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Mulheres quebram coco e estigma no Maranhão

Fundação Solidaridad identifica oportunidade para que quebradeiras de coco babaçu adotem soluções digitais na gestão e escoamento de seus produtos

Importante fonte de renda para as comunidades extrativistas, o babaçu tem maior valor agregado quando usado na produção de itens de panificação e confeitaria. Foto: Solidaridad

Considerada uma “mãe” pelas comunidades de mulheres quebradeiras, que lideram sua produção, a palmeira do coco babaçu tem uma grande importância econômica e cultural. Afinal, ela é responsável por fornecer alimento, renda, diferentes materiais para construção de residências, artesanato e carvão como fonte de energia para milhares de famílias da região da Mata dos Cocais, que compreende parte dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Pará e Tocantins. Por se tratar de uma produção extrativista, é uma cadeia menos estruturada e que enfrenta desafios, como a baixa adoção de tecnologias. 

Para endereçar essas e outras questões, a Fundação Solidaridad executa o projeto Paisagens de baixo carbono no Maranhão. A iniciativa, que conta com o apoio da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), pretende trabalhar a equidade de gênero e contribuir para um desenvolvimento sustentável do território maranhense no arranjo produtivo do coco babaçu. Em razão do cenário de desvalorização e baixa estruturação da atividade, o projeto visa profissionalizar as quebradeiras do Nordeste do estado por meio da adoção de soluções digitais para auxiliar na gestão e no escoamento da produção. Essas ferramentas permitirão que elas acessem informações em formato audiovisual amigável e aumentarão a eficiência da assistência técnica com a coleta, processamento e visualização de dados indicadores.

De acordo com o Gerente da Unidade de Soluções Digitais da Fundação Solidaridad, Denis Oliveira, a educação digital e o suporte às mulheres será capaz de atrair mais jovens da comunidade para a atividade produtiva, além de contribuir para uma produção mais eficiente e rentável.

O principal gargalo é a comercialização do coco babaçu com um maior valor agregado, que são os produtos de panificação e confeitaria. É um desafio para as quebradeiras conseguirem se organizar e entrar em mercados locais com esses produtos. Com as ferramentas digitais, elas podem obter apoio para a gestão da produção com enfoque na comercialização. E por meio do aplicativo, elas receberão informações úteis sobre rotulagem, embalagens, acesso a novos mercados e poderão divulgar os produtos na internet”, afirma.

 

Para pensar em soluções digitais adaptadas à realidade local, foram realizadas oficinas nos dois locais de atuação do projeto. Foto: Solidaridad

O projeto é realizado em duas localidades maranhenses: no assentamento do Canto Ferreira, na região de Chapadinha, e na comunidade quilombola de Pedrinhas, em Itapecuru Mirim. Em ambos locais, existem agroindústrias em funcionamento, gerenciadas por associações das próprias quebradeiras. “O que é inovador no projeto é que estamos fazendo uma agenda de transformação digital em duas comunidades lideradas por mulheres”, ressalta Denis.

DESAFIOS NO TERRITÓRIO

Com o diagnóstico realizado pela Solidaridad, foi feito um mapeamento dos principais desafios. Em relação ao uso de dispositivos móveis, ferramentas de comunicação como o WhatsApp têm uma alta adesão em ambos os territórios. Entretanto, a comunidade de Canto Ferreira enfrenta o empecilho do baixo acesso à internet. Em relação às agroindústrias, apresentam realidades distintas: a comunidade de Pedrinhas é mais estruturada, contando com uma marca própria e a divulgação nas redes sociais para comercialização dos produtos. Já em Canto Ferreira, existem duas plantas: uma focada na produção de óleo e sabão e outra em derivados de confeitaria e panificação. Os desafios se concentram na estruturação de processos em consonância com boas práticas de produção. 

A proposta de elaborar e executar um plano de inclusão digital para ambas as localidades engloba treinamentos participativos, curadoria de conteúdos técnicos a serem  disponibilizados no aplicativo Farming Solution, que terá sua linguagem e funcionalidades adaptadas. 

A extração do coco babaçu é uma atividade tradicional da região da Mata dos Cocais liderada pelas mulheres quebradeiras. Foto: Solidaridad

EQUIDADE DE GÊNERO

Apesar de ser uma atividade executada majoritariamente pelas quebradeiras, a questão de gênero ainda é uma pauta que merece atenção. Uma das finalidades do Paisagens de baixo carbono no Maranhão é levar recursos para apoiar as comunidades do babaçu, incluindo um plano de ação com diretrizes para estimular o empoderamento das mulheres. Para a Coordenadora de Projetos da Fundação Solidaridad, Natalie Ribeiro, a grande problemática é como elas estão envolvidas. “Uma coisa é realizarem as atividades e o trabalho na cadeia. Outra é elas terem autonomia na gestão do dinheiro e nas decisões, sendo as protagonistas de suas vidas”, diz.

Para propor soluções, a Solidaridad conta com o apoio de Marina Cromberg, consultora em gênero e inclusão social. Os temas-chave do diagnóstico a ser realizado nas comunidades são o acesso e o controle dos recursos naturais e da renda pelas mulheres e a participação feminina em diferentes espaços de tomada de decisão. Oficinas em grupo e entrevistas com lideranças locais serão a base para o levantamento das informações.

Queremos entender como se dão as relações de gênero, sejam nas atividades domésticas ou nas atividades produtivas. O que envolve cada atividade? Quem faz? Quando? Onde? Quanto tempo leva? Entendemos que essas relações criam oportunidades e obstáculos. Nosso objetivo é lançar luz sobre como reduzir as disparidades de gênero e garantir que as mulheres participem ativamente das tomadas de decisão, acessem os recursos necessários para a produção e os benefícios socioeconômicos da atividade”, destaca ela.

Outro desafio é a permanência na atividade. Cada vez mais, há menor participação dos jovens e aumento do êxodo rural. Durante a avaliação do grau de maturidade digital, identificou-se pontos positivos sobre o futuro da atividade, como o orgulho e o senso de pertencimento na atividade econômica. No entanto, observam-se desafios relacionados à adesão dos jovens, que não valorizam a produção do babaçu e acabam migrando para os centros urbanos em busca de outras oportunidades.

INFORMAÇÕES DE CONTATO

Denis Oliveira

Gerente de Soluções Digitais

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Natalie Ribeiro

Coordenadora de Projetos

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