Em consonância com os compromissos da COP26, a Fundação Solidaridad cumpre sua missão de promover práticas de baixo carbono entre pequenas e pequenos agricultores e inseri-l@s como peça-chave na agenda climática global
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Em um contexto de mudanças climáticas e aumento constante da temperatura do planeta, como podemos seguir os compromissos assumidos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), realizada em Glasgow, na Escócia, no mês passado, para ações concretas que desenvolvam a resiliência climática dos sistemas agrícolas?
Em 2019, as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) atingiram novos níveis recordes. Após uma queda de 5,4% em 2020, elas voltaram aos níveis pré-Covid-19, e as de 2021 podem ser minimamente menores que as de 2019. Os líderes mundiais se reúnem há anos para determinar metas para redução das mudanças climáticas. Durante a conferência, mais de 40 lideranças assinaram a Agenda Breakthrough, um plano de tecnologia limpa para ajudar a limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. Entre os destaques, está a agricultura sustentável e resiliente ao clima.
Diante disso, o que nos cabe fazer neste momento?
Nesse sentido, a Fundação Solidaridad promoveu um call to action na COP26: As principais economias devem cumprir seus compromissos climáticos e aumentar os investimentos voltados para os pequenas e pequenos produtores com Soluções Baseadas na Natureza (SBN). Além disso, convocou as grandes economias a cumprir o compromisso de mobilizar pelo menos US$ 100 bilhões em financiamento climático por ano para ajudar os países em desenvolvimento. E conclamou a comunidade internacional a aumentar sua contribuição financeira em SBN e ações de adaptação e mitigação agrícolas. Atualmente, somente 3% do financiamento climático global é gasto em SBN e apenas 2% chegam aos pequenos produtores.
Na Solidaridad, capacitamos os produtores para que, trabalhando em suas propriedades, também conservem o solo, a água e a biodiversidade em suas comunidades. À medida que a produção agrícola floresce em ecossistemas que funcionam bem e oferecem serviços importantes – como a fertilização do solo, purificação da água, polinização e controle de pragas –, nossas intervenções fortalecem a prosperidade dos pequenos produtores ao mesmo tempo em que protegem os ecossistemas. A teoria é endossada pelo Diretor no Brasil da Fundação Solidaridad, Rodrigo Castro:
A agricultura é uma atividade que contribui fortemente para as emissões de carbono na atmosfera. Também está entre os setores da economia mais impactados pelas mudanças climáticas. Neste sentido, a agricultura tem papel relevante no desenvolvimento da economia de baixo carbono do futuro. Precisamos, cada vez mais, produzir alimentos melhores e que impactem menos o clima e a natureza. Com esse objetivo, a Solidaridad vem nas últimas décadas desenvolvendo soluções inovadoras que apoiam produtores rurais no aumento da produtividade, da renda e na redução das emissões de carbono. A experiência demonstra que produtores que fazem a transição para sistemas de produção de baixo carbono, tornam-se mais resilientes e sustentáveis.»
A Solidaridad está empenhada em trabalhar com os pequenos produtores para tornar seus sistemas de produção resilientes às mudanças climáticas e capacitá-los para se integrar a processos de desenvolvimento de baixas emissões que elevem seus fluxos de renda líquida. Trabalhamos ainda com outros atores da cadeia produtiva para adaptação às mudanças climáticas, mitigação das emissões de GEE, bem como obtenção e compartilhamento dos benefícios de cadeias produtivas climaticamente inteligentes.
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As ferramentas digitais oferecem enormes oportunidades para melhorar os esforços de ação climática e envolver os atores da cadeia produtiva. O Farming Solution, por exemplo, tem como foco a melhoria contínua e a aprendizagem. Os produtores rurais obtêm informações sobre seu desempenho social, ambiental e econômico por meio de autoavaliação e podem gerenciar as melhorias por um plano de trabalho. Com ferramentas com essa, os pequenos têm acesso às informações necessárias para avançar em práticas agrícolas sustentáveis.
Em escala global, nossa metodologia é baseada na agricultura de baixo carbono e proporciona ganhos de produtividade agrícola, de adaptação e de mitigação de GEE. Está estruturada em três etapas principais:
- Compreender o risco climático e as vulnerabilidades dos produtores;
- Promover modelos de negócios climaticamente inteligentes baseados na ciência para tratar os riscos e as vulnerabilidades;
- Medir os impactos da mitigação e adaptação às mudanças climáticas e o rendimento das intervenções sensíveis ao risco.
Na Amazônia brasileira, por exemplo, a Solidaridad desenvolveu uma calculadora para mensurar a pegada de carbono em Sistemas Agroflorestais (SAFs), especificamente nas cadeias do cacau e da pecuária, que pode servir de inspiração para o desenvolvimento de soluções em outras regiões e países que realizam intervenções em produtos e paisagens diversos.
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MERCADO DE CARBONO PARA PEQUENOS
Ao adotarem um modelo de agricultura de baixo carbono, pequenas e pequenos produtores prestam serviços ambientais essenciais, como o sequestro de carbono, a proteção da biodiversidade, a purificação da água e a conservação do solo. Os mercados de carbono são uma grande oportunidade para recompensá-l@s por seus serviços ambientais e incentivar a adoção de melhores práticas. Isso promove não só o incremento de renda, mas também é a melhor estratégia para garantir que mais agricultores e agricultoras familiares se comprometam a adotar práticas sustentáveis.
A Solidaridad tem em curso uma série de programas e pilotos que demonstrarão como os mercados de carbono podem beneficiar os pequenos produtores. Parceiro da Solidaridad, o Rabobank, por exemplo, criou um mercado que oferece custos de operação mais baixos e um preço de carbono significativamente mais alto em comparação com outros. Produtores e produtoras rurais recebem uma parte realmente justa de aproximadamente 80% do valor do carbono. A rigorosa coleta de dados implementada pela Solidaridad nos programas de café climaticamente inteligente na Colômbia e no Peru possibilitou os primeiros pagamentos de carbono para produtores integrados à plataforma. Atualmente, a iniciativa será testada em outros países, como Nicarágua, Honduras, Uganda, Serra Leoa, Índia e Indonésia.
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AÇÃO CONJUNTA
A Solidaridad trabalha com diversos atores nas cadeias produtivas agrícolas para desenvolver recomendações de políticas públicas e privadas de sustentabilidade locais e nacionais. Também atuamos para apoiar empresas na implementação de regulamentações nacionais ou padrões voluntários.
Por exemplo, por meio da Aliança Mesoamericana do Óleo de Palma (MAPA), a Solidaridad reúne milhares de atores do setor do óleo de palma da América Central e do México, incluindo pequenos e grandes produtores, processadoras, compradores e a sociedade civil. Por intermédio da MAPA, a Solidaridad articulou uma parceria público-privada para ratificar o acordo de desmatamento zero do setor em Honduras.
As estratégias que implementamos nas cadeias produtivas exigem alianças sólidas para obter resultados. O apoio de investidores de impacto, agências governamentais, patrocinadores públicos e privados, bem como de pequenas, médias e grandes empresas, é essencial para que alcancemos um impacto significativo em escala. Dessa forma, nossas iniciativas podem transformar pequenos produtores em “heróis do clima” que conseguem se sustentar, investem em práticas sustentáveis e resilientes ao clima, praticam uma agricultura sem desmatamento e se tornam parte de um sistema alimentar de baixo carbono.