Webinar realizado em parceria com a Embaixada do Reino dos Países Baixos reforça a importância das parcerias para a viabilidade do programa
Para preservar a Amazônia, é preciso oferecer à população que vive na região alternativas econômicas factíveis, que gerem renda e promovam o desenvolvimento local, sem ampliar o desmatamento. E essas soluções agregam valor quando há o envolvimento de diversos setores da sociedade, que trazem conhecimento e recursos. Esses e outros temas foram abordados no webinar Agricultura familiar de baixo carbono na Amazônia: gerando impacto positivo por meio de parcerias públicas e privadas. Realizado no dia 19 de outubro de 2021, no âmbito do Fórum Mundial de Bioeconomia – que neste ano ocorreu no Brasil, em Belém (PA) –, foi acompanhado por centenas de pessoas, com mais de 600 acessos via plataforma on-line e YouTube.
O evento da Fundação Solidaridad e da Embaixada do Reino dos Países Baixos trouxe como exemplo o programa Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia, promovido no assentamento de Tuerê, município de Novo Repartimento, no Pará. Em 2021, a iniciativa ganha impulso com o projeto RestaurAmazônia, que tem apoio do Fundo JBS pela Amazônia na implementação de 1,5 mil hectares de Sistemas Agroflorestais (SAFs) na região da Transamazônica, beneficiando 1,5 mil famílias. Na primeira etapa da iniciativa, iniciada em 2015 com o apoio da Iniciativa Internacional Climática e Florestal da Noruega (NICFI) e da Good Energies Foundation, atendeu 230 famílias e ampliou em 30% a produtividade do cacau e em 20% a pecuária de cria, aumentou em 400% as práticas de intensificação da pecuária, reduziu o desmatamento em 40% e aumentou a renda média das famílias em mais de 50%. “Queremos construir um caminho para a bioeconomia, no qual a agricultura familiar tem papel relevante”, disse Rodrigo Castro, diretor da Fundação Solidaridad.
Segundo Andrea Aguiar Azevedo, diretora de Programas e Projetos do Fundo JBS pela Amazônia, o desmatamento também reflete o contexto no qual as famílias do campo vivem: pouco acesso ao crédito e à assistência técnica, falta de oportunidades e de escolaridade. “Comando, controle e fiscalização não resolvem o desmatamento. Na pecuária, a rentabilidade desses produtores é muito baixa, variando de R$ 70 a R$ 200 por hectare no ano. O produtor não consegue sobreviver com esse valor e amplia a área utilizada para manter o mesmo padrão de vida. E hoje não há espaço para uma pecuária que não seja sustentável”, ressaltou. Com apoio, instrução e conhecimento técnico, esses pequenos produtores podem aumentar a diversidade e melhorar a qualidade dos produtos ofertados e, com isso, ter mais produtividade, acesso a novos mercados e rentabilidade, eliminando o desmatamento e recuperando as paisagens degradadas.
O programa converteu espaços degradados em SAFs, que combinam culturas locais e diversificação produtiva, considerando a capacidade de mão de obra das famílias. É um novo modelo de desenvolvimento para a pecuária de pequena escala na Amazônia.
Um sistema que tem o cacau como carro-chefe, algumas espécies florestais e culturas anuais consegue gerar renda, segurança familiar e fluxo de caixa, pois essas culturas anuais podem trazer rendimento já a partir do primeiro ano, importante para a resiliência das famílias”, afirma Mariana Pereira, gerente de Programas de Meio Ambiente e Qualidade da Fundação Solidaridad.
Após a implementação da iniciativa, o cacau produzido no assentamento de Tuerê passou a ser reconhecido no Brasil e no exterior por sua qualidade e hoje está entre os 50 melhores do mundo. “Melhorar a qualidade é a chave. O programa dá o conhecimento necessário para que os produtores consigam fornecer para novos mercados”, destaca Paul Van de Logt, conselheiro agrícola da Embaixada do Reino dos Países Baixos no Brasil, parceira da primeira fase da iniciativa. O cacau produzido no assentamento, já intitulado o Terruá Tuerê, ganhou características especiais – sabor mais complexo e sofisticado –, que vêm sendo apreciadas pelo mercado.
ARTICULAÇÃO ESTRATÉGICA
A continuidade, a expansão e a perenidade desse tipo de iniciativa dependem das parcerias. Para Mariana Pereira, precisamos de novos atores e articulação estratégica daqueles que já estão trabalhando na região, com a canalização dos investimentos na direção correta, políticas públicas e privadas para apoiar esta transição e expandir o alcance das organizações implementadoras. Segundo Andrea Azevedo, parcerias com instituições de financiamento, com organizações que conhecem o campo, como a Solidaridad, com fornecedores de insumos, com compradores de cacau, com o Estado, com universidades, com centros de pesquisa, e com agentes que podem abrir novos mercados, como o de chocolates finos, são fundamentais. De acordo com Paul Van de Logt, diferentes instituições desenvolvem conjuntamente o sistema e geram melhores resultados.