Iniciativa da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, relatório aponta que o país tem condições de monitorar a origem da carne na Amazônia e no Cerrado
O Brasil pode monitorar a origem da carne bovina na Amazônia e no Cerrado, garantindo uma produção livre de desmatamento ilegal. Essa é a principal conclusão do estudo Rastreabilidade da cadeia da carne bovina no Brasil: Desafios e oportunidades, lançado pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e colaboração técnica de diversas organizações que compõem sua Força-Tarefa (FT) Rastreabilidade da Carne, entre elas a Solidaridad Brasil. O documento propõe 42 recomendações para fortalecimento do controle da qualidade ambiental da carne.
Para possibilitar o monitoramento na prática, seria necessário promover a integração de informações como a Guias de Transporte Animal (GTA), o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e os respectivos mecanismos legais que permitam sua validação. Além disso, é preciso seguir as exigências estabelecidas pelos acordos firmados no âmbito do Sistema Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia de Bovinos e Bubalinos (SISBOV) e pelos Termos de Ajuste de Conduta (TACs) entre o Ministério Público Federal (MPF) e os processadores de carne que operam na Amazônia Legal.
Estudo publicado na revista científica Science identificou que aproximadamente 17% das exportações de carne da Amazônia e Cerrado para a União Europeia teriam potencialmente origem de desmatamento ilegal. A conclusão foi feita a partir da análise de dados obtidos de GTAs, CARs e dos índices de desmatamento. A pesquisa também apontou que apenas 2% de propriedades rurais nos dois biomas são responsáveis por 62% do desmatamento potencialmente ilegal.
Para o Diretor de País da Solidaridad Brasil, Rodrigo Castro, o desafio da rastreabilidade no Brasil ainda é grande, mas que já é possível monitorar o desmatamento ilegal na cadeia da carne.
O estudo aponta para oportunidades com potencial de promover avanços práticos que ampliem a transparência e a confiança do mercado. É hora de abraçar esse desafio compartilhando a responsabilidade do avanço com cada elo da cadeia. Nesse sentido, a Solidaridad apoia produtoras e produtores rurais no uso mais eficiente da terra, aliando a produção à conservação dos recursos naturais na transição para uma agropecuária de baixo carbono”, afirma.
Não é de hoje que o consumidor busca entender de onde vem a carne que consome. Os esforços para implantação de um sistema de rastreabilidade na cadeia da carne bovina no Brasil tiveram início no ano 2000, resultando na criação do SISBOV em 2002 e dos TACs com frigoríficos em 2009. Este ano, grandes players do setor anunciaram medidas adicionais para garantir que seus produtos estejam livres do desmatamento ilegal.
“Assim como o agronegócio brasileiro é altamente competitivo em produtividade, somos igualmente competitivos na capacidade de produzir sem desmatamento ilegal e o que este estudo mostra é que temos como provar isso”, ressaltou o Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) Marcello Brito, co-facilitador da Coalizão Brasil, durante evento na Climate Week de Nova York, em setembro.
CONSUMIDORES CONSCIENTES
Embora confirme a complexidade da cadeia brasileira da carne bovina, o relatório menciona inovações capazes de garantir a disponibilidade das informações necessárias para permitir a melhoria dos sistemas de controle e rastreabilidade da produção. O estudo também considerou o contexto da cadeia da carne bovina no mundo e no Brasil, comparando a situação dos sistemas de monitoramento nacionais com os demais países que produzem carne para exportação.
“Em todo o mundo, cresce uma legítima pressão pelo direito de saber a origem e as condições de produção daquilo que consumimos. Ninguém quer comprar produtos feitos em condições humanas degradantes, por exemplo. Tampouco aceita-se que a produção seja feita às custas do meio ambiente”, afirma André Guimarães, Diretor Executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e também co-facilitador da Coalizão.
PARTICIPAÇÃO MULTISSETORIAL
O estudo foi elaborado pela consultoria Agrosuisse e teve a coordenação da FT Rastreabilidade da Carne, formada por representantes das seguintes organizações: Solidaridad Brasil, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Abag, Energia Renovável e Crédito de Carbono (EQAO), Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto Arapyaú, IPAM, JBS, Marfrig, Partnerships for Forests (P4F), The Nature Conservancy (TNC), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Vicente e Maciel Advogados e WWF Brasil.
O relatório Rastreabilidade da cadeia da carne bovina no Brasil: Desafios e oportunidades, é resultado da iniciativa Amazônia Possível, lançada na Climate Week de Nova York de 2019, quando o combate à ilegalidade foi eleito a maior urgência para o desenvolvimento sustentável no bioma, com foco especial na rastreabilidade da produção de proteína animal.
SOBRE A COALIZÃO BRASIL
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura é um movimento multissetorial que se formou em 2015 com o objetivo de propor ações e influenciar políticas públicas que promovam uma economia de baixo carbono, com a criação de empregos de qualidade, o estímulo à inovação, à competitividade global do Brasil e à geração e distribuição de riqueza a toda a sociedade. Fazem parte da iniciativa 200 empresas, associações empresariais, centros de pesquisa e organizações da sociedade civil.
Acesse a versão em português do sumário executivo e do estudo.
The English version is available here.