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Cloves Rios: transformações positivas que vêm do cacau

O agricultor Cloves Rios, de 38 anos, enxergou na lavoura cacaueira um caminho para sustentar a família e vem ganhando destaque na região de Novo Repartimento, no Pará, pela produção de cacau e chocolate

Após tentar a vida em Belém, Cloves voltou para o interior decidido a apostar no cacau e recebeu assistência técnica e apoio da Fundação Solidaridad. Foto: Solidaridad

Nascido numa família maranhense de sete irmãos, o produtor de cacau Cloves Rios dos Santos, de 38 anos, se mudou para o Pará ainda criança. Filho de agricultores, Cloves acompanhou desde cedo os pais trabalhando duro na lavoura, mas sem conseguirem progredir. Por vários anos, ele, os pais e os irmãos moraram e trabalharam em Novo Repartimento, município da Transamazônica paraense, mas a situação econômica da família não melhorou. Ele lembra que as tentativas de plantio de outras culturas fracassaram, até que a família começou a cultivar cacau, mas também sem obter grandes resultados além da subsistência.

Para fugir da pobreza e tentar uma vida melhor, o jovem Cloves decidiu se mudar para Belém. Na capital paraense, ao contrário do que esperava, ele enfrentou muitas dificuldades e não conseguiu continuar os estudos. “Era inviável. Eu não tinha apoio, era muito desinformado, não tive como prosseguir”, lamenta. Em 2008, Cloves decidiu retornar para Novo Repartimento. “A única saída foi voltar e tentar achar um meio de vida. O meu pai estava impossibilitado de trabalhar, e meus irmãos tinham abandonado a propriedade, então eu vi uma oportunidade. Foi na lavoura cacaueira que eu enxerguei uma luz para sustentar a minha família”, comenta.

E foi assim, contrapondo e derrubando os obstáculos de uma história familiar marcada pela pobreza e a escassez, que Cloves começou a dar os primeiros passos para se tornar um produtor rural reconhecido e admirado no assentamento rural Tuerê. Casado com Alana e pai do menino Rhadade, de 10, e da pequena Yorhana, de 5, ele viu a sua vida tomar novos rumos e progredir.

Ao participar da Chocolat Amazônia, Cloves tem tido a oportunidade de conhecer o mercado e trocar experiências com outros produtores do Tuerê. Foto: Fundação Solidaridad

Os resultados mais expressivos do trabalho de Cloves surgiram em 2016, após conhecer a Fundação Solidaridad. Ele lembra o início da parceria e destaca a importância da assistência técnica numa região com poucos recursos e falta de informação. “Assim que a Solidaridad chegou com o projeto, a gente topou. A proposta deles de oferecer assistência técnica presencial foi muito boa, pois a gente queria saber das coisas, mas não tinha para quem perguntar. Falaram que iam ajudar a melhorar a produtividade e a qualidade, daí a gente virou parceiro”, conta.

Cloves faz um balanço dos últimos anos e consegue enxergar as mudanças e os frutos que a parceria com a Fundação trouxe para a vida dele e da família. Reflexivo, ele enumera as transformações positivas que vivenciou. “A chegada da Solidaridad foi fundamental. Hoje temos boas práticas na propriedade, principalmente na lavoura de cacau. Naturalmente vai aumentando a renda, por causa do trabalho tecnificado e de qualidade. A gente conseguiu alcançar os nossos propósitos, e já viajamos a vários lugares para conhecer a cadeia. Todo esse trabalho tem tido um impacto na nossa vida de um modo geral: família, economia, forma de trabalho, conquistas sociais…tudo tem melhorado. Eu sou muito grato por tudo o que tem acontecido”, afirma ele, que tem participado da Chocolat Amazônia, principal festival internacional de chocolate e cacau que acontece anualmente em Belém. 

Alana e Cloves são parceiros de vida e de trabalho. Além de criarem os dois filhos, eles produzem chocolate com o cacau que colhem no quintal. Foto: Acervo pessoal/Alana Rios

Satisfeito com a reviravolta que conseguiu dar em sua vida, Cloves lembra que não esperava chegar tão longe. “Eu só pensava em aumentar a produção, vender para o primeiro atravessador que aparecia, que era para pagar as contas. Fazer chocolate nem entrava nos nossos sonhos, estava muito longe da nossa realidade”, diz. “Fico emocionado de ver as barrinhas com meu nome, nosso serviço, nossa qualidade. Está aí o resultado de um trabalho parceiro. Fico muito honrado e feliz”, completa.

PARCEIRA DE VIDA

O agricultor faz questão de enfatizar o papel que a esposa Alana teve em todo o processo de crescimento da produção cacaueira da família. “Isso aconteceu a partir do momento em que a gente se uniu na busca por um objetivo. E a gente está alcançando isso, trazendo dignidade para a nossa família. Ela é meu braço direito, e digo que sem ela eu estaria desestruturado”, reconhece.

Em 2023, eles criaram a marca de chocolates Tuerê Terra Cacau, responsável por uma lógica de produção tree to bar (da árvore à barra), em que todo o processo para obter o chocolate de qualidade é executado por eles – desde as práticas agrícolas na lavoura até a embalagem das barras para comercialização.

Iniciamos o processo de pensar na marca visitando festivais de chocolate de qualidade, sempre com o incentivo da Fundação Solidaridad. Nesses eventos, vimos outros produtores familiares que faziam o seu próprio chocolate, o que despertou na gente a mesma vontade. Começamos a levar a nossa marca para os festivais e hoje somos bem reconhecidos na região. No ano passado, ficamos entre os dez melhores chocolates do estado do Pará e conseguimos a quarta posição na categoria ‘Melhor chocolate de origem da Amazônia 2024’ na Chocolat Amazônia. Isso foi um grande incentivo para comprovar que estamos no caminho certo”, conta Cloves.

Depois de ver realizados alguns objetivos e metas de vida, o produtor rural não pensa em parar e tem outros sonhos, inclusive para o Tuerê. “O assentamento é uma região muito promissora. Se eu pensasse em só fazer a minha amêndoa de chocolate, para mim estava bom, eu me aquietava e já estava realizado. Mas nós temos a possibilidade de chegar mais longe. Eu já sonho com uma agroindústria para beneficiar o cacau e outras culturas, diversificar a lavoura na nossa região e agregar mais valor para a agricultura familiar. É uma região de famílias agricultoras que merecem reconhecimento e valorização”, comenta.

As barras de chocolate Tuerê Terra Cacau podem ser adquiridas pelo perfil do Instagram ou pelo WhatsApp (94) 99278-0093.

CONTATO

Paulo Lima

Gerente de Cacau e Pecuária

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