Erva-Mate, Notícia

Opinião | o mate da nossa mata

Com o uso de técnicas da agricultura regenerativa, a produção de erva-mate se torna vetor de conservação da Mata Atlântica no Sul do País

Historicamente, o foco da agenda pela sustentabilidade no Brasil põe ênfase no combate ao desmatamento. Os olhares estão voltados para a preservação da biodiversidade, na intermediação de conflitos e na proteção dos territórios de povos e comunidades tradicionais. Além, é claro, para uma urgente necessidade de mitigação das causas das mudanças climáticas no planeta. Venho apoiando e me dedicando profissionalmente a iniciativas alinhadas a esse contexto há mais de uma década. Entretanto, estamos olhando apenas para a “ponta do iceberg”.

Quando falamos sobre Brasil e sua biodiversidade, clima, povos e comunidades, a atenção de todas e todos volta-se para a Amazônia. Não é para menos, pois trata-se da última entre as maiores florestas tropicais do planeta ainda em pé, mesmo que ameaçada. Ao longo dos últimos anos, ciência e tecnologia foram aliadas em demonstrar, especialmente com o auxílio de grandes satélites, os grandes riscos que cercam a Floresta Amazônica. Dessa forma, a região se consolidou como destino de muitas ações em prol do futuro do planeta. E que não devem cessar, pois a conservação do bioma e o futuro da Terra convergem.

Mas precisamos ir além. O desmatamento é histórico e cultural no país, e acontece desde o chamado “descobrimento do Brasil”, em 1500. Ciclos de extração e agricultura, não muitos diferentes dos que vemos hoje na Amazônia, alavancaram a supressão territorial da floresta tropical mais biodiversa do planeta: a Mata Atlântica, que chegou a cobrir 130 milhões de hectares do nosso território e hoje é considerada um hot spot, ou seja, está em sério risco de desaparecer. Atualmente, restam apenas cerca de 12% da sua cobertura original, em espaços restritos e fragmentados. Nesse contexto, a preservação já não é mais suficiente para interromper o ciclo do desmatamento. Se estamos querendo discutir o futuro agroclimático do planeta, devemos avançar.

Devido à urgência da questão, a Organizações das Nações Unidas (ONU) lançou este ano a Década da Restauração de Ecossistemas. Trata-se de um apelo global que busca articular estratégias com os setores público e privado para reverter a condição de degradação dos nossos biomas, fomentando a restauração ecossistêmica em larga escala até 2030.

ERVA-MATE BRASIL

Sob esse prisma, a Solidaridad Brasil, por meio do programa Erva-Mate Brasil, desenvolve ações articuladas em redes de cooperação, para que, de maneira escalável e com apoio de lideranças locais, possamos estabelecer as bases necessárias para o desenvolvimento de cultivos de erva-mate mais eficientes, resilientes e integrados à paisagem. Mediante arranjos biodiversos e regenerativos, agricultores e agricultoras recebem apoio em assistência técnica e extensão rural, permitindo que melhorem sua performance ecossistêmica nas origens produtoras. Dessa forma, o programa fomenta a geração de renda e abre caminho para um futuro próspero às famílias.

A manutenção da Mata Atlântica em pé é estratégica para o cultivo da erva-mate. O casamento entre produção florestal não madeireira e conservação da sociobiodiversidade garante a resiliência necessária para a manutenção da viabilidade econômica dos sistemas produtivos de pequena escala no Sul do Brasil. É a instância local fazendo a sua parte na construção de uma agenda global em prol de uma economia mais inclusiva e de baixo carbono.

Por valorar a floresta, além de servir como barreira contra o avanço do desmatamento, a erva-mate é insumo qualificado para a restauração produtiva da Mata Atlântica. Tem papel crucial para o desenvolvimento territorial sustentável, especialmente por conectar os fragmentos florestais da paisagem com o ambiente rural. Apoiar iniciativas como esta é assumir a responsabilidade que temos para a construção de um futuro melhor.