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‘A agricultura regenerativa é o futuro do mundo’

Descendente de Santos Dumont, Arnaldo Adams produz cafés especiais a partir de práticas regenerativas e incentiva a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente em sua fazenda histórica 
A tradição cafeeira na Morada da Prata foi resgatada em 2010 e desde 2013 tem foco na produção de cafés especiais. Foto: Acervo pessoal/Arnaldo Adams

É possível produzir um café rentável com boas práticas na lavoura. Arnaldo Adams Ribeiro Pinto, proprietário da Fazenda Morada da Prata, sobrinho-bisneto do pai da aviação Santos Dumont e filho de Maria Helena Dumont Adams, faz parte da quinta geração a trabalhar com cafeicultura, seguindo o legado familiar. Seus bisavós maternos e paternos cultivam essa cultura desde 1936 em Batatais (SP), na região da Alta Mogiana. 

Arnaldo viveu sua infância, adolescência e início da vida adulta na cidade de São Paulo, mas sempre visitava Ribeirão Preto e Batatais nas férias. Durante a faculdade de arquitetura, sua mãe lhe arrendou 3 hectares de terra, onde começou sua jornada na agricultura plantando milho de pipoca, amendoim e feijão. Após o contato com a realidade da produção rural, acabou assumindo a fazenda em 2013.

Cafezal com práticas regenerativas

Desde que tomou as rédeas dos negócios da família, Arnaldo deu um novo rumo para o cafezal com a implantação da agricultura regenerativa e a produção de cafés especiais. Sua nova metodologia de produção sustentável resultou em grãos excepcionais que conquistaram diversas premiações e concursos de qualidade da cadeia cafeeira. Além disso, dos 456 hectares da fazenda, 150 são de mata nativa preservada, onde animais circulam livremente e espécies da Mata Atlântica são protegidas da extinção.

Minha mãe tocava a fazenda da forma que aprendeu com meu avô, no modo convencional. Quando comecei, justamente por ser fora da área, eu não tinha preconceitos na agronomia e me abria para o novo. O tema da sustentabilidade sempre fez parte de mim, do amor à natureza, à preservação e à vida. Foi natural buscar um formato em que pudesse obter resultados de uma forma sustentável”, conta.

Dos 456 hectares da fazenda, 150 são de mata nativa preservada, onde animais circulam livremente e espécies da Mata Atlântica são protegidas da extinção. Foto: Acervo pessoal/Arnaldo Adams

Com a premissa da produção agrícola em harmonia com o meio ambiente, Arnaldo defende a agricultura regenerativa como a única alternativa para as produtoras e produtores rurais. “Ela é para mim o futuro do mundo. Trabalhar com os agentes naturais e saber como eles podem nos ajudar a produzir mais, com menos impacto e tirando o excesso de CO2 da atmosfera, é algo incrível, quase inacreditável», diz.

A temática, segundo ele, ainda é incipiente no setor agropecuário, e a falta de incentivo à pesquisa e à comercialização de agentes biológicos limita o crescimento de práticas sustentáveis no campo.

Uma colherada de terra virgem carrega mais de um bilhão de seres vivos. São eles que ajudam a manter o equilíbrio de pragas e doenças nas matas e que disponibilizam alimento para essas plantas e árvores que estão ali há anos ou até séculos! E o que conhecemos sobre essas bactérias e fungos? Estamos aprendendo agora, a indústria conseguiu identificar e disponibilizar ao produtor menos de duas dezenas de opções comerciais, mas existe um mundo a ser descoberto. Falta incentivo à pesquisa, à utilização e à disseminação do uso de agentes biológicos para o agro”, destaca Arnaldo.

Balanço de carbono no café

O contato de Arnaldo com a Fundação Solidaridad se deu a partir de sua participação no estudo Panorama para o balanço de carbono na produção de café, realizado na região da Alta Mogiana para incentivar a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis e resilientes. 

Arnaldo pertence à quinta geração da família a trabalhar com a produção de café. Foto: Acervo pessoal/Arnaldo Adams

O estudo revela que o manejo e a gestão orientados por práticas regenerativas tendem a contribuir para uma cafeicultura climaticamente mais eficiente, além de competitiva e rentável. Melhores práticas para o manejo do solo, redução do uso de fertilizantes nitrogenados, utilização de produtos biológicos, adoção de práticas para o manejo de resíduos e promoção da eficiência de máquinas agrícolas foram algumas das práticas responsáveis por reduzir a emissão de carbono elencadas na pesquisa. Na avaliação de Arnaldo, trabalhos como este são essenciais para o futuro da agricultura brasileira.

Neste momento de tantos questionamentos sobre o agro no Brasil e de tanta desinformação, o trabalho realizado pela Fundação Solidaridad é muito importante para mostrar aos agentes da cadeia o potencial de contribuição ao meio ambiente que a agricultura responsável pode trazer. Esse tipo de trabalho joga luz e esperança para o futuro do agro, para as comunidades e para as pessoas se sentirem mais seguras num futuro possível de habitar o planeta que, neste momento, infelizmente, arde de várias formas”, afirma.

Um melhor manejo do cafezal com práticas regenerativas pode contribuir para uma cafeicultura climaticamente mais eficiente e rentável. Foto: Acervo pessoal/Arnaldo Adams

Fazenda Morada da Prata

No século 19, Henrique Dumont, pai do aviador Santos Dumont, já plantava café nos arredores de Ribeirão Preto. Inovador para a época, sua fazenda era vista como a mais moderna da América do Sul, o que lhe trouxe o título de “Rei do Café”. Plínio Adams, genro de seu outro filho, Luiz Dumont, adquiriu a Morada da Prata em 1936. Em 1968, a viúva Adélia passou a administração da propriedade à filha do casal, Maria Helena Dumont Adams.

Sob os cuidados da mãe de Arnaldo, a Morada da Prata firmou-se com o tripé café, soja e milho na década de 1970. Atualmente, a fazenda está dedicada à produção de cafés especiais com a governança de Arnaldo Adams Ribeiro Pinto, que traz em seu DNA a paixão pela inovação e a busca pelo conhecimento.

Gabriel Dedini

Gerente de Programas de Café e Erva-mate

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