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Estudo aborda a importância do bagaço de cana-de-açúcar para a inclusão de agricultores na bioeconomia

Realizada no estado de São Paulo, a pesquisa aborda pontos de desequilíbrio entre usinas e produtores na distribuição dos benefícios advindos do uso de resíduos canavieiros

Os desafios e possibilidades do aproveitamento do bagaço de cana-de-açúcar para uma transição bioeconômica mais justa no estado de São Paulo – que faz do Brasil o maior produtor canavieiro do mundo – é foco de análise na nova publicação da Fundação Solidaridad, Pode o bagaço da cana-de-açúcar facilitar a inclusão dos agricultores na bioeconomia?, em que são abordados o cenário atual e as potencialidades de desenvolvimento.

Elaborada por Silvia Seixas Lopes como dissertação de mestrado pela Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, a pesquisa foi apoiada pela Solidaridad, que contribuiu com a sua experiência no setor canavieiro, auxiliando na construção de questionários e na realização de visitas de campo no primeiro semestre de 2024. Mais de 60 atores da cadeia sucroenergética, como usinas, associações, fornecedores e especialistas, contribuíram para o estudo, ajudando na identificação do contexto, dos usos atuais do bagaço e das possibilidades de avanços na área.

O trabalho de campo foi muito importante, pois explicitou a dimensão da indústria e seu impacto nas cidades em que a cana é produzida. A relação próxima da Solidaridad com as associações facilitou a interação direta com fornecedores e os representantes de suas organizações. Também falamos com diversos pesquisadores. Já o acesso às usinas foi mais difícil, mas aquelas que nos receberam não só responderam às nossas perguntas, como também nos colocaram em contato com seus colaboradores, nos ajudando a entender seus sistemas produtivos”, relata Silvia Lopes.

Desenvolvido no estado de São Paulo, o estudo contou com a contribuição de cerca de 60 atores da cadeia canavieira. Foto: arquivo de Silvia Seixas Lopes

A publicação demonstra que o bagaço da cana-de-açúcar já é aproveitado pelas usinas de diversas formas, o que traz benefícios econômicos e ambientais para o setor brasileiro. Entretanto, esses ganhos ainda não chegam até os produtores, que são remunerados com base apenas no teor de açúcar total recuperável (ATR) da cana, avaliado, geralmente, em laboratórios da própria usina. A Coordenadora de Projetos de Cana-de-açúcar da Fundação Solidaridad, Letícia Ivanovici, comenta a importância das associações para a mudança desse cenário:

As associações não só oferecem suporte técnico, como também falam pelos seus integrantes. Seu nível de representatividade é alto, dado o fato de serem organizações coletivas e diversas. A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), por exemplo, coloca em pauta a opinião e a necessidade de fornecedores de diferentes regiões. Por isso, elas são a ponte que permite o diálogo entre a usina e os agricultores, para que a relação seja harmoniosa e que todos os interesses sejam contemplados”, diz.

Os sistemas de pagamento, o acesso a fertilizantes e os encargos de logística são pontos de desequilíbrio na relação entre produtores e usinas. Foto: Fundação Solidaridad/ Fellipe Abreu

O estudo aborda em detalhes os pontos de desequilíbrio identificados entre os produtores e a indústria devido a atual distribuição dos benefícios advindos do uso do bagaço da cana-de-açúcar, como os sistemas de pagamento, o acesso a fertilizantes, os encargos de logística, entre outros. Já as soluções propostas para que essa relação aconteça de forma mais equitativa puderam ser divididas em três grandes aspectos: justiça distributiva, processual e de reconhecimento.

“Quando evidenciamos uma situação como esta, ela também representa uma oportunidade de mudança. Eu estou otimista, pois o Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana), responsável pela definição do percentual pago aos fornecedores pela matéria-prima fornecida às usinas, está atualizando os custos de produção depois de muito tempo e há a possibilidade de que os lucros advindos da venda do bagaço passem a ser incluídos. Avanços como esse são formas de reduzir a desigualdade no setor”, explica Paula Freitas, Gerente de Cadeias Produtivas e Estratégias da Fundação Solidaridad.

Clique aqui e confira o estudo na íntegra.

Paula Freitas

Gerente de Cadeias Produtivas e Estratégias

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