
Há cinco anos apoiada pelo Programa Amazônia da Fundação Solidaridad, Maria Gorete Rios é proprietária da primeira propriedade rural de Novo Repartimento, na Transamazônica paraense, a ter seu gado identificado individualmente pelo Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA). Concretizou neste ano sua primeira venda direta de gado ao frigorífico, prática que assegura uma maior autonomia e capacidade de negociação para as famílias pecuaristas.
Seus 20 animais comercializados fazem parte do grupo dos 543 negociados por venda direta somente em 2025, totalizando mais de R$1,4 milhões de reais nas transações dos pecuaristas apoiados pela Solidaridad. A promoção do acesso direto de produtoras e produtores aos frigoríficos elimina a dependência de atravessadores e possibilita ganhos econômicos de até 30% a mais. Além disso, o gado rastreado apresenta maior valor de mercado por atender a exigências de sustentabilidade e estar em conformidade legal. Atualmente, Gorete dedica uma parte de seu tempo como extensionista para incentivar outros pecuaristas a seguir o mesmo caminho de produtividade, transparência e responsabilidade social.
Eu defendo muito a rastreabilidade e hoje estou ganhando com isso, pois trabalho para uma empresa terceirizada no atendimento a produtores do Pará. Tem muito produtor sem informação ou com informações erradas, e tento desmistificar e falar a verdade. Na venda direta, a gente faz a previsão e eles vêm buscar os animais. Você não tem custo com nada: buscam na porta da sua propriedade e ainda pagam mais do que um atravessador. Muito mais prático, desde que esteja tudo de acordo com a lei e do ponto de vista ambiental”, afirma.
DA CIDADE PARA O CAMPO
Há 11 anos, ela mudou sua trajetória de vida, deixando para trás a cidade e seu trabalho como secretária de uma escola. Adquiriu o sítio Rancho da Pedra, a 8 quilômetros de Novo Repartimento, e iniciou seu trabalho com a terra. Assim que chegou, sua primeira preocupação foi cuidar do terreno e garantir uma área verde preservada em consonância com a sua produção. E recuperou uma Área de Preservação Permanente (APP) superior à exigida pela legislação ambiental para o tamanho de sua propriedade. “Primeiro, eu reformei tudo, recuperei a APP com plantio de açaí…comprei a terra muito degradada, cheia de pastagem e com vegetação pobre. Então ajustei o pasto, fiz um financiamento e comecei com o gado, mas vendia para o atravessador”, comenta.

Por meio da assistência técnica da Fundação Solidaridad, Maria Gorete implementou um alqueire paraense – aproximadamente 5 hectares – de pastejo rotacionado em sua propriedade. Atualmente, ela expandiu o método de criação de gado para uma área de 78 hectares, na qual parte é destinada ao cultivo de frutas nativas, como açaí e cacau, que são comercializadas para complementar a renda.
Entrei no projeto e os técnicos me tiraram muitas dúvidas. Essa parceria do rotacionado foi uma coisa boa, e as reuniões promovidas pela Solidaridad abriram muitas portas para mim. Foi a partir daí que fui atrás de melhorar: com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), tive as portas abertas para o mercado, com vendas diretas para o frigorífico. E é muito importante esse meio de campo que a Solidaridad faz ao ligar o produtor a outros órgãos da cadeia produtiva, como a Semas (Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade) e a Adepará (Agência de Defesa Agropecuária do Pará)”, reforça Gorete.
PECUÁRIA TRANSPARENTE
Desde 2024, o Programa Amazônia da Fundação Solidaridad é responsável por engajar as famílias produtoras da região da Transamazônica paraense no âmbito do programa Pecuária Sustentável do Pará. Pioneira no Brasil, a iniciativa resulta de um esforço conjunto entre os setores público e privado para impulsionar a produtividade, a transparência e a responsabilidade social e ambiental em todas as etapas da pecuária no estado. Seus dois principais pilares são o SRBIPA e a requalificação comercial. Com isso, os pecuaristas têm a oportunidade de aumentar a renda vendendo bovinos diretamente para grandes frigoríficos e avançar no processo de regularização ambiental.
O SRBIPA garante a rastreabilidade do rebanho, aprimorando a gestão, o controle sanitário e o acesso à venda direta. A requalificação comercial tem sido fundamental para produtores ainda fora do mercado formal. A Solidaridad apoia essa política pública com assistência técnica e orientação jurídica, ajudando os pecuaristas a avançar rumo à formalização. Com isso, abre-se um caminho para que, no futuro, possam vender diretamente aos frigoríficos, aumentando sua renda e autonomia, encurtando a cadeia produtiva e reduzindo o risco de desmatamento.

RENDA COM FLORESTA EM PÉ
A Solidaridad atua na pecuária familiar na Amazônia integrando produtividade, inclusão social e conservação ambiental. O trabalho tem como ponto de partida a realidade de pecuaristas familiares, historicamente marcados por baixa produtividade, dificuldades de acesso a mercados e vulnerabilidades socioeconômicas. Ao dialogar com os produtores, a equipe técnica pode desmistificar percepções negativas sobre a rastreabilidade — muitas vezes vista como uma exigência burocrática — e apresentar seus potenciais de valorização no mercado.
O modelo promovido pela Fundação Solidaridad fortalece a geração de renda das famílias rurais, estimula a conservação da floresta em pé e enfrenta de forma estratégica os principais desafios da cadeia pecuária, especialmente no segmento dos fornecedores indiretos. Dessa forma, a iniciativa contribui para a construção de um sistema produtivo mais justo, transparente e alinhado às metas globais de combate ao desmatamento e de valorização da agricultura familiar sustentável na Amazônia.
