O conhecimento e os dados gerados durante os primeiros seis anos do programa Muda Cana – projeto iniciado em 2017 pela Fundação Solidaridad e a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), com apoio do Governo do Reino dos Países Baixos – foram documentados e estão disponíveis no estudo Caminhos da Mudança: Aprendizados do Programa Muda Cana para o fortalecimento do modelo de assistência técnica integral das associações de produtores de cana-de-açúcar. O nome da publicação diz muito sobre o seu conteúdo: ao trilhar a rota para promover uma assistência técnica (AT) mais efetiva, mudanças de percurso foram necessárias, especialmente para se adaptar ao nível de engajamento e profissionalização das associações.
Criado para dar suporte na adoção de boas práticas nas propriedades rurais, o programa começou com foco no uso de soluções digitais por parte de produtores e produtoras rurais. No entanto, identificou-se a necessidade de promover antes o fortalecimento das associações envolvidas. Nesse processo, a Gerente de Cadeias Produtivas e Estratégias, Paula Freitas, conta que houve o entendimento do papel sistêmico exercido por elas.
Tínhamos a premissa de que ao disponibilizar soluções digitais, levaríamos mais efetividade ao atendimento com foco nos aspectos agronômicos. Porém, mediante a parceria com a Orplana, passamos a conhecer melhor o trabalho das associações e identificamos que elas ofereciam um leque muito maior de serviços, seja relacionados a assistência jurídica, análise laboratorial, processos administrativos e de representação dos interesses dos produtores, que poderíamos apoiá-las também nessas outras frentes», diz.
A publicação detalha não apenas a metodologia adotada pelo Muda Cana, mas também as hipóteses levantadas e quais delas foram validadas ao longo do trabalho com as associações, tendo em vista suas especificidades. O primeiro passo foi estabelecer uma relação de confiança, articulada pela Orplana, para só então avaliar suas demandas, potencialidades e desafios.
Seja na cana-de-açúcar ou em outras cadeias agropecuárias, as associações costumam ser a principal fonte de AT integral, que contempla uma série de serviços prestados aos produtores. Entretanto, algumas limitações – sejam de gestão, recursos ou equipe – podem fazer com que essa relação não aconteça da melhor maneira.
O mais importante do Muda Cana foi essa oportunidade de pensar em profundidade: como é a assistência técnica para uma cultura como a cana? Foi necessário desenvolver um instrumento bem rigoroso para entender o desenvolvimento das associações, e isso é um grande ganho», comenta Alejandra Carvajal, Gerente de Qualidade e Impacto da Solidaridad na América Latina e uma das autoras do estudo.
De acordo com a publicação, produtores têm diferentes necessidades para produzirem melhor e de forma mais sustentável, e isso se reflete nas associações. Considerar o contexto de cada produtor para uma assistência técnica customizada, a partir de um processo de escuta ativa e empatia, foram alguns dos grandes aprendizados do programa destacados. Para detalhar as experiências do ponto de vista das associações e seus agricultores associados, o estudo traz cases da Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana) e da Associação dos Fornecedores de Cana da Região Oeste Paulista (AFCOP).
A primeira fase do Muda Cana chegou ao fim em dezembro de 2022, resultando no fortalecimento de 23 associações vinculadas à Orplana – o que equivale a quase 85 mil hectares de cana-de-açúcar e cerca de 4 mil produtores. Segundo a gestora da AFCOP, Edneia Cornaccini, ao longo de seis anos foi possível acumular experiências que dizem muito sobre a possibilidade de uma AT integral mais eficiente.
Com o Muda Cana, assumi o cargo de gestora e, em 2022, fizemos a redefinição da missão, visão e valores da AFCOP, colocando o associado no centro de todas as decisões e criação de produtos e soluções. Dessa forma, o associado passou a ver mais valor na associação», observa.
Para a Coordenadora de Monitoramento e Qualidade da Fundação Solidaridad, Mariana Alves, que também assina o estudo, a publicação disponibiliza as ações do Muda Cana e sintetiza as melhorias obtidas nas associações. Além disso, ela destaca que o sucesso de projetos que visam o fortalecimento de estruturas locais e seus atores depende de um fator essencial: a habilidade de ajustar a rota durante o percurso.
“Tivemos muitos aprendizados, coisas que deram certo e que também não funcionaram. A grande quantidade de experiências faz com que o documento seja rico em detalhes e uma inspiração para futuros projetos, não só na cadeia produtiva da cana”, diz.
CONHEÇA A ATUAÇÃO DA FUNDAÇÃO SOLIDARIDAD NA CADEIA DA CANA:
Cana Substantivo Feminino: o impacto positivo do protagonismo das mulheres na cadeia sucroenergética
Fundação Solidaridad promove workshop e integração entre associações na cadeia da cana
Fundação Solidaridad tem projeto selecionado pelo fundo de impacto bonsucro
Solidaridad chega ao Uruguai para promover boas práticas na cana
Selecionados novos projetos de associações de cana