitas, conta que houve o entendimento do papel sistêmico exercido por elas.

Tínhamos a premissa de que ao disponibilizar soluções digitais, levaríamos mais efetividade ao atendimento com foco nos aspectos agronômicos. Porém, mediante a parceria com a Orplana, passamos a conhecer melhor o trabalho das associações e identificamos que elas ofereciam um leque muito maior de serviços, seja relacionados a assistência jurídica, análise laboratorial, processos administrativos e de representação dos interesses dos produtores, que poderíamos apoiá-las também nessas outras frentes», diz.

A publicação detalha não apenas a metodologia adotada pelo Muda Cana, mas também as hipóteses levantadas e quais delas foram validadas ao longo do trabalho com as associações,  tendo em vista suas especificidades. O primeiro passo foi estabelecer uma relação de confiança, articulada pela Orplana, para só então avaliar suas demandas, potencialidades e desafios.

Seja na cana-de-açúcar ou em outras cadeias agropecuárias, as associações costumam ser a principal fonte de AT integral, que contempla uma série de serviços prestados aos produtores. Entretanto, algumas limitações – sejam de gestão, recursos ou equipe – podem fazer com que essa relação não aconteça da melhor maneira.

O mais importante do Muda Cana foi essa oportunidade de pensar em profundidade: como é a assistência técnica para uma cultura como a cana? Foi necessário desenvolver um instrumento bem rigoroso para entender o desenvolvimento das associações, e isso é um grande ganho», comenta Alejandra Carvajal, Gerente de Qualidade e Impacto da Solidaridad na América Latina e uma das autoras do estudo.

De acordo com a publicação, produtores têm diferentes necessidades para produzirem melhor e de forma mais sustentável, e isso se reflete nas associações. Considerar o contexto de cada produtor para uma assistência técnica customizada, a partir de um processo de escuta ativa e empatia, foram alguns dos grandes aprendizados do programa destacados. Para detalhar as experiências do ponto de vista das associações e seus agricultores associados, o estudo traz cases da Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana) e da Associação dos Fornecedores de Cana da Região Oeste Paulista (AFCOP).

A primeira fase do Muda Cana chegou ao fim em dezembro de 2022, resultando no fortalecimento de 23 associações vinculadas à Orplana –  o que equivale a quase 85 mil hectares de cana-de-açúcar e cerca de 4 mil produtores. Segundo a gestora da AFCOP, Edneia Cornaccini, ao longo de seis anos foi possível acumular experiências que dizem muito sobre a possibilidade de uma AT integral mais eficiente.

Com o Muda Cana, assumi o cargo de gestora e, em 2022,  fizemos a redefinição da missão, visão e valores da AFCOP, colocando o associado no centro de todas as decisões e criação de produtos e soluções. Dessa forma, o associado passou a ver mais valor na associação», observa.

O estudo apontou que a AT integral oferecida pelas associações deve ser baseada nas demandas de seus produtores. Foto: Felipe Abreu/Fundação Solidaridad

Para a Coordenadora de Monitoramento e Qualidade da Fundação Solidaridad, Mariana Alves, que também assina o estudo, a publicação disponibiliza as ações do Muda Cana e sintetiza as melhorias obtidas nas associações. Além disso, ela destaca que o sucesso de projetos que visam o fortalecimento de estruturas locais e seus atores depende de um fator essencial: a habilidade de ajustar a rota durante o percurso.

“Tivemos muitos aprendizados, coisas que deram certo e que também não funcionaram. A grande quantidade de experiências faz com que o documento seja rico em detalhes e uma inspiração para futuros projetos, não só na cadeia produtiva da cana”, diz.

Acesse a publicação em português e inglês.

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