Produtora de cacau de Novo Repartimento, no Pará, Lucileide Santana participou de diálogo em que conta a vida e os desafios da agricultura familiar no bioma amazônico
Para simbolizar os milhares de produtores e produtoras com quem a Solidaridad Brasil vem trabalhando na última década, a produtora de cacau do Tuerê, em Novo Repartimento, no Pará, Lucileide Santana, carinhosamente conhecida como “Nega”, foi convidada a participar de um diálogo durante o evento de comemoração dos dez anos da Solidaridad no Brasil, no dia 3 de outubro, em São Paulo.
Desde 2015, a Solidaridad mantém na região o projeto “Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia”. Desenvolvido com pequenas e pequenos produtores de cacau, a iniciativa promove modelos agroflorestais que combinam o cultivo do cacau com outras espécies nativas, gerando renda e inclusão social.
Em bate-papo com o coordenador de projetos da Solidaridad, Paulo Lima, Nega contou que nasceu em Novo Repartimento, a 60 quilômetros de onde hoje ela tem um lote no Tuerê. Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), trata-se de um dos maiores assentamentos de pequenos produtores rurais da América Latina, como mais de 200 mil hectares e 3 mil famílias. Fundado na década de 1980, o Tuerê é um exemplo do processo migratório e de ocupação desregulada da floresta amazônica. Novo Repartimento é um dos munícipios onde está localizado o assentamento, na região da Rodovia Transamazônica.
“Em 1997 fomos convidados para morar no assentamento. Meu pai foi um dos pioneiros na região”, declarou a produtora. Segundo ela, a partir de 1991, os moradores do Tuerê passaram a receber incentivo da prefeitura para cultivar cacau no assentamento. “A maioria dos que hoje têm cacau começou assim. Depois desse incentivo, todo mundo começou a plantar cacau também”, contou.
Assim como os cerca de 150 produtores atendidos pelo projeto desenvolvido pela Solidaridad na região, Nega vivenciou mudanças significativas na vida da sua família nos últimos anos. “Ser uma produtora rural mulher na Amazônia é muito gratificante, principalmente se tratando do cacau, que já foi muito difícil, mas hoje está melhor. Eu tenho orgulho de dizer que eu sou uma produtora de cacau do Tuerê, juntamente com a minha família”, declarou.
A sucessão no campo também está entre os principais objetivos da atuação da Solidaridad para a construção de uma agricultura ambientalmente responsável, socialmente inclusiva e economicamente rentável. No caso da Nega, isso vem se confirmando. “Meus dois filhos estão envolvidos, trabalhando na produção. Eles já pensam em ficar por lá e seguir em frente com esse mesmo trabalho”, disse.
Liderança feminina
Para as mulheres produtoras, o crescimento e a valorização da produção de cacau ainda gera um processo de empoderamento. A organização entre os produtores tem na figura da Nega uma liderança. “Acho que meu espírito de liderança está no sangue. Meu avô já era o líder da comunidade com o padre, e eu desde pequena acompanhei ele. Por isso eu aprendi a estar com as pessoas, a fazer esse trabalho de liderança da comunidade, de ajudar quem precisa”, lembrou.
Perguntada sobre como ela imagina o futuro das produtoras e dos produtores familiares na Amazônia, ela revelou: “Eu sou muito feliz. Eu não troco a roça pela cidade. Eu quero para o futuro mais ajuda, principalmente para as mulheres, que nós possamos mudar e melhorar a vida das mulheres produtoras. Que possamos ter mais parceiros como a Solidaridad”.
Saiba mais sobre o evento de dez anos da Solidaridad Brasil aqui.