Relatório desenvolvido pela Solidaridad revela o potencial do uso do bagaço da cana-de-açúcar brasileira como fonte de energia limpa para os neerlandeses
Em um cenário mundial de emergência climática e esgotamento das florestas, a agricultura pode ser de extrema importância para mitigar os efeitos do aquecimento global, preservar a biodiversidade e usar recursos naturais de maneira sustentável. Com o objetivo de fazer uso da biomassa subutilizada na cadeia de cana-de-açúcar, fomentando a economia circular, a Solidaridad Brasil e sua sede, a Solidaridad Network, lançam relatório em parceria com a Raízen, parceira no Programa ELO, e a RWE (empresa de energia elétrica dos Países Baixos): Boa Agricultura, Energia Boa: Uma visão de economia circular sustentável para resíduos de biomassa.
A discussão em caráter inédito explora a possibilidade de utilizar a biomassa de cana-de-açúcar produzida no Brasil como fonte de energia nos Países Baixos – usuários de fontes de energia não renováveis, como o carvão. Para a realização desse projeto, a publicação reúne pontos de vista de partes interessadas no Brasil e na Europa que incentivam a construção de uma economia circular na cadeia de cana e a transição para uma produção de baixo carbono.
O relatório destaca o potencial dos resíduos da cana-de-açúcar e deixa para trás práticas agrícolas que visam apenas a exploração, produção e desperdício. Como interlocutora do setor, a Solidaridad Brasil discutiu a temática com mais de 70 stakeholders do Brasil e do Países Baixos por meio de entrevistas e dois webinars. Em todos os debates com as partes interessadas, duas ideias sobre a biomassa se destacaram: a utilização dela como commodity pode beneficiar a população, os agricultores e impulsionar o desenvolvimento rural e seu uso a partir de uma abordagem em cascata, visando aplicações de alto valor.
Para a Gerente dos Projetos de Cana-de-Açúcar da Solidaridad Brasil, Aline Silva, pensar na utilização da biomassa de cana é primordial para criar uma cadeia ambiental e socialmente inclusiva ao proporcionar desenvolvimento econômico para os produtores e produtoras rurais. “Para a Solidaridad, envolver os produtores de cana nesse mercado é essencial para a criação de uma cadeia que também gere valor e beneficie seus elos mais vulneráveis”, comenta. E ela vislumbra um grande potencial de crescimento.
O uso da biomassa da produção de cana é importante quando se trata da transição para uma matriz energética mais limpa e de baixo carbono. No Brasil, isso já é uma realidade, porém, no caso dos Países Baixos, obter biomassa suficiente para essa transição é um grande desafio. E a partir das percepções de vários stakeholders da cadeia, o estudo aponta um cenário promissor para o desenvolvimento de um mercado de biomassa de cana no Brasil que pode se expandir para outros países”, avalia.
Há um debate feroz sobre o uso da biomassa nos Países Baixos, especialmente sobre como deve ser usada e quem deve usá-la. E nesse projeto descobrimos que a principal pré-condição para as empresas neerlandesas usarem a biomassa é que elas beneficiem aqueles que ajudaram a produzi-la: os produtores de cana. O debate vai continuar por muitos anos, mas não podemos deixar de lado milhões de toneladas de bagaço geradas na lavoura canavieira com potencial de gerar grande impacto para o agricultor e o meio ambiente”, afirma.