Não bastasse figurar entre as 50 melhores do mundo, a amêndoa de cacau híbrida produzida por João Evangelista, produtor de cacau do assentamento Tuerê, em Novo Repartimento (PA), levou medalha de prata na maior premiação mundial do segmento, a do programa Cocoa of Excellence (Cacau de Excelência). Com a premiação, anunciada ontem durante transmissão on-line do evento direto de Roma, na Itália, o produtor do sítio JE figurou entre os vencedores do segundo lugar no continente sul-americano.
Isso é só alegria para mim e para minha família. Eu tenho uma vontade grande de que boa parte dos produtores entendam que isso é bom e que não é difícil de ser feito. Como os técnicos me falam, a gente tem que plantar, porque aquilo que plantamos mais cedo ou mais tarde acaba dando frutos. E foi o que eu fiz. Eu acreditei no trabalho que dei conta de fazer e vocês da Solidaridad também acreditaram e, por isso, deu certo”, disse ele, ainda impactado com a notícia.
“Que fantástico este resultado. Incrível a trajetória da ascensão do cacau Tuerê como um dos melhores do mundo. Em quatro anos, nossos produtores e produtoras conseguiram atingir um patamar de alto nível, fato que evidencia a eficiência da nossa assistência técnica em alavancar boas práticas. Hoje o mundo do cacau quer saber onde é o assentamento e quem são esses produtores. Conversei com o João após a premiação e ele já incorporou a função de embaixador do Tuerê e quer levar o nome do assentamento e das famílias por onde passar”, afirmou o Gerente de Cacau e Pecuária da Fundação Solidaridad, Paulo Lima.
Todas as 50 melhores amêndoas de 2021, das quatro regiões do globo – Ásia e Pacífico, África e Oceano Índico, América do Sul e América Central, México e Caribe – foram classificadas com medalhas de bronze, prata e ouro por região. Na América do Sul, outras quatro amêndoas foram agraciadas com a medalha de prata, incluindo a da produtora brasileira Angélica Lima Fernandes, de Ilhéus (BA). Já entre as três que levaram o ouro, está a do produtor João Tavares, de Uruçuca (BA). A premiação é organizada pelo Centro Internacional para Agricultura Tropical (CIAT) e a Alliance of Bioversity International.
Em outubro, o produtor João Evangelista viajou nove horas de Novo Repartimento até Belém, capital do Pará, para seguir rumo a Paris, onde suas amêndoas foram destaque em um dos principais eventos internacionais do setor, o Salão do Chocolate. O cacau plantado pelo agricultor familiar tinha acabado de entrar na lista dos 50 melhores do mundo, e o Governo do Pará não hesitou em convidá-lo a integrar a comitiva para o evento. Evangelista diz que não imaginava receber um reconhecimento como este e ressalta que, além do esforço, houve a vontade de aprender com as orientações repassadas pela Fundação Solidaridad.
Foi uma experiência única, porque eu vi coisas muito diferentes do nosso dia a dia por aqui. É um comércio que existe na área do cacau, do chocolate, muito importante. E é uma coisa que muita gente podia prestar atenção um pouco e ver o lado de trabalhar na área de qualidade. Foi muito bom pra mim ser reconhecido lá e ter levado o meu produto pra estar em destaque. Uma experiência muito boa, que me deixou muitos aprendizados e que quero colocar em prática”, relatou Evangelista.
TERRUÁ TUERÊ
O ano de 2021 consolidou o Terruá Tuerê e suas amêndoas de cacau como referência nacional e internacional no mercado de chocolates bean-to-bar. As amêndoas produzidas por cinco agricultores do Tuerê – João Evangelista, João Rios, Valdemiro Broechl, Willian Paulo Broechl e Francisco Cruz – ocuparam o ranking das melhores do Brasil. Todos participam do programa Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia, da Fundação Solidaridad, que desde 2015 apoia as famílias na região.
O produtor Francisco Cruz também tem muito a comemorar. Divulgado em dezembro, o resultado do concurso Chocolate Alliance Awards, do Northwest Chocolate Festival, de Seattle, nos EUA, revelou que o chocolate da Monjolo Chocolate Bar, produzido com sua amêndoa, foi medalha de ouro. Além disso, a barra de chocolate 70%, da Priscyla França Chocolates, produzida com as amêndoas de Cruz, foi eleita a melhor do Brasil, entre 34 concorrentes, no Prêmio CNA Brasil Artesanal 2021, promovido em setembro. “Eu aprendi que não adianta você ter muita quantidade se você não tiver qualidade. Em cima disso a gente vem trabalhando para ter sempre qualidade”, comentou. Pelo destaque de sua produção, em 2019 ele foi convidado a participar do Salão do Chocolate, na França.
Já o cacau do produtor João Rios ficou em terceiro lugar na categoria “Blend”, no III Concurso Nacional de Qualidade de Cacau Especial do Brasil – Sustentabilidade e Qualidade, que ocorreu em novembro, em Ilhéus (BA), e foi selecionado pelo Cacau de Excelência – por meio da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) e Centro de Inovação do Cacau (CIC) – entre os oito melhores do Brasil. “É muito gratificante saber que conseguimos chegar a um padrão de qualidade e que estamos representando nossa região. Só tenho a agradecer a Deus e à família Solidaridad, que sempre nos deu apoio técnico com visitas nas lavouras, treinamentos, na poda de cacau e na preparação das amêndoas”, afirma Rios.
Iniciativa do Comitê Nacional de Qualidade de Cacau Especial, o concurso analisou 94 amostras e prestou homenagem aos agricultores João Evangelista e Francisco Cruz pelos reconhecimentos recebidos ao longo do ano. As amêndoas cultivadas pelos produtores Valdemiro Broechl e Willian Paulo Broechl também estavam entre as 22 finalistas. O cacau de Valdemiro Broechl figurou ainda no ranking dos oito melhores do Brasil, do Programa Cacau de Excelência. Além disso, as amêndoas de Valdemiro Broechl compuseram o chocolate “Two Rivers” da Mission Chocolate, que recebeu medalha de ouro no festival de barras bean-to-bar em Londres, na Inglaterra, em setembro.
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
Com a iniciativa Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia – que conta agora com o projeto RestaurAmazônia, contemplado pelo Fundo JBS pela Amazônia -, as famílias agricultoras da região da Transamazônica passam a conhecer novas técnicas de manejo, baseadas em Sistemas Agroflorestais (SAFs), que utilizam áreas já desmatadas para cultivo e restaura paisagens. Com a assistência técnica da Solidaridad, somada às condições favoráveis do clima e do solo, permitiram que elas começassem a produzir um cacau com mais qualidade, e sabor mais complexo e sofisticado, muito apreciado pelo mercado de chocolates finos.
Muitas propriedades atendidas pela Fundação Solidaridad vêm diversificando a produção de bezerros com o plantio do cacau. Esta mudança contribui não só para ampliar a renda de produtores e produtoras, mas também beneficia o meio ambiente com a restauração das áreas de floresta. Produzido pela Solidaridad, o estudo Agricultura de Baixo Carbono na Amazônia – Cenários e oportunidades no balanço de emissões de GEE na produção agrícola familiar estima que cada hectare de agrofloresta de cacau é capaz de remover 16,2 tCO2e por ano, ao passo que cada hectare de pecuária é responsável pela emissão de 4,8 tCO2e/ha/ano.
SAIBA MAIS SOBRE A ATUAÇÃO DA SOLIDARIDAD NA AMAZÔNIA:
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