De modo inovador, a Solidaridad Brasil inicia incubação de cooperativa local, que poderá continuar de maneira autossuficiente o trabalho de ATER a famílias do assentamento Tuerê
Uma das missões da Solidaridad é ampliar o acesso ao conhecimento e tecnologia para que agricultores e agricultoras tenham condições de perpetuar práticas sustentáveis em suas propriedades. Responsável por desenvolver um modelo de assistência técnica (ATER) para agricultura familiar no assentamento rural Tuerê, em Novo Repartimento (PA), a Solidaridad Brasil inicia, de forma inédita, a incubação da Cooperativa de Reflorestamento e Bioenergia da Amazônia (Coopercau). A ação visa compartilhar com a entidade o modelo de ATER desenvolvido – baseado em práticas de baixo carbono – e apoiar a construção de um modelo de negócios que internalize a assistência técnica.
O modelo de ATER criado trouxe um diferencial: inclui uma visão integrada da propriedade e da produção, com o cultivo de cacau em Sistemas Agroflorestais (SAFs) e pecuária de pequena escala. Desenvolvido há cinco anos no âmbito do projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia, ele contribuiu para a promoção da sustentabilidade e a inclusão socioeconômica da agricultura familiar nas cadeias produtivas.
Para o Diretor Vice-Presidente da Coopercau, Ney Ralison, a parceria é muito positiva, uma vez que ajudará na viabilização da continuidade do trabalho da instituição. Hoje, a cooperativa atende cerca de 200 produtores de cacau, mas apenas 40 são cooperados. Uma das perspectivas após a reestruturação do modelo de negócios é aumentar o número de produtores cooperados, fortalecendo a atuação da Coopercau em prol de uma produção sustentável.
Segundo Ralison, a região é carente de uma assistência técnica focada nas demandas de produtoras e produtores. “É importante deixar de lado a ideia de que a assistência técnica é algo que deve vir em segundo plano quando pensamos na produção agropecuária. Sendo assim, é preciso sensibilizá-los sobre a importância de se investir na ATER”, conta.
O Coordenador de Cacau e Pecuária da Solidaridad Brasil, Paulo Lima, explica que a estratégia visa empoderar os produtores com conhecimento, fazendo com que valorizem e tenham capacidade de custear a assistência técnica. “Sabemos o quanto custa para o produtor ter um número mínimo de visitas técnicas individuais e participar de treinamentos coletivos, como esse trabalho incrementou sua produtividade e o quanto esse incremento resultou em renda e melhoria das suas condições de vida. Assim, sensibilizamos sobre a questão financeira e a importância de pagar pelo serviço”, diz.
No início do projeto, a Solidaridad efetuou um estudo socioeconômico e ambiental da região, que contribuiu para acompanhar o progresso dos principais indicadores de impacto do projeto. Com essas informações, é possível acompanhar anualmente o desempenho nas propriedades: mensurar o ganho de produtividade, o incremento de renda e os avanços na implementação das práticas de baixo carbono – assim como as áreas não desmatadas. Em 2015, a produtividade média dos agricultores era de 700 quilos de cacau por hectare. Hoje, alcançaram um incremento de 37% na produção, chegando a 960 quilos.
A Amazônia brasileira precisa de arranjos institucionais público-privados que fortaleçam as organizações sociais e, consequentemente, melhorem os indicadores socioeconômicos da região. O processo de incubação tecnológica e institucional que a Solidaridad está desenvolvendo em Novo Repartimento agrega o valor da floresta em pé para o serviço de ATER. E a assistência técnica no bioma amazônico precisa ser parte da agenda de combate ao desmatamento e da melhoria da qualidade de vida de agricultores e agricultoras familiares”, observa a Gerente de Agricultura e Conservação da Solidaridad Brasil, Joyce Brandão.
PIONEIRISMO
Com início em 2015, o modelo de ATER desenvolvido no projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia chegou a 225 famílias. A assistência abrange quatro pilares: visitas técnicas individuais, uso de ferramentas digitais para gestão e monitoramento de impacto, criação participativa de unidades demonstrativas e treinamentos coletivos. Paulo Lima destaca a importância da iniciativa para o crescimento da região. “A gente vê que o cenário de assistência técnica e extensão rural no Brasil vem sendo sucateado desde a década de 1990, e cada vez menos produtores têm acesso a esse serviço. Quando a gente fala do Pará, o último Censo Agropecuário revelou que 93% dos produtores nunca tiveram acesso a ATER”, diz.
Para contribuir com o processo de incubação, a organização Conexsus auxilia na elaboração de um plano de negócios focado nas necessidades da Coopercau. A Gestora de Projetos da entidade, Cecília Simões, explica que o objetivo é apoiar a cooperativa a se posicionar, seja na cadeia de cacau ou no território. “A partir da base estabelecida pela Solidaridad, conduzimos um processo de co-construção do novo modelo de negócios com eles. Dessa forma, desenvolvem maior clareza de onde estão, para onde querem ir e quais partes eles precisam trabalhar para chegar lá”, diz. A especialista acredita que a proposta é inovadora e tem potencial para impactar toda a produção de cacau na Amazônia.
O projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia tem apoio e financiamento da Good Energies Foundation e da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad), por meio da Iniciativa Internacional Norueguesa de Clima e Florestas (NICFI).