
Com o objetivo de medir os estoques de carbono e o balanço entre o sequestro e as emissões de gases de efeito estufa (GEE) durante o cultivo de erva-mate, a Fundação Solidaridad e a Embrapa Florestas lançam a calculadora Carbon Matte. Em formato de planilha eletrônica que armazena, processa e analisa os dados dos ervais, bem como calcula as emissões e as remoções de carbono durante o ano-safra, seu uso é voltado para produtores rurais, que podem usar a ferramenta ou contar com o apoio de técnicos e extensionistas. Os resultados obtidos em testes realizados em propriedades de Cruz Machado e Bituruna, no Paraná, indicam uma produção ambientalmente sustentável e climaticamente eficiente, que remove grandes volumes de dióxido de carbono da atmosfera e cujos sistemas produtivos funcionam como sumidouros de carbono.
A ferramenta de cálculo poderá ser usada como um instrumento de gestão das propriedades rurais para calcular o balanço de carbono a partir das práticas de manejo adotadas pelos produtores e produtoras. Além disso, pode apoiar processos de certificação ou rotulagem de produtos ambientalmente sustentáveis, bem como mensurar financeiramente potenciais ativos ambientais.
Ela permitirá quantificar a contribuição dos sistemas de produção de erva-mate para a mitigação das emissões de GEE, podendo também testar combinações de práticas de manejo que resultem em cenários mais promissores para a qualidade ambiental”, explica Josileia Zanatta, pesquisadora da Embrapa Florestas.
De uso simples e intuitivo, a Carbon Matte armazena os dados dos ervais, sejam eles cultivados sob sistemas adensados, consorciados ou a pleno sol. Entre as variáveis coletadas e inseridas na planilha, estão a produção de biomassa e as práticas de manejo adotadas. A planilha calcula as emissões e retiradas totais de carbono do sistema produtivo – biomassa vegetal e solo -, bem como de outras espécies florestais e agronômicas presentes nos ervais. Além disso, identifica as fontes de emissão, como o óxido nitroso, o dióxido de carbono e o metano, alguns dos principais GEE. Por fim, solicita informações como o histórico de uso e manejo do solo, a área do talhão, a densidade e altura das plantas, o intervalo de podas e a idade, a fase e a produtividade do erval.
Segundo Gabriel Dedini, Coordenador de Projetos da Fundação Solidaridad, os parâmetros técnicos foram desenvolvidos em propriedades rurais parceiras, nos municípios paranaenses de Cruz Machado e Bituruna. Os resultados obtidos com a calculadora indicaram um balanço de carbono negativo, ou seja, a retirada de dióxido de carbono da atmosfera pelos sistemas produtivos foi menor em relação às emissões realizadas por meio das práticas de manejo. Ele destaca que a condição de produção de erva-mate nessas cidades é bastante representativa para a produção no estado do Paraná, servindo como base de testes e calibragem para o uso da ferramenta. “A Carbon Matte poderá ser adotada em outras regiões, com adequações específicas que levem em conta as peculiaridades de clima e solo, expressos pelos indicadores e coeficientes técnicos integrados ao banco de dados da ferramenta”, diz.

Solo saudável, agricultura resiliente
Dentro do sistema de produção ervateira, o carbono é armazenado pela biomassa vegetal via fotossíntese e pelo solo, por meio dos resíduos vegetais que compõem a matéria orgânica. Gabriel reforça a importância da relação entre a saúde do solo e uma agricultura mais resiliente.
A calculadora pode auxiliar na compreensão dos estoques de carbono no solo mediante a presença de indicadores relacionados à produção de biomassa e matéria orgânica. Solos saudáveis são fundamentais para a formação, o desenvolvimento e boas performances dos ervais. Ao compreendermos a dinâmica do carbono no solo e em partes da planta, os produtores podem melhorar seus manejos e otimizar o uso de fertilizantes. Isso não apenas reduz os custos de produção, como minimiza o impacto ambiental. Dessa forma, boas práticas de manejo do solo condicionam o sistema produtivo a uma maior resiliência, tornando-o mais adaptado às mudanças climáticas”, afirma.
Os resultados obtidos em Cruz Machado revelam a sustentabilidade dos ervais quando bem manejados, independentemente do sistema adotado. Além do carbono retido na biomassa da erva-mate, composta pelo tronco, galhos, folhas e raízes, aquele que fica retido no solo também é contabilizado, explica Josileia Zanatta. “O sistema produtivo de erva-mate se confirma como uma tecnologia que contribui para a mitigação de GEE, e a calculadora contabiliza numericamente essa contribuição”, diz.

Indicadores customizados
Para a realização dos cálculos de emissão dos GEE, foram usados dados gerados exclusivamente para a região, com base em valores tabelados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). “A perspectiva é que sejam validados os indicadores da calculadora para outras regiões produtivas por meio de novas parcerias de trabalho, permitindo o aprimoramento dos coeficientes técnicos e dos fatores de emissão da cultura da erva-mate”, afirma a pesquisadora da Embrapa Florestas. Ela ainda destaca que a Carbon Matte trará maior valorização de um produto diferenciado para os consumidores, com acesso a novos mercados e aumento dos negócios.
A produção de erva-mate figura entre as 13 práticas agrícolas consideradas potencialmente mitigadoras pelo Plano ABC+, que consiste na segunda fase do Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura). Nesse sentido, a calculadora poderá subsidiar iniciativas na qual a erva-mate está incluída, como é o caso do Programa Nacional de Cadeias Agropecuárias Descarbonizantes (Programa Carbono + Verde), do Ministério da Agricultura e Pecuária.