Amazônia, Brasil, Cacau, Notícia, Pecuária, Projeto

Bem Viver Amazônia: protagonismo das produtoras da Transamazônica em primeiro lugar

O projeto fomentou autonomia e geração de renda feminina por meio de encontros coletivos e atendimentos individualizados
Saúde da mulher, segurança alimentar e boas práticas produtivas foram alguns dos temas abordados durante os encontros. Foto: Fulô Filmes/Fundação Solidaridad

A Fundação Solidaridad realizou seu primeiro projeto voltado especialmente para questões de gênero em território brasileiro: o Bem Viver Amazônia. Por meio dele, as mulheres agricultoras do município de Pacajá (PA) passaram a reconhecer a contribuição essencial que fazem na vida e na roça de suas famílias. Agora, organizadas em grupo, trabalham para que seus produtos sejam fonte de renda e autonomia.

Iniciado em outubro de 2024, o projeto foi desenvolvido durante um ano, atendeu cerca de 50 mulheres e teve como foco integrantes de famílias atendidas pelo Programa Amazônia, selecionadas com base na participação que exercem na produção familiar. A Gerente de Programas da Fundação Solidaridad, Mariana Pereira, explica o contexto que o Bem Viver Amazônia foi elaborado:

Sempre tivemos um incômodo sobre como as mulheres não faziam parte daqueles espaços. Era muito comum a gente chegar para uma visita e a mulher se retirar porque ficava inibida em participar da conversa ou porque ia fazer o café. Vendo isso, a gente entendeu que era necessário destinar atenção e atividades específicas para que essas mulheres se sentissem parte e trouxessem suas demandas.»

O atendimento individualizado contou com a caderneta agroecológica, que permite às produtoras controlar aquilo que produzem, consomem ou vendem. Foto: Fulô Filmes/Fundação Solidaridad

Para atingir o objetivo de promover a geração de renda, garantir que as mulheres tenham voz ativa na construção de um futuro sustentável e fortalecer a agricultura familiar, o Bem Viver Amazônia desenhou uma estratégia de intervenção em duas frentes: atendimento individualizado e encontros coletivos. Um aspecto determinante do projeto foi a escuta, já que os temas abordados foram definidos pelas demandas das próprias produtoras, captadas num diagnóstico realizado no início do projeto.

O acompanhamento individual teve como base duas metodologias: o plano de vida, que incentiva as mulheres a colocar em perspectiva seus objetivos e desejos de médio e longo prazo, e a caderneta agroecológica – pensada para incluir também as produtoras não alfabetizadas -, que permite controlar o que é produzido, consumido ou vendido em suas roças. Ambas as abordagens visam a promoção da autonomia e, consequentemente, o desenvolvimento das famílias agricultoras. Amanda Paiva, consultora de gênero do projeto, explica:

Entendemos que o objetivo do projeto era atender mulheres rurais no contexto da Transamazônica, agricultoras que fazem seu trabalho dentro e fora de casa, nos quintais agroflorestais. Por isso, eram necessárias metodologias participativas, construídas em conjunto com essas mulheres, encorajando seu protagonismo e dando visibilidade a todo o trabalho delas.”

Os encontros foram pensados a partir da rotina das produtoras, contando com adaptações de local e horário, para que a mobilidade não fosse comprometida por grandes distâncias e suas tarefas na roça e na casa não fossem impactadas. Além disso, foram providenciados espaços dedicados às crianças, para que elas pudessem levar os filhos, se necessário.

Temas como saúde física e emocional, segurança alimentar, boas práticas produtivas e beneficiamento de cacau foram debatidos, garantindo um lugar de fala para mulheres de 20 a 60 anos com vivências diversas. Dessa forma, foi possível diminuir a distância – real e simbólica – entre elas, fator crítico na região da Transamazônica paraense.

O Bem Viver Amazônia contou com a parceria da Cargill e foi encerrado em outubro de 2025, mas seus frutos já estão começando a surgir. Um dos principais indícios é a realização do Fest Terra: Festival das Produtoras da Transamazônica. O evento reuniu mais de 100 pessoas e promoveu palestras informativas e a venda dos produtos das mulheres da região. A Coordenadora de Projetos da Fundação Solidaridad, Mariana Alves, comenta:

Nosso maior impacto foi o quanto as mulheres passaram a se reconhecer como grupo e a se auto-organizar. Elas compreenderam a força que têm quando atuam coletivamente e transformaram essa energia em ação concreta. O Fest Terra foi o resultado desse movimento, uma iniciativa idealizada, planejada e realizada por elas. O evento simboliza o protagonismo feminino e a capacidade dessas mulheres de mobilizar suas comunidades e criar seus próprios espaços de visibilidade e valorização.”

As produtoras atendidas pelo projeto também relatam um impacto positivo em suas realidades:

Confira também o vídeo sobre o projeto:

Mariana Pereira

Gerente do Programas

email