É possível produzir um café rentável com boas práticas na lavoura. Arnaldo Adams Ribeiro Pinto, proprietário da Fazenda Morada da Prata, sobrinho-bisneto do pai da aviação Santos Dumont e filho de Maria Helena Dumont Adams, faz parte da quinta geração a trabalhar com cafeicultura, seguindo o legado familiar. Seus bisavós maternos e paternos cultivam essa cultura desde 1936 em Batatais (SP), na região da Alta Mogiana.
Arnaldo viveu sua infância, adolescência e início da vida adulta na cidade de São Paulo, mas sempre visitava Ribeirão Preto e Batatais nas férias. Durante a faculdade de arquitetura, sua mãe lhe arrendou 3 hectares de terra, onde começou sua jornada na agricultura plantando milho de pipoca, amendoim e feijão. Após o contato com a realidade da produção rural, acabou assumindo a fazenda em 2013.
Cafezal com práticas regenerativas
Desde que tomou as rédeas dos negócios da família, Arnaldo deu um novo rumo para o cafezal com a implantação da agricultura regenerativa e a produção de cafés especiais. Sua nova metodologia de produção sustentável resultou em grãos excepcionais que conquistaram diversas premiações e concursos de qualidade da cadeia cafeeira. Além disso, dos 456 hectares da fazenda, 150 são de mata nativa preservada, onde animais circulam livremente e espécies da Mata Atlântica são protegidas da extinção.
Minha mãe tocava a fazenda da forma que aprendeu com meu avô, no modo convencional. Quando comecei, justamente por ser fora da área, eu não tinha preconceitos na agronomia e me abria para o novo. O tema da sustentabilidade sempre fez parte de mim, do amor à natureza, à preservação e à vida. Foi natural buscar um formato em que pudesse obter resultados de uma forma sustentável”, conta.
Com a premissa da produção agrícola em harmonia com o meio ambiente, Arnaldo defende a agricultura regenerativa como a única alternativa para as produtoras e produtores rurais. “Ela é para mim o futuro do mundo. Trabalhar com os agentes naturais e saber como eles podem nos ajudar a produzir mais, com menos impacto e tirando o excesso de CO2 da atmosfera, é algo incrível, quase inacreditável», diz.
A temática, segundo ele, ainda é incipiente no setor agropecuário, e a falta de incentivo à pesquisa e à comercialização de agentes biológicos limita o crescimento de práticas sustentáveis no campo.
Uma colherada de terra virgem carrega mais de um bilhão de seres vivos. São eles que ajudam a manter o equilíbrio de pragas e doenças nas matas e que disponibilizam alimento para essas plantas e árvores que estão ali há anos ou até séculos! E o que conhecemos sobre essas bactérias e fungos? Estamos aprendendo agora, a indústria conseguiu identificar e disponibilizar ao produtor menos de duas dezenas de opções comerciais, mas existe um mundo a ser descoberto. Falta incentivo à pesquisa, à utilização e à disseminação do uso de agentes biológicos para o agro”, destaca Arnaldo.
Balanço de carbono no café
O contato de Arnaldo com a Fundação Solidaridad se deu a partir de sua participação no estudo Panorama para o balanço de carbono na produção de café, realizado na região da Alta Mogiana para incentivar a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis e resilientes.
O estudo revela que o manejo e a gestão orientados por práticas regenerativas tendem a contribuir para uma cafeicultura climaticamente mais eficiente, além de competitiva e rentável. Melhores práticas para o manejo do solo, redução do uso de fertilizantes nitrogenados, utilização de produtos biológicos, adoção de práticas para o manejo de resíduos e promoção da eficiência de máquinas agrícolas foram algumas das práticas responsáveis por reduzir a emissão de carbono elencadas na pesquisa. Na avaliação de Arnaldo, trabalhos como este são essenciais para o futuro da agricultura brasileira.
Neste momento de tantos questionamentos sobre o agro no Brasil e de tanta desinformação, o trabalho realizado pela Fundação Solidaridad é muito importante para mostrar aos agentes da cadeia o potencial de contribuição ao meio ambiente que a agricultura responsável pode trazer. Esse tipo de trabalho joga luz e esperança para o futuro do agro, para as comunidades e para as pessoas se sentirem mais seguras num futuro possível de habitar o planeta que, neste momento, infelizmente, arde de várias formas”, afirma.
Fazenda Morada da Prata
No século 19, Henrique Dumont, pai do aviador Santos Dumont, já plantava café nos arredores de Ribeirão Preto. Inovador para a época, sua fazenda era vista como a mais moderna da América do Sul, o que lhe trouxe o título de “Rei do Café”. Plínio Adams, genro de seu outro filho, Luiz Dumont, adquiriu a Morada da Prata em 1936. Em 1968, a viúva Adélia passou a administração da propriedade à filha do casal, Maria Helena Dumont Adams.
Sob os cuidados da mãe de Arnaldo, a Morada da Prata firmou-se com o tripé café, soja e milho na década de 1970. Atualmente, a fazenda está dedicada à produção de cafés especiais com a governança de Arnaldo Adams Ribeiro Pinto, que traz em seu DNA a paixão pela inovação e a busca pelo conhecimento.