Cacau, Notícia

Terruá Tuerê se consagra na principal premiação de cacau do Brasil

Produtores de Novo Repartimento levam primeiro e segundo lugares na categoria Blend. A medalha de ouro ficou com João Rios, cuja história com a cacauicultura tem a influência do pai e a parceria da esposa

A comitiva de produtores, técnicos e colaboradores da Solidaridad tomaram o palco da cerimônia para celebrar os novos prêmios do Terruá Tuerê. Foto: Fundação Solidaridad

Com quase 30 prêmios, nacionais e internacionais, o Terruá Tuerê foi o grande destaque do IV Concurso Nacional de Qualidade Cacau Especial do Brasil. Participantes do Programa Amazônia da Fundação Solidaridad em Novo Repartimento (PA), os produtores João Rios e Francisco Cruz conquistaram, respectivamente, o primeiro e o segundo lugar na categoria Blend (mistura) com as melhores amêndoas e receberam prêmio em dinheiro. Outros dois participantes ficaram como finalistas: Waldemiro Broechl e Willian Broechl. No ano passado, o assentamento Tuerê levou medalha de bronze com João Rios.

Com cerimônia na Estação das Docas, em Belém, em 25 de novembro, a premiação é uma iniciativa do Comitê Nacional de Qualidade de Cacau Especial e organizada pelo Centro de Inovação do Cacau e a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Esta edição do concurso funcionou também como etapa classificatória para o Cocoa of Excellence, principal premiação internacional no setor e que é realizada bienalmente na França. Além dos oito premiados, o produtor William Broechl também foi classificado para a competição global, que acontece em 2023 durante o Salon du Chocolat de Paris.

Este resultado consolida a região do Tuerê como um polo de cacau fino e mostra que a parceria entre produtor e técnico agrícola, com orientações sobre o processo de beneficiamento primário do cacau, faz toda a diferença. Além disso, gera ainda mais interesse no cacau Tuerê por parte dos chocolateiros, que demandam mais volume de trabalho e dão a oportunidade para mais cacauicultores produzirem amêndoas finas. E uma espiral muito positiva começa a acontecer: os produtores procuram aperfeiçoar suas práticas e melhorar o desempenho em sustentabilidade e a comunidade eleva a autoestima e se empodera”, afirma o Gerente dos Programas de Cacau e Pecuária da Fundação Solidaridad, Paulo Lima.

INFLUÊNCIA DO PAI

Com medalha de ouro este ano e bronze em 2021, João Rios nasceu em Barra do Corda, no Maranhão. Ele é o sexto filho de uma família de 12 irmãos. Quando tinha apenas seis anos, os pais, José e Maria Lúcia, decidiram se mudar de estado para melhores perspectivas e encontraram nas lavouras de cacau do Pará uma forma de sustentar a família. «Eu fico até meio emocionado em citar o nome do meu pai, pois ele foi muito importante. Hoje, problemas de saúde o fizeram perder a memória, mas o que ele transmitia de alegria para a gente ficou guardado. Papai foi um dos primeiros incentivadores do cacau na região, todos o tinham como uma inspiração. A gente deve a esses pioneiros, porque se não fossem eles, a gente não teria chegado aonde chegou”, comenta, agradecido.

Sexto de uma família de 12 irmãos, João se inspirou no pai, que foi um dos pioneiros da cacauicultura na região e se tornou referência para outros agricultores. Foto: Fundação Solidaridad

Aos 35 anos, João é um dos destaques na produção de cacau do Tuerê. No entanto, apesar de ter começado na lida de cacau desde cedo, foi só há cerca de três anos que ele viu a sua história mudar de verdade. Casado com a trabalhadora rural Nayara Chaves, de 26, e pai do pequeno Elli, de 2, ele destaca o papel da esposa na lida diária para progredir e o incentivo da Fundação Solidaridad, que o ajudou a ganhar notoriedade, reconhecimento e melhores condições de vida em pouco tempo.

“A minha história com o cacau começou dentro de casa, ainda pequeno. Já a história com o cacau de qualidade foi meio que por acaso. Nayara foi quem me ‘arrastou’! Ela queria muito fazer um curso de chocolate artesanal com o pessoal da Solidaridad, mas só as mulheres dos produtores que eram atendidos podiam participar e eu ainda não estava no projeto. Foi um empurrão na minha vida, pois foi aí que procurei a Solidaridad”, conta ele, lembrando do início da parceria em 2019, quando sequer imaginava que alcançaria tantos sonhos a partir dali.

‘SOLIDARIDAD É FAMÍLIA’

Eu devo muito ao incentivo do pessoal da Solidaridad e da Nayara. Essa parceria é ‘o acreditar’. Quando eu comecei, eu me perguntava: por que eu estou participando disso? Para quê? Mas os técnicos chegavam com cursos interessantes de poda, de melhoramento de amêndoas, e eu me desafiava a gerar resultados. Eles nos capacitaram e nos deram a vontade de crescer. A gente até pode crescer sozinho, mas demora…com parcerias, a gente vai mais longe. Por isso, falar da Solidaridad é falar de família. Eles chegaram na nossa região e passaram a fazer um trabalho muito bonito com todos”, afirma.

A esposa Nayara se interessou pelo trabalho da Solidaridad na região e se tornou a grande parceira de João no trabalho com o cacau. Foto: Fundação Solidaridad

Em 2020, apenas um ano depois de iniciar a parceria com a Fundação, João foi selecionado para representar o Brasil no Cocoa of Excellence e conquistou o oitavo lugar entre as melhores amêndoas do mundo. “Quando chegou esse resultado, não só para mim, mas para todos da família, para a região, foi algo muito importante. Ter a primeira amostra em oitavo lugar é para poucos! Mas se eu ganhei algum prêmio, eu não ganhei sozinho. É um prêmio de todos, em parceria. Fomos juntos na mesma direção, buscando um bom resultado”, comenta.

AUTONOMIA FINANCEIRA

Em mais de três anos de parceria, com resultados expressivos e melhoria de renda, João já consegue custear os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). Ele entende a importância que a ATER, oferecida pela Solidaridad, teve na sua trajetória e por isso faz questão de continuar sendo assistido por técnicos. “Hoje eu tenho o prazer de poder pagar por esse trabalho. O nosso sonho é ver outros produtores encostando, chegando junto, dando o devido valor à assistência técnica”, afirma.

Com novas perspectivas de trabalho e uma renda melhor no fim do mês, João já consegue ter uma vida confortável, com uma casa boa para morar e tempo para lazer e descanso com a família.

No início éramos eu e a Nayara dando conta do recado, mas hoje conseguimos pagar uma pessoa para nos ajudar. Todo mundo tem sonhos, mas alguns estavam muito distantes. Quando a Solidaridad nos ajudou a produzir e oferecer um cacau de qualidade para o Brasil e o mundo, fez com que a gente se aproximasse mais desses sonhos”, revela.

APOIO E PROJETOS

Em execução desde 2015, o Programa Amazônia já teve o apoio financeiro do Governo do Reino dos Países Baixos, da Good Energies Foundation e da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad), por meio da Iniciativa Internacional Norueguesa de Clima e Florestas (NICFI). Em 2021, entrou em nova fase com o projeto RestaurAmazônia: em parceria com o Fundo JBS pela Amazônia e a Elanco Foundation, a iniciativa ganhou escala e atenderá 1,5 mil famílias produtoras até 2026.

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