Relatório lançado destaca o programa brasileiro Muda Cana entre as principais iniciativas
A Solidaridad acaba de lançar o relatório Uma década de iniciativa em cana-de-açúcar sustentável, que compila os projetos liderados pela Solidaridad nos últimos dez anos em busca da sustentabilidade na produção de cana-de-açúcar. A publicação fornece uma visão geral da implementação e desenvolvimento de 26 programas de sustentabilidade em 19 países produtores de cana, responsáveis por 74% da produção mundial. Entre eles está o brasileiro Muda Cana, criado em 2017 pela Solidaridad Brasil e a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana). O projeto trouxe inovação e sustentabilidade para o setor no Brasil – o maior produtor do mundo –, chegando a atingir cerca de 850 mil hectares e 65 milhões de toneladas de cana-de-açúcar produzidas.
Entre os outros programas realizados no Brasil que são citados, está o ELO, que desde 2014 é desenvolvido em parceria com a Raízen, o Top Cana – que serviu de embrião para o Muda Cana, num trabalho desenvolvido com a Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana), em São Paulo, entre 2016 e 2018 –, o RenovAção (2010-2015), o Programa de Apoio aos Produtores (2011-2016), o Cana: A cultura da inovação (2015), o Compartilhamento Real de Benefícios (2009-2013) e a Iniciativa de Apoio aos Produtores de Açúcar (2009-2012).
O relatório mostra que, mundialmente, a implementação dos programas desenvolvidos pela Solidaridad – sob a coordenação do indiano Mambully Chandrasekharan Gopinathan – se concentra em áreas de cultivo de cana-de-açúcar na América do Sul, América Central, África Austral, África Central e Ásia. Estima-se que na última década os projetos tenham alcançado mais de 1 milhão de hectares de produção sustentável de cana, envolvendo 75 usinas de açúcar e mais de 400 mil agricultores. As iniciativas foram responsáveis ainda por ajudar 33 usinas e duas associações de agricultores a obter a certificação Bonsucro, bem como 15 agricultores a obter a certificação RSB-(Mesa Redonda sobre Biomateriais Sustentáveis, na tradução livre).
Trata-se de um notável documento, com práticas e conhecimento local compartilhados ao longo de dez anos, conectado com uma agenda global de soluções inteligentes criadas após um profundo entendimento da indústria da cana. Os próximos dez anos pedem uma mudança sistêmica, para além da certificação, na qual a Solidaridad exercerá um grande papel”, comentou o Diretor Executivo da Solidaridad, Jeroen Douglas, no prefácio da publicação.
O programa Muda Cana é exemplo da aplicação da experiência da Solidaridad na execução de projetos no setor. Entre os depoimentos dos stakeholders destacados no informe, está o do gerente-executivo da Orplana, Celso Albano. Para ele, “o papel da Solidaridad no programa Muda Cana, desde o início, foi essencial. A experiência da organização em mais de 40 países nos ajudou com suas soluções digitais e aprendizado ao longo de sua história, dando à Orplana uma vantagem competitiva significativa no fornecimento de cana-de-açúcar.»
MUDA CANA
Baseado em quatro pilares – mudança de atitude, união e associativismo, desenvolvimento do negócio e aprendizado contínuo – o Muda Cana pretende colocar em prática a visão estratégica da Orplana: ser reconhecida como a principal porta-voz de produtores e produtoras de cana do Brasil, convergindo as necessidades de seus associados e permitindo a troca de conhecimento e experiências. Além da sustentabilidade, o programa também visa melhorar a competitividade dos produtores de cana-de-açúcar e a viabilidade dos negócios, aprimorando a capacidade técnica e gerencial por meio de assistência técnica remota e inteligente de dados.
Os desafios dos últimos tempos, como o fim da obrigatoriedade na cobrança de taxa para associados e a busca por processos mais sustentáveis, foram, na avaliação de Eduardo Romão, vice-presidente da Orplana, o grande mote para a mudança de estratégia da organização, sediada em Ribeirão Preto (SP), que buscou agregar mais valor ao cotidiano de suas 32 associações.
Tivemos que fazer um diagnóstico sobre a nossa atuação, a partir de uma conversa colaborativa entre os nossos diretores. E o Muda Cana foi o gatilho para essa autorreflexão”, lembra ele, que assumiu o posto de presidente da Associação Mundial de Produtores de Cana e Beterraba (WABCG) para o mandato 2019-2021.
Dentro desse processo, ele também destaca o Caminhos da Cana, ação iniciada em 2014 para percorrer as principais áreas de produção de cana e permitir a criação de um planejamento estratégico da Orplana até 2025. A expertise da Solidaridad Brasil no desenvolvimento da gestão e sustentabilidade na cadeia foi, segundo Romão, fundamental para o amadurecimento das ações. “Queríamos fazer com que as associações se aproximassem dos produtores, para que pudessem internalizar as tendências do setor. E a Solidaridad tem feito um trabalho muito bom em capacitá-los, entendendo os diversos contextos culturais em que atuamos”, explica ele, que citou ainda o trabalho de sensibilização realizado com os extensionistas.
MUDANÇA DE FILOSOFIA
Albano completa dizendo que o Muda Cana estabeleceu uma mudança de filosofia no modo de produção da cana-de-açúcar e, no caso dos pequenos produtores, a relevância do associativismo como forma de sobrevivência e união de esforços. “Criamos uma integração das metodologias para os nossos dois principais stakeholders: associações e produtores, na perspectiva da melhoria contínua. E com o trabalho em soluções digitais, a Solidaridad faz com que suas plataformas e aplicativos promovessem o acompanhamento e a melhoria da gestão”, afirma, em referência ao aplicativo Farming Solution.
Presentes nos estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, as 32 associações da Orplana englobam hoje cerca de 11 mil produtores. No contexto brasileiro, é como se a organização fosse o terceiro estado com maior produção de cana: 65 milhões de toneladas por ano, o equivalente a 11% da produção nacional. A projeção é que a Orplana alcance até 2025 todas as associações do setor e chegue a 20 mil produtores.
AUTOAVALIAÇÃO
Entre os serviços para associações e produtores, o Muda Cana oferece métodos de autoavaliação em que o produtor identifica seus pontos fortes e os itens a melhorar na sua gestão e na propriedade; apoio da equipe técnica da associação para a solução de problemas do cotidiano; oportunidade de aprendizagem sobre a produção de cana e assuntos relacionados; orientação para que o produtor esteja de acordo com a legislação trabalhista e ambiental e soluções digitais. Além disso, o Fórum da Cana promove discussões sobre cenários do agronegócio da cana, criando oportunidades e minimizando riscos e insucessos.
Celso Albano ressalta o trabalho de convergência que o Muda Cana faz a partir das ações coletivas que promove. “Elas geram transparência e equilíbrio nas relações, seja pela transferência de conhecimentos ou na orientação para uma melhor gestão”, diz.
Acesse a íntegra do relatório Uma década de iniciativa em cana-de-açúcar sustentável em inglês.
