Cacau, Notícia

Tuerê é o novo terroir na produção de chocolates Bean to Bar

Solidaridad e Casa Lasevicius lançam quatro chocolates finos produzidos com amêndoas da região na Brazil Bean to Bar Chocolate Week, em São Paulo
Paulo Lima e Bruno Lisevicius celebram o lançamento do terroir Tuerê em São Paulo

A Solidaridad e a chocolateria Casa Lasevicius lançaram no dia 17 de maio, durante a Brazil Bean to Bar Chocolate Week, em São Paulo, um novo terroir da produção de chocolates finos no Brasil: da região do assentamento Tuerê, em Novo Repartimento, no Pará, com 70% de cacau. Desde 2015, a Solidaridad mantém na região um projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia, que promove a agricultura familiar de baixo carbono com 152 famílias produtoras de cacau. O primeiro lote de amêndoas especiais foi produzido nas fazendas dos seguintes agricultores: Jader, Odair, Rosilene e Zezinho. A expectativa é de que, até 2020, 20 produtores cheguem ao mercado bean to bar.

Durante o evento, o coordenador de Projetos Agropecuários da Solidaridad no Brasil, Paulo Lima, ministrou palestra sobre o potencial do projeto para o mercado bean to bar. “Trata-se de uma grande promessa de aumento de renda para os produtores do Tuerê, pois paga melhor pelas amêndoas, em média quatro vezes mais, e contribui para o desenvolvimento social das famílias e a preservação ambiental da região”, afirmou. A convite do Governo do Pará, a Solidaridad garantiu espaço no estande do evento para apresentar os chocolates a potenciais compradores.

Lima explicou que o trabalho da Solidaridad se baseia no empoderamento d@s produtor@s sobre o potencial de mercado de suas amêndoas e como as práticas agrícolas afetam a qualidade delas. “A cada ano, mais produtores investem em infraestrutura de beneficiamento, constituída de cocho de fermentação e secador solar. A expectativa é que tenhamos pelo menos dez produtores produzindo amêndoas finas até o fim do ano e outros dez até 2020”. Apesar de o conceito de terroir unificar as amêndoas regionalmente, as diferenças no sabor se justificam pelo material genético e manejo empregados em cada propriedade.

Para o especialista, o mercado bean to bar permite que @s agricultor@s lancem um novo olhar sobre o seu próprio negócio. “Eles normalmente vendem para o atravessador, que por sua vez vende para outro atravessador e, no final das contas, acabam não tendo um retorno tão bom quanto poderia. E agora temos a chance de gerar mais renda e mudar essa realidade”, disse.

Lima ainda comentou que, para diversificar e aprimorar o material genético usado para cacau premium e consolidar o Tuerê como um terroir de chocolates finos no Brasil, será realizado a partir de julho um trabalho de identificação de novas variedades nativas da região, com início na várzea do Rio Tocantins.

O projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia promove a agricultura familiar de baixo carbono em Novo Repartimento (PA), na região da rodovia Transamazônica. Ele é desenvolvido a partir da capacitação de 152 produtores do Tuerê – considerado um dos maiores assentamentos do mundo, com 170 mil hectares e 3,1 mil famílias – em boas práticas agropecuárias e recuperação produtiva de áreas de pastagens degradas com sistemas agroflorestais. A ideia é fazer com que a pecuária não avance nas áreas de florestas e que o cacau, nativo da Amazônia, seja a principal fonte de renda.

ESTÍMULO AOS PRODUTOR@S

O fundador da Casa Lasevicius, Bruno Lasevicius, comentou que a expectativa com o terroir Tuerê é a melhor possível. Ele acredita que quanto melhores forem os resultados, mais os produtores se sentirão estimulados a produzir amêndoas de qualidade. “Priorizamos o valor gastronômico do chocolate, ou seja, o prazer que dá a quem o consome. Mas se ele vier com outros valores como o cuidado com quem está cultivando o cacau e a preservação da floresta, tem muito mais valor”, observou.

Para a coordenadora de Mercado da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) do Governo do Pará, Luciana Centeno, um dos grandes indicadores de resultados para a cadeia produtiva do cacau no estado são as parcerias feitas com os produtores do Tuerê no âmbito do projeto da Solidaridad. “A proposta é criar mercados consumidores para os nossos produtores e escoar a produção”, disse. Segundo ela, quase 90% da produção de cacau no Pará concentra-se na região da Transamazônica.

Paulo Lima destacou o potencial das amêndoas especiais do Tuerê para o mercado bean to bar

BEAN TO BAR

A denominação bean to bar foi dada ao movimento criado em 1997 em São Francisco, nos Estados Unidos, de pequenas marcas de chocolate que promovem a produção artesanal da amêndoa do cacau (bean) até a barra (bar). Leva em conta não apenas a qualidade do produto, mas questões como preservação ambiental e a valorização do trabalho de produtor@s rurais.

Na definição da enciclopédia Larousse, terroir designa o conjunto de terras de uma região, consideradas do ponto de vista de sua aptidão agrícola e de fornecimento de um ou mais produtos característicos. São os chamados “produtos de terroir”. Não somente o vinho, mas também queijos, embutidos, geleias, chocolates, especiarias, mel e alimentos em geral. Em comum entre todos, o respeito pela excelência do produto e pela identidade de seu lugar de origem.

Assista ao vídeo do projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia:

Os novos chocolates marcam o sabor – e levam o nome – do cacau produzido por quatro agricultores: Jader, Odair, Rosilene e Zezinho