Participante do projeto de soja da Solidaridad, a produtora Carminha Missio é referência do setor no Oeste da Bahia e se dedica a levar conhecimento e prática sustentáveis a pequenas e pequenos agricultores
Nascida no interior do Rio Grande do Sul, em uma vila chamada Arroio da Prata, distrito do município de Espumoso, Carminha Maria Gatto Missio descende de uma família italiana de dez irmãos. Ela é a quarta filha e a mais velha das mulheres. Hoje, aos 65 anos, é uma referência de liderança no setor de soja, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB). Com a missão de conscientizar e educar sobre os importantes temas de saúde do solo e conservação do meio ambiente, ela é uma das produtoras participantes do projeto de balanço de carbono da Fundação Solidaridad desenvolvido no Oeste da Bahia, região do MATOPIBA.
A temática do carbono é uma pedida sem volta. Precisamos promover as boas práticas e mostrar o valor que podem agregar na produção. Os médios e grandes produtores de soja da região deveriam ver essas atitudes como um projeto social – uma forma de ajudar o pequeno produtor. A missão do produtor rural precisa ser a de cuidar da natureza. O objetivo da nossa família é ‘botar da porta para fora’ uma missão de que o produtor precisa cuidar do solo, do meio ambiente e da natureza”, conta ela.
Carminha é de uma família com tradição agrícola nas veias e desde a infância esteve cercada de vivências no campo. “Nós sempre trabalhamos na lavoura. Tínhamos um pedacinho de terra e vivíamos da agricultura de subsistência. Fazíamos um pouco de tudo, criávamos porcos e vacas leiteiras, plantávamos cana…fazíamos até o açúcar mascavo e o melado. Tudo isso era produzido na fazenda, em casa. E o que sobrava, vendíamos um pouco. Aí dava algum dinheirinho para comprar aquilo que não se tinha na propriedade”, lembra. Na década de 1980, quando os filhos já estavam crescidos, o patriarca da família, Amélio, saiu em busca de novas alternativas.
Junto de alguns dos filhos, Amélio visitou algumas regiões do país, dentre elas o interior da Bahia, onde estão até hoje. Com o dinheiro que conseguiram vendendo a propriedade no Rio Grande do Sul, puderam fazer o seu primeiro investimento e adquirir um terreno bem maior na região por conta dos preços mais baixos. Os primeiros anos foram de muita dedicação e persistência. As condições eram muito diferentes da realidade do Sul do Brasil, era preciso buscar água a 30 quilômetros de distância, na divisa com o Tocantins, e viver em um barraco de lona montado em cima do caminhão da família.
Nessa mesma época, Carminha e seu marido, Celito Missio, viviam no Mato Grosso, onde ele trabalhava numa empresa de produção de sementes. Anos mais tarde, em 1998, no fim da tarde de um domingo de Páscoa, os pais de Carminha decidiram visitar a colheita de soja, mas o carro em que estavam se chocou contra um trator e não resistiram à colisão. Após o trágico episódio, nasceu oficialmente a Sementes Oilema, que foi batizada em homenagem ao patriarca da família: “Amélio”, lido ao contrário.
Com os três filhos do casal já criados, Carminha e Celito se mudaram em definitivo para Luís Eduardo Magalhães (BA) em 2005. Hoje a sementeira que tem em sociedade com os irmãos é de grande importância para a região, responsável por atender 2% da produção total de sementes de soja do Brasil.
Estamos há 40 anos na região como família e há mais de 20 como produtores de sementes certificadas, com qualidade, obedecendo o que a lei determina e respeitando o meio ambiente. O objetivo é que nossos cooperados possam fazer sementes de qualidade. E aí entra o trabalho sobre sequestro de carbono, que é tão importante de estendermos aos colaboradores. Tudo aquilo que fazemos e acreditamos, repassamos aos nossos cooperados”, destaca Carminha.
BALANÇO DE CARBONO
Ao lado da Fundação Solidaridad, Carminha participa do projeto de balanço de carbono no MATOPIBA. Em nome do Condomínio Agrícola Santa Carmem, respondeu à pesquisa para elaboração da calculadora de estimativa de balanço de carbono e participou de uma oficina para conscientização dos agricultores. Para Carminha, a união de produtores e produtoras rurais é primordial para o avanço na temática da sustentabilidade.
Eu acredito muito que ninguém faz nada sozinho. A gente só é forte em associação, em instituições e com representatividade. Nós, produtores rurais, independentemente do tamanho, precisamos estar juntos”, afirma.
SOLIDARIDAD NO MATOPIBA
No Oeste da Bahia, são desenvolvidas ferramentas e estratégias de longo prazo para ampliar a adoção de práticas de baixo carbono na produção de soja e estabelecer métricas de balanço de carbono compatíveis com a realidade da região. O projeto é apoiado pelo Land Innovation Fund e tem como parceiros locais a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA) e o Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI CIMATEC).
Com apoio da Iniciativa Internacional para o Clima e Florestas da Noruega (NICFI) entre 2018 e 2021, a Fundação Solidaridad atuou no MATOPIBA com base na dinâmica territorial da soja nos principais polos de produção, bem como no engajamento de organizações setoriais para uma agricultura de baixo carbono, com uso eficiente da terra no bioma Cerrado.